Dexter Morgan (Michael C. Hall) – analista de padrões de sangue na polícia de Miami durante o dia e um assassino justiceiro à noite. Esta série de oito temporadas, inspirada nos livros de Jeff Lindsay, traz uma lufada de ar fresco às nossas vidas no momento em que a começamos a ver: Miami, o calor, a comida, as praias e tudo mais. No entanto, a personagem que narra os nossos cenários revela-nos o seu lado obscuro de imediato e aí a série adquire um tom quase irónico, mas sempre obscuro.
Na primeira temporada conhecemos um Dexter muito controlado e minucioso. O seu pai adotivo (James Remar), que era polícia, reparou desde cedo nos instintos obscuros do filho e, por isso, delineou com ele uma espécie de conduta para fazer dele um “bom” assassino. A maior regra era apenas matar quem merecesse morrer, mas, para além disso, ensinou-o a esconder provas e a não deixar rasto nenhum para trás. Apesar disso, a partir da segunda temporada, vemos um Dexter cada vez mais descuidado e à beira de ser apanhado, até que na última temporada nos encontramos na ponta de um precipício e onde tudo se pode desmoronar.
É uma série intensa que aposta muito no visual e na simbologia. Dexter que sempre se achou um monstro sem escrúpulos vai ser apanhado na teia dos próprios sentimentos à medida que a sua relação com Rita (Julie Benz) se adensa. O nosso assassino querido começa a tornar-se mais humano e é justamente isso que vai pôr toda a sua existência em causa.

A primeira temporada é das melhores, pois trata-se do aparecimento de um assassino em série muito invulgar pelo qual Dexter desenvolve uma espécie de admiração. Ao longo dos doze episódios somos levados na resolução de um crime que acabará por resolver um mistério na própria vida de Dexter. Esta mistura de acontecimentos e interligação entre personagens está muito bem conseguida e revela-se-nos um verdadeiro plot twist. Diria também que a quarta temporada é quando Dexter perde definitivamente o rumo da sua vida tão meticulosamente planeada, graças à morte de uma pessoa que lhe era intrinsecamente próxima e à “luta” constante com o Assassino da Tríade, que procura arruinar a sua vida.
A personagem mais relevante é, sem sombra de dúvida, o nosso protagonista. Um homem sensato, quase charmoso, cuja sede pelo sangue das suas vítimas conduz a série sempre no rumo certo. No entanto, outras personagens são de louvar e merecem o reconhecimento pelo papel indispensável que têm. Começando com o inspetor James Doakes (Erik King) – um polícia amargurado cuja única coisa que rege a sua vida é o trabalho. Este vai ser uma peça muito importante na história de Dexter, uma vez que é o único que, instintivamente, vê algo de estranho no nosso assassino em série e, por isso, Dexter servir-se-á disso mesmo para seu próprio benefício.
A seguir, temos Rita, a companheira de Dexter que por ter sofrido abusos na anterior relação, não sente a necessidade de contacto íntimo – aspeto que Dexter mantém fora da sua vida. Esta doce e inocente mulher vai despertar os sentimentos que o nosso protagonista julgava inexistentes e vai ser mesmo capaz de construir uma vida com ele. Para além destes dois, temos ainda a irmã adotiva de Dexter, Debra Morgan (Jennifer Carpenter) que acompanha o irmão ao longo de todas as temporadas com uma adoração e admiração quase dignas de amor, sem nunca saber o seu segredo (ou quase nunca).

Por fim, podemos destacar Hannah McKay (Yvonne Strahovski) a companheira de Dexter nas últimas duas temporadas que vem trazer caos e desordem à vida do assassino, cujos segredos têm muito que se lhe diga.
A série é extremamente interessante para quem gosta de policiais com um enredo mais elaborado e com uma história e um destino para cada personagem. Somos levados numa onda de mortes e, mesmo assim, é de admitir que estamos sempre a torcer para que Dexter Morgan nunca seja apanhado. Apesar do final desiludir um pouco – justamente devido ao carinho que vamos ganhando a todas as personagens – a série não deixa de ser algo que ficará para sempre na nossa memória.
Um ritmo muito interessante tanto nas próprias temporadas como na passagem de uma para a outra, e uma capacidade de nunca perder o significado ou o “fio à meada”. “Dexter” é uma série de outro mundo capaz de introduzir novas personagens e retirar outras sem nunca perder a sua índole e a sua verdade.
Existem rumores de uma possível nona temporada, mas o mais certo é ficar-se pelas oito. Dexter não desilude e será, sem dúvida, um programa que ficará para sempre connosco e – espero eu – que ecoará pelas gerações seguintes.