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Porque A Arte Somos Nós

Certas personalidades ganham status de estrelas quando, no alto das suas carreiras, se colocam como faróis para a nova geração. No segmento ator, Dustin Hoffman certamente é um destes. Aos 82 anos, vencedor de dois Óscares, com os filmes “Encontro de Irmãos” e “Kramer Contra Kramer“, o ator é consagrado e é daqueles que chamam para o filme. Você está em casa, agendando filmes num canal cult e eis que aparece “Maratona da Morte” (título português). Você lê a sinopse e lá está: Dustin Hoffman. Pronto: irei ver o filme.

Filme de 1976, este suspense de duas horas e seis minutos, produzido por John Schlesinger, com Dustin Hoffman, Laurence Olivier, Roy Scheider e William Devane, apresenta-nos um estudante de História e maratonista nas horas vagas, vivido por Hoffman (personagem Babe) que é aficcionado pelo tempo do cronómetro, intentando certamente uma maratona vindoura. Este hobby é um alento para o árduo estudo da tese que está a desenvolver, ainda mais que tenta seguir os passos do pai, um notável professor universitário que cometeu suicídio. Estuda na biblioteca e interessa-se por uma mulher “suíça” loura deslumbrante. É aqui que a trama vai apresentando outras histórias não tão dentro da história assim, sendo que somente no final conseguimos ligar os pontos.

Dustin Hoffman (Babe)

Dois velhinhos provocam uma briga no trânsito e passam a fazer das ruas de Nova Iorque pista de kart. Resultado? Envolvem-se com um caminhão de combustível e na colisão, ambos morrem queimados. O enigma para essa ocorrência é a chave de um cofre que um dos velhinhos trazia na mão, vindo de um banco. Na discussão precedente, a troca de ofensas já deixa claro que um era antissemita e o outro judeu.

Um funcionário do governo, interpretado por Roy Scheider (notadamente um excepcional ator) traz uma encomenda a um dono de um antiquário enquanto é vigiado. Na sua volta ao hotel, é emboscado e quase perde a vida, mas consegue eliminar o seu agressor. Ele dá um tempo nas suas atividades e vai visitar o irmão, que, agora começo a ligar os pontos, é Babe.

O estudante de História já está enamorado de Elsa (interpretada pela bela Marthe Keller) e ambos saem para jantar com o irmão figurão, que sofisticado no cardápio, faz o irmão exclamar que aquele jantar pagaria um semestre da sua faculdade. Clima bom, gosto sofisticado do agente do governo até que ele desmascara a falsa suíça. Crise e embate entre os irmãos, o agente já parecia desconfiar que aquela loura era muita areia para o caminhãozinho de Babe.

No aeroporto, desembarca um senhor alemão com olhos azuis de aparência sisuda e as pistas apontam para o facto de ser irmão de um dos velhinhos que morreu no acidente com o caminhão tanque de combustível. Os pontos começam a interligar-se: banco, diamantes, perseguições, complôs, agente duplo e o estudante de História que recebe o moribundo irmão que vem morrer em seus braços, assassinado. Que fique bem claro que a polícia é elemento ausente neste argumento, pois, se fôssemos analisar à luz dos factos, nos perguntaríamos: mas onde está a polícia que não vê nunca um ferido ensanguentado (jorrando sangue) saindo de um ponto a outro sem levantar suspeitas? Mas não sejamos chatos. Trata-se de ficção. Pois bem.

Laurence Olivier (Christian Szell)

Acreditando que o irmão havia segredado algo ao nosso bravo estudante, Babe é feito refém e vítima de torturas inimagináveis, como a do senhor alemão de olhos azuis (nesse ponto já havia entendido, o meliante era nazista). Com uma broca dentária com aquele barulho amedrontador, propõe-se a extrair os dentes de Babe sem anestesia. E realmente, deixa um buraco logo no dente da frente. Babe ficaria constrangido ao sorrir.

E a polícia, nada! Babe consegue fugir, num complot de bandidos travestidos de agentes do governo até que se dá a cena em que ele está na posse da maleta obtida pelo alemão com os diamantes, retirada do cofre do banco. Numa estação de tratamento de água, ele aponta uma arma para o estudante que, numa guinada, consegue arrebatar a maleta e, abrindo-a, dá de caras com a fortuna. Lançando as jóias no esgoto, ameaça o nazista e obriga-o a comer as suas riquezas. Uma a uma, as pedrinhas de diamantes são oferecidas e sentimos o engulho do velho ao engolir a primeira jóia.

Não esperem que a polícia tenha participado em nada disso. Ela está ausente. Babe safa-se e o protagonismo da maratona é ligado ao ponto em que ele consegue escapar a correr. Agora sim, liga-se bem a trama.

Um enredo pobre, até certo ponto, numa história que foi adaptada do livro homónimo de William Goldman, certamente um destes livros ordinários que podemos encontrar num sebo a três euros. Mas que fique bem claro, são importantes também para praticarmos a leitura de descanso, aquela em que não precisamos refletir demais para participarmos na trama.

Acerca do filme, ele é bom. Mais pelos aspectos complementares do que pela história em si. O cenário, as locações, o figurino e a atuação de Dustin Hoffman é justificada, o que por si só nos chama a atenção pela personalidade na qual se transformou.

Vamos correr um pouco? 

Marcelo Pereira Rodrigues

Rating: 2 out of 4.

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