Não devemos ter preconceito contra livros. Foi assim que peguei em “Ponto de Fuga” (Editora Record, 287 p.), do escritor australiano Morris West (1916-1999). As suas credenciais impressionam: traduzido para 27 idiomas, vendeu 60 milhões de cópias em todo o mundo. Disso só fiquei sabendo depois. Concentrado nesta primeira obra que li dele, a trama desenrola-se no mundo executivo de Nova Iorque e Paris, com um CEO que surta após fazer uma grande fusão empresarial e se perde no mundo.
O magnata Emil Strassberger incumbe o seu filho, o bon vivant e pintor Carl, solteiro inveterado, a auxiliá-lo na busca por Larry Lucas, que é casado com a sua filha, Madeleine, irmã de Carl. O CEO não desfalcou a empresa, longe disso, fez tudo com a maior lisura, mas desapareceu e as investigações iniciam-se com a sua psicóloga, Dra. Alma Levy, em Nova Iorque, que já estava a par que ele iria explodir a qualquer momento.

A partir daí, Carl irá peregrinar por várias cidades europeias (Roma, Verona, Como na Itália; Zurique na Suíça) na tentativa de ajudar Larry, ou ao menos passar a história a limpo. A trama é ágil, mas falha na caracterização dos personagens, e a ambiguidade proposta na contracapa do livro apenas se revela de um maniqueísmo simplório, numa narrativa arrastada e chata. Os personagens estão mergulhados na superfície e tudo recai num ‘dramalhão’ de romance com final feliz, onde todas as peças se encaixam e tudo fica mais que esclarecido.
É preciso abrir a mente para lermos coisas novas, diferentes, e neste “Ponto de Fuga” senti o quanto uma narrativa chata nos entedia, sendo que em alguns momentos quase cheguei a cogitar abandonar o livro. Serviu-me apenas para observar algo elementar: nem sempre escritores incensados pelo mercado editorial são bons, alguns passam longe disso. Claro que não devo julgar Morris West por um livro apenas, mas da minha parte o meu interesse pela sua literatura terminou aqui.
Acerca do mercado editorial, infelizmente, nem sempre o conteúdo é o mais importante. Determinados autores que fizeram sucesso com um livro podem vir a publicar um receituário de bolo como romance e ele será publicado, uma vez que desconfio que o nome na capa passa a ser o mais importante. Aliás, determinadas editoras precisam vender o seu “produto”.