OBarrete

Porque A Arte Somos Nós

Ao longo da muralha que habitamos

Há palavras de vida há palavras de morte

Há palavras imensas,que esperam por nós

E outras frágeis,que deixaram de esperar

Há palavras acesas como barcos

E há palavras homens,palavras que guardam

O seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras,surdamente,

As mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras e nocturnas palavras gemidos

Palavras que nos sobem ilegíveis à boca

Palavras diamantes palavras nunca escritas

Palavras impossíveis de escrever

Por não termos connosco cordas de violinos

Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar

E os braços dos amantes escrevem muito alto

Muito além da azul onde oxidados morrem

Palavras maternais só sombra só soluço

Só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados

E entre nós e as palavras, o nosso dever falar.

Mário Cesariny

Pintura de Paul Klee, “Heroic Roses” (1938)

One thought on “Poema: “Ao longo da muralha”

  1. marcelopereirarodrigues diz:

    Parabéns pela profundidade do poema! Palavras, sempre elas!

Leave a Reply

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

%d bloggers like this: