O filme “The Goldfinch“, em português “O Pintassilgo“, realizado por John Crowley, com Ansel Elgort, Oakes Fegley, Nicole Kidman, Jeffrey Wright, Aimee Laurence, Finn Wolfhard, Aneurin Barnard, Luke Wilson e Sarah Paulson. Drama. 2 horas e 29 minutos de duração. Adaptado do livro homónimo, da autora americana Donna Tartt, vencedora do Prémio Pulitzer de ficção em abril de 2014, o filme é um esmero e apela para a relação entre obras de arte e vidas pessoais.
Tudo começa com um atentado no Metropolitan Museum of Art em Nova Iorque, que acaba vitimando a mãe de um garoto (Theodore Decker), interpretado por Oakes Fegley, que vai morar temporariamente na casa da refinada família Barbour (a senhora interpretada por Nicole Kidman é bondosa, compreensiva e um ponto de apoio para ele). Morando de favor, é buscado pelo pai e é aí que já pressentimos que coisa boa não virá. O alcóolatra interpretado por Luke Wilson leva-o para Las Vegas, num deserto de atrações culturais e de falta de afeição.

Mas o abalado menino vê nascer uma flor no deserto, a ver a amizade com Boris (bem interpretado por Finn Woltfhard), um ucraniano que já viveu em diferentes partes do mundo, acompanhando o seu pai que trabalha como mineiro. Essa relação proporciona ótimas tiradas, atitudes tipicamente adolescentes e a introdução ao mundo do álcool e das drogas.
Num outro recorte do filme, observamos Theo já adulto e voltando a viver em Nova Iorque. Este trabalha num antiquário de Hobie (interpretado por Jeffrey Wright), que no passado havia sido um elo após a tragédia no museu Metropolitan, sendo o tutor de uma menina órfã, que também estava no museu no fatídico dia. A trama é complexa acerca da personalidade de Theo e foge do cliché de apresentá-lo como bonzinho e vitorioso. Escorrega nas drogas e no meio profissional vende artigos falsificados. Reaproxima-se da família Barbour e este recorte do tempo só nos faz perceber a elegância de Nicole Kidman.
Todos estes dramas convergem num segredo guardado por Theo, que remete a um importante quadro que dá título ao filme. Subtil, perpassa toda a película e vai entremeando histórias cruzadas complexas e permite até um momento de ação, com tiros, correria e negociação numa trama que é notadamente modorrenta.

Adaptação do livro, e confesso que não li ainda, é chato ficar exclamando: “Este filme não chega nem perto do livro”. Sempre parece uma conversa de intelectual enrustido! Óbvio, um filme não consegue abarcar tudo, mas, analisando “O Pintassilgo”, percebemos uma rede imbricada e o que ressalta é a beleza das obras de arte, as tomadas no museu são excelentes e fizeram-se estar ali, naquele momento. O mistério do “O Pintassilgo” envolve-nos e seduz.
Banda sonora intimista, de Radiohead a Bob Dylan, escolhida por Trevor Gureckis, “O Pintassilgo” capricha no visual e na seleção do elenco, fazendo cada ator não se tornar maior que a história em si, cabendo o protagonismo ao garoto Theo, sendo que a personalidade conturbada do adulto pode fazer parecer ser Ansel Elgort um canastrão, embora eu não julgue isso.
Essa linha do tempo difusa exige-nos concentração e nas entrelinhas saborear duas horas e meia de excelente cinema!