Felizmente, o cinema é capaz de (re)tratar inúmeros temas e de lhes dar um novo e mais amplo significado (poético). Dentro desta poesia, há uma vertente que surge como eterna, quer na arte propriamente dita, quer na maneira como encaramos a nossa vida, como um todo. No seguimento, precisamente, desta reflexão, há certos filmes que surgem como paradigmáticos, no sentido de nos dar uma nova perspectiva sobre a forma como amamos e como o amor é, ao mesmo tempo, tão múltiplo como universal.
Uma das produções que considero mais apropriadas prende-se, como não podia deixar de ser, com o filme “Her“, de 2013, que conta a história de um escritor solitário que desenvolve uma relação com um sistema operativo (“feminino”), criado para satisfazer as suas necessidades mais fulcrais. Este filme de plot inusitado afirma-se, no meu entender, como o romance da década, uma vez que, apesar – ou, melhor dizendo, por causa – de todas as limitações físicas, consegue ir à origem daquilo que mais abrilhanta o amor, nomeadamente, conseguirmos amar o outro além do que é físico e material e, portanto, focarmo-nos na interioridade da relação.

Naturalmente que algo que não é humano terá as suas especificações, por vezes difíceis de entender por parte de nós, mas o amor é precisamente isso: uma adaptação constante, um querer estar perto da vida apesar de ultrapassar as convenções. “Her” é, desta forma, muito mais do que um drama romântico, imergindo como uma película de homenagem ao que é, ou devia ser, mais belo e puro nos dias de hoje.
Por outro lado, e esta produção um pouco mais recente, temos em “La La Land” (2016) uma abordagem um pouco diferente, e não necessariamente menos assertiva, ao amor. Este filme conta-nos a história de dois artistas (um na música e outra na representação) que se apaixonam mas que vêem a sua profissão exigir uma escolha irreparável: o amor ou a realização pessoal (profissional).

É, efectivamente, um pouco mais completo na abordagem que faz à influência que, por vezes, as questões externas da nossa vida têm sobre as nossas relações, nomeadamente, como nos transporta para uma situação de quase termos que decidir sobre a nossa carreira ou a nossa relação, não havendo meio termo possível. Além disso, apesar do título poder indicar que o amor seja um autêntico conto de fadas, a profundidade mais apreciável do filme mostra precisamente que o amor é, feliz ou infelizmente, muito mais do que isso. “La La Land” consegue dar-nos o melhor e o pior deste mundo onde o amor reina, mostrando-nos que, por vezes, este é apenas uma questão de sorte.
Decerto, não se pode deixar de referir a obra “Café Society“, de 2016, que aborda uma relação cheia de altos e baixos entre uma secretária e um escritor, que se vêm em Hollywood como sonho de chegar mais alto na sua vida.

Ou seja, é um pouco no sentido deste último filme referido, mas um pouco mais elucidativo, precisamente, em matéria de nos mostrar como, às vezes, os jogos psicológicos e a intencionalidade que existe de minar relações toma proporções infelizmente muito maiores do que aquelas que a pureza do amor gostaria, mas sem nunca, naturalmente, descorar a magia que este sentimento/emoção tem na nossa vida, na forma como encaramos o futuro e como, dessa forma, passamos a compreender melhor os outros na sua individualidade.
Assim, mostra-nos também como nem sempre é fácil seguir uma carreira sem descorar outras partes do quotidiano, e isso só evidencia como o amor é um fenómeno exigente e que não é para qualquer coração ou para qualquer alma.
Em suma, podemos concluir que o Amor, enquanto fenómeno envolvente da sétima arte e uma das vertentes mais significativas da arte como expressão, tem nestas três películas de qualidade um apanágio brilhante e digno de ser lembrado e dignificado.