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Porque A Arte Somos Nós

Slavoj Žižek é um filósofo esloveno, nascido em 1949, reconhecido pelas suas reflexões no âmbito da psicanálise, do cinema, do marxismo, entre outros temas, além de ser professor do Instituto de Sociologia e Filosofia da Universidade de Ljubljana. A sua primeira publicação em inglês surgiu e 1989, com “O Objeto Sublime da Ideologia“, abordando a psicanálise lacaniana e o idealismo hegeliano. Na década de 1990, o seu trabalho teórico vai sendo cada vez mais reconhecido pela crítica, apesar da sua fama de “radical político”, pela sua forte crítica ao capitalismo, liberalismo e politicamente correcto.

“Se olhas o universo, é um grande vazio”: é desta forma que Žižek resume a sua própria realidade; realidade essa que sofre, fundamentalmente, de uma espontaneidade humana que permite ao equilíbrio desse mesmo vazio sofrer uma perturbação. De que é que advém, na sua visão, essa perturbação? Precisamente, da criação (no sentido lato) que move o mundo, mas que causa um profundo desequilíbrio – (um)a catástrofe dos nossos dias.

No entanto, e perante essa visão mais pessimista, não nega que haja uma reacção, colectiva ou individual, para com essa problemática: a solução resulta de uma espécie de neutralização do erro da criação; neste caso, do amor – que, na perspectiva de Žižek e num sentido formal, não é mais do que o próprio mal, enquanto fenómeno mais universal.

Neste sentido, há que, na sua modesta opinião e perante este óbvio paradoxo, reinventar a utopia, através dos três d’s: desconstrucionismo, distanciamento e dissidência. E isto porquê? “Porque nos sentimos livres, uma vez que nos falta o idioma para expressar a nossa não-liberdade” (“Bem-vindo ao Deserto do Real” [2002], obra de Žižek).

“O Sublime Objeto da Ideologia”
“Bem-vindo ao Deserto do Real”

Em 1990, Slavoj Žižek foi candidato à presidência da república da Eslovénia, nas primeiras eleições democráticas deste país. Precisamente perante a famosa frase de Karl Marx sobre a definição de ideologia, “eles não sabem o que fazem, mas ainda assim o fazem“, Žižek, no seu livro “O Sublime Objecto da Ideologia”, diz: “o nível fundamental da ideologia, não obstante, não é uma ilusão que mascara o estado real das coisas, mas uma fantasia (inconsciente) que estrutura a nossa própria realidade social“.

Relativamente ao tópico da Filosofia, o próprio diz que, na verdade, a sua obrigação não é resolver problemas, mas redefinir problemas. De facto, na sua opinião, o hedonismo de hoje combina prazer com constrangimento, ou seja, deixou de ser a medida certa entre prazer e coacção a mediar os nossos comportamentos, o que revela, concretamente, que é como se a acção e a reacção coexistissem: isto é, o dano comportamental provém do próprio contra-agente.

A partir daqui se levanta o paradoxo de hoje: como se explica que a ausência de lei universaliza a proibição? Muito simples, para Žižek: “Desfruta, é o super-ego“. Slavoj Žižek recebeu em 23 de novembro de 2014 a medalha de honra da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.

Por outro lado, segundo Žižek, o “Real” é um conceito bastante enigmático que se distingue da própria realidade, uma vez que esta está sob uma construção simbólica; o real, pelo contrário, não é simbolizável (isto é, pertence à categoria do indizível e inefável). O real só existe, portanto, como abstrato, mas não se constitui como algo externo à realidade: é, sim, o próprio núcleo que a nossa capacidade de simbolização não consegue alcançar.

Assim, a realidade é, estruturalmente, quase como uma ficção. Ou seja, constrói-se a partir da simbolização limitada de um determinado ponto do real, como o caso do sonho, que permite que entremos em contacto com o que há de mais próximo do real, individualmente.

Tudo isto é demonstrativo da complexidade filosófica e pensadora de Slavoj Žižek, que nos dias de hoje se afirma como um dos pensadores mais importantes, no que diz respeito a todo o tipo de temas, revelando sempre uma mestria anormal, e digna apenas de muito poucos, para interpretar os grandes génios do passado, simplificando-os, numa adaptação à forma como vivemos hoje.

Porque o conhecimento não ocupa lugar.

Tiago Ferreira

One thought on “Slavoj Žižek: a mestria perante o real

  1. marcelopereirarodrigues diz:

    Tiago, o seu artigo é bastante instigante! Confesso que não li nada dele ainda, apenas havia assistido a uma entrevista. Parabéns! O seu texto deixa dicas e pistas.

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