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Porque A Arte Somos Nós

Os Frankie Goes to Hollywood (FGTH) são um exemplo vivo de uma banda que tocou os píncaros do sucesso com apenas dois álbuns de originais editados e praticamente quatro grandes sucessos na década de 1980. E, melhor que isso, esse sucesso prevaleceu no tempo e ainda hoje constituem uma referência nos ritmos de dança. Definitivamente, os FGTH ficaram gravados na pedra do tempo. E ainda bem.

A formação da banda reporta-se ao ano de 1980 na cidade de Liverpool, na Grã-Bretanha, e o seu nome tem origem num cartaz pop art da autoria de Guy Peellaert onde constava a imagem de Frank Sinatra acompanhada da frase “Frankie Goes Hollywood“, daí até à denominação final da banda foi um instante.

Por Guy Peellaert

Os FGTH resultam da reunião de elementos que tinham estado ligados ao movimento punk tão em voga nos finais da década de 70 em Liverpool. O frontman, Holly Johnson, já tinha feito parte da banda Big in Japan como baixista e vocalista, e, depois de várias experiências e mudanças, a banda viria a estabilizar com Paul Rutherford nos vocais, Peter Gill na bateria e percussão, Mark O’Toole no baixo e Brian Nash na guitarra.

Desde o inicio ficou claro que os FGTH não pretendiam ser apenas mais uma banda no panorama musical da tão profícua Grã-Bretanha. O objetivo era romper com a norma trazendo uma nova sonoridade e uma nova maneira de estar em termos de visual e comportamento. Como tal, era de adivinhar que nem tudo iria correr bem, no entanto, algumas guerras que tiveram que enfrentar trariam o devido retorno para a banda, refletido nos prémios ganhos e nas incontáveis semanas de permanência no primeiro lugar dos tops por esse mundo fora.

Tudo começou em Maio de 1983 quando, e após a realização de alguns espetáculos locais e a gravação de uma sessão para a rádio BBC, Trevor Horn (músico e membro dos Buggles) decide aceitar a gravação do primeiro trabalho dos FGTH nos seus estúdios de gravação ZTT Records.

Em Outubro do mesmo ano é lançado o single Relax, por antecipação à edição do álbum “Welcome to the Pleasuredome”, e tudo corria normalmente até Janeiro de 1984 quando Mike Read, radialista da BBC, se recusa a passar o tema alegando ser de “conteúdo obsceno”.

Para além disto, a banda já tinha gravado o vídeoclip do tema e, quando foi visualizado pela BBC, estes recusaram-se não só a tocar o tema na rádio como a passar o vídeoclip, banindo os FGTH do principal meio de divulgação audiovisual da época (de notar que o vídeo original, filmado no Wilton’s Music Hall, era contextualizado num bar gay e representado pela presença do cabedal e de acessórios de submissão de cariz sexual, para além de apresentar um imperador romano quase nu! Foram filmados quatro vídeoclips oficiais para o tema).

Excelentes noticias, não podia ter corrido melhor, dois dias depois os FGTH e Relax estavam no número 1 dos tops britânicos, onde permaneceram por algumas semanas. Escusado será dizer que a BBC não apresentava o número 1 dos tops nos seus canais e no final do ano de 1984 teve que ceder, retirando a proibição. Tudo o que aconteceu até hoje à volta deste tema é história.

Capa do álbum “Welcome to The Pleasuredome”

Em Maio de 1984, é editado o segundo single do primeiro trabalho dos FGTH, Two Tribes, e o sucesso é imediato com o tema a alcançar os primeiros lugares dos top’s britânicos de forma automática. Este, tinha um claro cariz político no seu conteúdo, fazendo uma clara alusão aos dois blocos que se confrontavam durante a Guerra Fria: União Soviética e Estados Unidos da América.

Uma vez mais, o vídeoclip que serve de promoção ao tema é provocador e coloca os lideres das duas super-potências em confronto numa arena, fazendo a assistência apostas em quem será o vencedor, terminando a cena com a suposta explosão do planeta. A juntar a tudo isto, o sucesso de Two Tribes puxa por Relax que ainda se encontrava nos top’s e ambos ocupam os dois primeiros lugares. Um feito alcançado por poucos. Os FGTH estavam na máxima força.

No final desse ano de ouro, é editado o terceiro single ainda pertencente ao primeiro trabalho da banda. Quebrando por completo com os ritmos dançáveis de batida forte que caracterizavam os dois primeiros sucessos, The Power of Love é uma balada poderosa que ainda hoje é escutada como referência. Como antecipadamente previu a própria banda, este viria a ser o seu terceiro número 1, a par com os dois temas anteriores. Um feito também alcançado por poucos, uma vez que conseguem chegar ao primeiro lugar do top com três temas novos sucessivos. Pouco mais há a dizer deste tema, basta ouvi-lo.

O quarto sucesso retirado do primeiro álbum seria o que dava nome ao mesmo, Welcome to The Pleasuredome. Tema essencialmente dançável e que recorre a uma grande variedade de ritmos e trechos falados (com a colaboração do ator Geoffrey Palmer na versão de 12 polegadas) que fazem alusão à mitologia grega. Foram feitas várias versões deste tema, para todos os gostos e feitios. Não alcançou o primeiro lugar dos top’s como os seus antecessores, mas chegaria a numero dois. Nada mau para um álbum só!

Frankie Goes To Hollywood

A história deste primeiro trabalho passou essencialmente por estes quatro temas, no entanto, não devem ser desprezados outros como War, Born to Run (esse mesmo, de Bruce Springsteen) ou The Ballad of 32. No essencial, este primeiro álbum dos FGTH é produzido com muita qualidade na construção dos temas que dele fazem parte, levando muito a sério os ritmos e as envolvências de cada um deles. Demonstra muita maturidade e acerto. É uma obra construída em quatro atos, “Pray”, “Say”, “Stay” e “Play”. Como só a criatividade destes rapazes sabia fazer.

Mais tarde, em Agosto de 1986, é lançado o primeiro single do segundo trabalho dos FGTH, Rage Hard que viria a alcançar o numero quatro do top britânico e pouco tempo depois Warriors of The Wasteland. Este novo trabalho intitulado “Liverpool” apresentava uma linha conceptual bastante diferente de “Welcome to The Pleasuredome”. Na verdade a banda opta por uma estrutura lírica mais conservadora, abandonando de alguma forma o lado mais extravagante que vinha apresentando até aí.

Ainda assim, conseguem alcançar o numero cinco no top de álbuns britânicos. Para além dos temas já mencionados, destaco também Watching The Wildlife e uma excelente balada intitulada Is Anybody Out There?, como parte integrante deste álbum que não tendo o furor criativo do primeiro, é ainda assim um trabalho bastante interessante.

Por esta altura, nem tudo estava bem no seio dos elementos que compunham os FGTH. Holly Johnson entra em conflito aberto com a banda, em especial com Mark O’Toole, com quem chegou a ter algumas discussões algo violentas, e no final da tournée de apresentação do segundo álbum decide abandonar a banda. Tal situação gerou um conflito de interesses entre a editora, a banda e o próprio Johnson que desejava avançar com uma carreira a solo.

Só alguns anos mais tarde a situação ficou resolvida em tribunal, libertando Johnson de qualquer compromisso e por arrasto os restantes elementos da banda. Na verdade, estava terminada a existência dos FGTH tal como os conhecíamos.

Seriam ainda feitas várias reedições e remixes de muitos temas dos FGTH que viriam a alimentar a possibilidade de uma reunião da banda para um novo trabalho, mas tal nunca veio a suceder. Nem sequer veio a ser possível reunir os elementos originais da banda para uma única apresentação pública. Estava selada para sempre a existência dos FGTH como banda.

Apesar de ser claramente conotada como uma banda de cariz gay, pois a maioria dos elementos que a compunham era aberta e assumidamente gay, o trabalho que desenvolveram enquanto existiram é notável. Tal fica indubitavelmente provado com o facto de ainda hoje os temas que acima descrevi serem ouvidos regularmente nas rádios e discotecas por esse mundo fora.

Tendo apenas editado dois álbuns de estúdio, o que teria acontecido se se tivessem mantido no ativo? É uma incógnita, no entanto o que fizeram, fizeram bem e deixaram um legado que os eternizará para sempre no mundo da música.

Sobre a gravação do primeiro álbum “Welcome to The Pleasuredome”

Jorge Gameiro

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