OBarrete

Porque A Arte Somos Nós

Podemos desde logo ficar entusiasmados com a presença de Mickey Rourke (Kaden) no elenco, que acaba por ter um protagonismo relativo, mas é Thomas Ian Nicholas (Ian) que lidera a narrativa de um filme com bastante acção – mais psicológica do que física – de forma não muito confiante, mas agradável dentro de uma história não muito complexa.

A obra é realizada e produzida por Brian A. Metcalf, que também tem um papel activo na película, interpretando o traficante de droga Dante. Tudo começa quando a irmã de Ian, Mia (Kelly Arjen), juntamente com o namorado, pedem dinheiro a Dante e ficam sem capacidade de poder saldar a dívida. O verdadeiro chefe desta “linha de crédito” é Kaden, que exige a Dante, viciado em drogas e mulheres, que o seu dinheiro seja devolvido com juros acrescidos. Como não podia deixar de ser, cabe a Ian ser o salvador de toda esta situação. Este é um jovem adulto que trabalha para uma empresa de transporte privado urbano, com a responsabilidade de sustentar a sua meia-irmã, muito sozinho no mundo e com uma infância algo conturbada – onde teve o seu primeiro contacto com o mundo das armas, quando acidentalmente alvejou a sua mãe no braço. Mãe essa que se suicidou, já numa fase terminal de cancro, momentos após pedir ao seu filho que nunca abandonasse Mia.

O desenrolar da narrativa é algo previsível, contudo, não deixa de ter os seus pontos altos e baixos. Após uma tentativa de solucionar o problema da sua irmã, Ian é surpreendido por uma má decisão por parte de Dante, que acaba por resultar num final infeliz para Mia. Com sede de vingança, o personagem principal vinga-se no traficante de droga, contudo não sabia que estava a fazer um “favor” à organização mafiosa por detrás de todo o negócio. Ian acaba a trabalhar para Kaden, e com isto descobre os verdadeiros culpados pela morte da sua irmã. A verdadeira violência começa aqui e só acaba depois de muitas pancadas com um pé-de-cabra em dezenas de cabeças.

A história revela-se relativamente simples, não havendo consequentemente um grande destaque por parte de algum ator. Em certos momentos, propositada ou não, a comédia é algo incontornável nesta obra. Um perneta ser o escolhido para correr atrás de uma adolescente, ou um só homem munido de um pé-de-cabra ser suficiente para “dar cabo” de pelo menos uma dezena de mafiosos num espaço de cinco minutos, dá que pensar… Mesmo certas cenas, conseguimos desmistificar com bastante clareza as técnicas usadas durante a filmagem, tal como certos planos onde é gravada a traseira da carrinha onde seguem os personagens, e conseguimos reparar nos faróis traseiros da carrinha que leva a câmara de filmar. Pequenos pormenores que nos fazem desviar um pouco do desenrolar da história.

Outra característica dúbia, a certa altura, é o conceito de tempo/acção. Somos confrontados com cenas de noite, que acabam já de madrugada (sol a nascer), mas a ligação com a cena seguinte – onde o mesmo espaço é o centro da acção – parece não ter “andado no tempo”. As primeiras deslocações de Ian ao bar onde se encontra Dante, e os incontornáveis regressos a casa, são um exemplo dessa pequena dissonância temporal. Contudo, os planos feitos durante muitas dessas viagens de Ian por Los Angeles, revelam um excelente trabalho de fotografia por parte de Derrick Cohan. Tal como já referi, o filme tem os seus altos e baixos. Os personagens principais têm um papel relativamente simples, mas destaco mais pela positiva a performance de Thomas Ian Nicholas – mais menções ao passado do personagem, criando automaticamente uma maior ligação com o público. Sendo também Kaden um foco da história, ficamos com a impressão de que o papel de Mickey Rourke poderia ter sido mais bem explorado, tendo em conta este ser um homem experiente com uma posição de poder, e influente na narrativa.

De maneira geral, “Adverse” é uma obra que não prima por um argumento genial, mas faz-nos querer saber o que vai acontecer a seguir: quer seja bom ou mau. O valor da família e a luta intrapessoal são os dois principais pilares que carregam este filme, tornando o resto simples acessórios, que variam entre o bom e o mais ou menos. Como estreia mundial no Fantasporto 2020, a película vem constatar um facto: Brian A. Metcalf tem mais para dar, fazendo prever uma próxima longa-metragem merecedora da nossa atenção. “Adverse” foi apenas um ensaio que correu relativamente bem, com um elenco bastante interessante (entre eles Sean Astin, que tem um papel pouco relevante).

Para mais surpresas como esta no Fantasporto, a programação está disponível AQUI.

Rating: 2 out of 4.

IMDB

Leave a Reply

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

%d bloggers like this: