A julgar puramente por ousadia e audácia, “Jojo Rabbit” tem quase mérito máximo. A tacada de Taika Waititi é de alto risco seja qual for a direcção: assunto, apelo comercial ou mesmo calibração de tom. Nunca foi um realizador que sacrificasse a sua visão, mesmo quando esteve sobre a supervisão da Marvel ao leme de “Thor: Ragnarok” (2017) – que acabou por resultar em mais um fiasco na trilogia do super-herói. Mas agora o tema é o Holocausto, algo significativamente mais sério e, por conseguinte, mais delicado de satirizar.
A narrativa segue as desventuras de Jojo (Roman Griffin Davis), um jovem de 10 anos que está a crescer na Alemanha Nazi. Sozinho e bastante permeável às propagandas ideológicas do seu país – a sua mãe (Scarlett Johansson) trabalha em segredo para a resistência e o seu pai está a lutar além-fronteira – o rapaz acha sentimento de pertença num acampamento militar para jovens. O seu amigo imaginário é nada mais, nada menos, do que Adolf Hitler (Waititi), ou melhor, uma versão parodiada do ditador. No entanto, um incidente encurta o seu tempo no acampamento militar e fá-lo retomar a casa, onde descobre que Elsa (Thomasin McKenzie), uma judia adolescente, vive refugiada no seu lar.
Na sua maioria o filme resulta. Chega mesmo a ser de rir às gargalhadas em certas cenas onde Waititi demonstra irreverência ao ridicularizar os procedimentos do regime ditatorial. Este retrato incrivelmente caricaturado procura fazer pouco daqueles que participaram ativamente em prol de um mundo ariano, um ato que sucede quando analisado pelo prisma do escapismo do entretenimento, mas que não deve ser registado à letra. Isto porque a expansão das ideologias de extrema-direita na sociedade contemporânea é uma ameaça que exige o maior dos zelos. No entanto, os laços mais tocantes em “Jojo Rabbit” estão na relação entre Jojo e Elsa, que por sua vez reflete o objetivo máximo do filme: passar a mensagem de que a tentativa de compreensão quebra estigmas e gera uniões.
Porém, enquanto o filme encontra a sua zona de conforto no humor, é nas questões dramáticas que a narrativa começa a pecar. Principalmente porque Waititi falha em encontrar o ponto de equilíbrio entre a tragédia e a comédia, deixando as sequências mais pesadas desconectadas do tom irónico que conduz a história. Um exemplo onde o feito é alcançado com mais perspicácia remota a 1997, quando Roberto Benigni apresentou o clássico “A Vida É Bela“, que personificou a coragem de um pai na face do terror de um campo de concentração nazi.
Inspirado de forma solta pelo livro “Caging Skies“, da autora Christine Leunens, o realizador converte um romance histórico sombrio em lazer inteligente, mesmo que não acerte no alvo totalmente. Despreocupado com o politicamente correto, “Jojo Rabbit” é um tempo bem passado no cinema, sem qualquer lugar para remorsos e indignações. Pode não equilibrar com mestria a comédia e o drama, mas é como se diz, mais vale um coelho na mão do que dois a saltar.
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