No desporto, tal como na vida, nem sempre o desfecho de uma época se reflete da forma mais justa. Justiça e experiência humana são coisas que nem sempre estão de mãos dadas e, desta forma, muito frequentemente é essencial que tenhamos a capacidade de nos reinventarmos, de maneira a sermos capazes de contrariar as muitas lutas desiguais que existem na nossa realidade.
É este o panorama emocional que atravessa Billy Beane (Brad Pitt), protagonista central de “Moneyball” – em português “Moneyball – Jogada de Risco” (2011) -, que se baseia em acontecimentos verídicos e acompanha as suas desventuras no mundo do basebol. Billy é o director desportivo dos Oakland A’s – uma equipa de meio da tabela –, e, após uma temporada que teve tanto de gloriosa como de frustrante, começa a cansar-se do padrão que o desporto que ama tem vindo a abraçar. O filme é realizado por Bennett Miller e escrito por Steven Zaillian, Aaron Sorkin e Stan Chervin, tendo-se baseado no livro de Michael Lewis, “Moneyball: The Art of Winning an Unfair Game” (2003). A longa-metragem está disponível no catálogo da Netflix.
O currículo de Bennett Miller é, curiosamente, escasso, o que sugere, neste caso em concreto, que este é um daqueles realizadores que só se envolve realmente em projetos que o cativem e lhe digam algo mais profundo, contrariando um pouco aquela que é a essência hollywoodesca, enquanto máquina de fazer cinema – e dinheiro.
No que diz respeito a capacidades económicas, a verdade é que os Oakland A’s revelam alguma fragilidade, acabando por ver constantemente os seus jogadores a serem desviados para as equipas com maior poderio financeiro, e é aqui, precisamente, que começa a primeira de muitas lutas desiguais. Perante esta situação, uma solução que resta a Billy é tentar convencer os seus jogadores a representar o clube, acima de tudo, pelo amor à camisola, mas, num desporto cada vez mais minado pelo dinheiro e transformado num autêntico negócio, essa vertente que o fez apaixonar-se pelo basebol vai começando a desvanecer.

Perante isto, o próprio resolve romper radicalmente com o modus operandi posto em prática no passado, decidindo apostar nos serviços de Peter Brand (Jonah Hill), um jovem licenciado em Economia e estudioso do basebol, naquela que será a sua tentativa de revolucionar a forma de fazer contratações. Com efeito, Billy começa a apostar num sistema complexo de gráficos e estatísticas, de forma a, mais do que construir um elenco de super-estrelas, conseguir fazer crescer uma equipa no sentido mais coletivo do termo, numa filosofia onde impera, acima de tudo, a lógica, o raciocínio e a objetividade dos números.
Com esta convicção e através destas decisões, no mínimo sui generis, Billy sofre bastante contestação por parte dos adeptos e da administração; no entanto, esta foi uma decisão que assenta na sua mais profunda convicção e desejo/impulso urgente de agitar as águas da moralidade do desporto, no qual, até à data, os mais fortes (ricos) simplesmente não permitem o crescimento e prosperidade dos mais pequenos.
Efetivamente, “Moneyball” está repleto de boas mensagens, todas elas pertinentes e com um sentido muito humano e puro. Desta forma, a personagem interpretada por Brad Pitt imortaliza – através de uma bela performance –, concretamente, toda a necessidade de mudança, perante um desporto com princípios errados e pouco dignos. Billy é quem permite, a partir de uma atitude, sobretudo, filosófica, transformar a sua realidade, conjugando paixão com moralidade e humanidade.
O objetivo dele, no fundo, é o de conseguir encontrar certas lacunas no mercado, contratando jogadores cujo valor está, de acordo com o seu método, abaixo da sua real qualidade, de forma a conseguir mitigar a tal luta desigual com os clubes de maior poderio financeiro.

Por outro lado, um dos problemas no que diz respeito a filmes com esta vertente desportiva é, talvez, o facto de por vezes caírem num certo território genérico de clichés, de forma a tentar contrariar certas limitações do seu enredo. Todavia, a verdade é que “Moneyball” tem a audácia certa de, a partir de uma mensagem global inspiradora e profundamente simbólica, fazer mergulhar o espectador numa história altamente realista, detalhista e com um fio narrativo que, por vezes, até dificulta/desafia o próprio filme – condição que, necessariamente, traz qualidade à obra em si.
Assim, desviando-se de um argumento previsível, esta longa-metragem consegue ascender a uma categoria cinematograficamente especial, na medida em que, mesmo abraçando certos – e, por vezes, necessários – lugares-comuns de género, consegue ter uma essência bastante evocativa, inesperada e autêntica. Naquele que é muito mais do que um filme sobre basebol, “Moneyball” traz-nos uma carga emocional muito forte e distintiva, que, com toda a naturalidade, imortaliza uma mensagem de esperança e de alerta sobre a importância da integridade humana numa era pautada, acima de tudo, por uma doença chamada dinheiro.
Por um cinema feliz.
“It’s unbelievable how much you don’t know about the game you’ve been playing all your life.”
Mickey Mantle
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