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Porque A Arte Somos Nós

“Em nome de interesses pessoais, muitos abdicam do pensamento crítico, engolem abusos e sorriem para quem desprezam. Abdicar de pensar também é crime”


Hannah Arendt

A filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975) viveu tempos sombrios e a tragédia de se tornar uma apátrida, mas vislumbrou a possibilidade de um novo começo para a humanidade, enxergando com grande esperança o alargamento do mundo público. Afinal, habitamos um mundo vivo, numa rede com conexões, interrelações, teias, movimentos, fluxo de energia em constante mudança.

Em suas palavras, “ao ingressarmos na Terra como viventes por meio do nascimento, somos condicionados pela própria vida biológica, com os seus ciclos de necessidades imperativas a trabalhar com vistas ao atendimento das demandas corporais sempre com respostas do processo vital. A atividade do trabalho é uma resposta ao mero estar vivo que partilhamos com todos os viventes.” (Arendt, Hannah. A condição humana, 13ª ed, Rio de Janeiro: Forense, 2019, p.27).

Filosofamos não para resolver dúvidas, mas para adquiri-las. O pensamento, produto da evolução biológica, e o comportamento humano agem sempre vinculados a um ambiente físico a partir de uma matriz cultural. Assim, o conhecimento, que conecta a pessoa ao mundo, não é mero saber que contempla o mundo desinteressadamente. Ele se propõe a nos livrar da incerteza, de dominar a Natureza (agora, com limites), de acordo com novos paradigmas, e segurança que pretendemos aplicar a nós mesmos e a toda a realidade. E qual é a realidade que estamos vivendo hoje, em escala planetária? E principalmente no Brasil?

A filósofa política alemã Hannah Arendt

Pensemos juntos: precisamos da ciência mais do que nunca!

A pandemia do coronavírus e as suas variantes, que por mais de dois anos persiste atingindo todos os países, exige soluções urgentes e recursos vultuosíssimos; os conflitos em escala nacional, regional (e agora com eventual conflito internacional entre a Federação Russa e os Estados Unidos e os seus aliados) deixam-nos à mercê de incertezas que se refletem no mercado, no nosso quotidiano, na nossa liberdade de ir e vir e os retrocessos na economia e na qualidade de vida, que são agravadas pelas “revoltas da Natureza” em escala planetária.

No caso da sociedade brasileira, o nosso futuro depende do que fazemos hoje. O que esperar do amanhã? É claro que a ciência vem nos oferecendo um rumo e um prumo para marcar o nosso comportamento social e atitudes coletivas e individuais.

Agora, a questão é: como pensar criticamente? O pensar crítico não depende apenas de frases confortantes, de um otimismo barato e de atribuir todas as soluções da nossa vida ao Divino. Apelar à esperança, pura e simples, é uma ingenuidade sem um pensar crítico, assim como um pensar crítico sem esperança pode nos levar à indiferença, ao cinismo ou resignação. Portanto, não “abdiquemos desse tipo de pensamento”, pois seríamos omissos, nas palavras da nossa inspiradora, “praticaríamos um crime“. Será que o leitor ainda tem dúvidas quanto à importância da Ciência e, mais especificamente, das Ciências Humanas?

No livro de 2020, eu e Grangeia notamos que “uma base filosófica sólida propicia a cada um de nós uma relação mais consciente e racional com o mundo e os outros, pois permite conhecer, desejar e buscar uma vida mais positiva. Antigamente muitos acreditavam que filosofar era só pensar, e pensar é ‘refletir’, é ‘pensar permanente’, criar conhecimento. (…).

À primeira vista, a Filosofia é a capacidade de problematizar. A marca da disciplina ‘não’ é uma posse da verdade, mas sua busca. A Filosofia é, sobretudo, uma ‘atitude’, um pensar permanente. É um conhecimento que questiona o saber instituído. Ela tende a mostrar a realidade dos factos à luz da razão humana.” (RAMOS, Albenides & GRANGEIA, Mario Luis. Conectando as ciências humanas: novos olhares sobre a transdisciplinaridade. Curitiba: Appris, 2020, p.80).

Ora, se a Filosofia é um esforço mais profundo para obter compreensão da vida humana e do ponto de vista de múltiplas dimensões, o filósofo é, etimologicamente, o “amigo do saber”, não o seu dono, o que implicaria uma posição presunçosa. Logo, o bom filósofo ajuda-nos a pensar.

No livro, oferecemos uma contribuição para essa busca da verdade. Realçamos as conexões dentro das Ciências Humanas e delas com a arte, literatura, música e poesia; em interfaces com o seu quotidiano e, via conceitos científicos, construir pontes para entender o mundo sob a ótica transdisciplinar.

Em síntese, o conhecimento serve, então, para dar asas. “Comece buscando o conhecimento científico que lhe engrandece como pessoa. Saber é se descobrir e se enveredar por mentes amplas, fazendo com que você possa dar altos voos sem “tirar os pés do chão”! Comece produzindo conhecimento próprio. Para tanto saiba discutir e questionar o próprio conhecimento científico, os métodos de pesquisa com atitude crítica e autocrítica. (Idem, p.29).

Este texto foi originalmente publicado no site da Revista Conhece-te, sendo aqui republicado com a devida autorização.

Albenides Ramos

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