de mau a pior #4
Da enorme discografia de Elvis, a mais patética corresponde às estandardizadas bandas sonoras dos 50 filmes oligofrénicos que filmou durante a década de 1960, e que só podia entreter raparigas de 15 anos da época. Mas isso não é tudo: em 1974, “Having Fun with Elvis on Stage” foi lançado como um estratagema pelo gerente de Presley, o Coronel Tom Parker, para auto-lançar um álbum de Elvis através da sua própria editora, a Boxcar Records; uma empresa que se formou para gerir os direitos comerciais de Presley, de forma a conseguir lucrar diretamente com o artista.
No entanto, uma vez que Presley foi assinado para a RCA Records, quaisquer gravações feitas pertenceriam legalmente à RCA. Para contornar esta restrição, Parker compilou áudio de Presley a falar; material sobre o qual a RCA não podia reclamar direitos.
Quanto ao conteúdo áudio, este disco risível contém apenas piadas e idiossincrasias que aconteceram ao vivo no palco durante os espetáculos de Elvis, entre 1969 e 1972. Na maior parte das vezes, Elvis fala e parece estar a divertir-se em palco como esperado, e a sua banda e o público parecem estar a divertir-se também. No entanto, eu não me diverti a ouvir isto. A razão é a sua falta de contexto, o ato de stand-up de Elvis está lá e pronto.
Por exemplo, ao minuto 15:17, Elvis diz “You shouldn’t laugh at the handicapped folks.“, depois todos riem. Claro que algo se passava no palco, mas eu, o ouvinte, tenho muita dificuldade em compreender a lógica por trás disso. Tudo isto dura 40 minutos, e em algumas partes do registo, é claro que o abuso de drogas por parte de Elvis estava a afetar severamente a sua atuação no palco. Além disso, este canta “well, well, well, well” inúmeras vezes ao longo do disco, apenas para cortar para o próximo pedaço verbal, o quer que seja que o pobre Elvis está a dizer enquanto esfrega a testa e respira antes de entrar na próxima canção que nunca conseguiremos ouvir.

Ao fim de contas, “Having Fun with Elvis on Stage” é simplesmente um excerto atrás de excerto de Elvis a gabar-se em palco. Não há nada aqui, e isso só faz querer dar cabeçadas na parede cada vez que Presley conta uma anedota sinuosa, ou algo sobre o seu início de vida e as suas aspirações de carreira antes de se tornar cantor.
Claro, há alguns momentos engraçados, mas a sua incoerência torna este disco extremamente aborrecido e indesejável. No entanto, não se pode dizer que o seu marketing seja totalmente desonesto, pois a sua capa tem um aviso claro de “Talking Album Only”. Esta ideia só viu a luz do dia graças ao intuito de ganhar dinheiro, e o recorde chegou mesmo com o 130.º lugar na tabela principal da Billboard 200. Eventualmente, o próprio Elvis, creditado como produtor executivo do álbum, tentou cessar a sua existência, mas versões ilegais do álbum acabaram por ser bastante populares.
Esta crítica faz parte da série “de mau a pior”, um projeto de João Filipe, cuja visão consta na busca da pior obra nos diferentes contextos, quer seja literário, cinematográfico ou musical, mantendo sempre a seriedade de uma análise minuciosa. Quer sejam trabalhos notáveis com uma crítica negativa por parte de profissionais e grande público, quer sejam más experiências pessoais, todas estão aptas de entrar na série. Se porventura o leitor tiver alguma recomendação que gostasse de ver esmiuçada aqui no site, basta deixá-la nos comentários.
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