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Era uma vez uma grã-duquesa que vivia feliz no seu país com a sua família. Um dia, devido a questões políticas, o seu pai concedeu sua mão em casamento a um jovem príncipe que vivia num país muito distante e completamente diferente do seu. Ela não conhecia o príncipe, mas apaixonou-se pela ideia que fazia dele e partiu para a nova terra cheia de sonhos e esperanças para cumprir com o seu dever de membro da realeza.

Porém, ao chegar, qual não foi a sua deceção ao ver as suas expectativas caírem por terra tanto em relação ao príncipe quanto ao país e à sua corte. Apesar disso, o seu senso de dever e o amor que aprendeu a ter pelo novo país, não a deixaram desistir e a princesa suportou uma vida inteiramente diferente da que gostaria de ter tido até o final dos seus dias.

A grã-duquesa Leopoldina Carolina Josefa nasceu a 22 de janeiro de 1797 em Viena, Áustria, filha de Francisco II do Sacro Império Romano-Germânico e de Maria Teresa das Duas Sicílias, sua segunda esposa. Casou-se com Dom Pedro, filho do rei de Portugal Dom João VI e de Dona Carlota Joaquina, quando a família já residia no Brasil (à época uma colónia portuguesa) há algum tempo. Dentro da família, tinha uma maior proximidade com o sogro, convivia bem com o marido e dedicou-se aos filhos, procurando dar-lhes uma educação de qualidade na medida do possível.

Leopoldina num vestido da corte ostentando a Imperial Ordem do Cruzeiro (retrato datado de 1817) / Wikipédia

Como figura pública a sua compostura e habilidade para tratar as pessoas, dos mais humildes aos mais destacados, contrastava e equilibrava a falta de tato do marido que possuía um temperamento mais explosivo e nada diplomático. Durante muitos anos participou da vida política, Dom Pedro confiava na sua opinião sobre o assunto e deixava-a a par de tudo o que ocorria no país; o que foi excelente para a pátria, já que Dona Leopoldina foi uma das pessoas que mais defendeu e trabalhou em prol da sua independência.

A mulher Leopoldina foi alguém que seguia, até certo ponto, as regras da época no que dizia respeito às mulheres; a sua imagem pública era padrão mostrando-se uma esposa abnegada e prestimosa e uma mãe dedicada, mas na intimidade essa imagem desfazia-se e surgia uma pessoa normal com os seus altos e baixos. Quando jovem na sua terra natal, possuía uma maior liberdade de locomoção em teatros e festas e expunha a sua opinião mais abertamente; adorava estar com a família, principalmente a irmã mais velha, a quem escrevia com frequência.

Como todas nós um dia, empolgou-se com a ideia do “príncipe encantado” e quebrou a cara ao descobrir que não era bem assim, mas no caso dela a separação não era propriamente uma opção… Em eventos sociais vestia-se com roupas finas e elegantes, mas na intimidade preferia um vestuário mais simples, frequentemente dando preferência a trajes de montaria, causando estranhamento nas pessoas por usar calças. Não se adaptou tão bem ao clima tropical e principalmente ao tempero local que lhe causava muitas dores de estômago.

O pagamento mensal que lhe fora prometido antes de chegar ao Brasil não era pago, obrigando-a a se endividar constantemente para manter os empregados pessoais e também o auxílio que prestava a inúmeras famílias pobres que a ela recorriam. Tolerava as escapadelas do marido (muitas vezes com uma passividade excessiva) em aventuras com outras mulheres, sempre casos mais rápidos e sem importância, mas não resistiu à humilhação que “o caso Domitila” lhe impôs. A sua saúde piorou cada vez mais até ao seu falecimento a 11 de dezembro de 1826.

Leopoldina, Imperatriz consorte do Brasil. Retrato por Luís Schlappriz, atualmente no Museu do Estado de Pernambuco / Wikipédia

Publicada em 2017, esta biografia de Dona Leopoldina, por Paulo Rezzutti, traz a imagem da “mulher por trás da Independência do Brasil”, numa visão mais íntima da sua vida e também o contexto histórico da época. O livro faz parte de uma coleção que também conta com as biografias de Dom Pedro I, Dom Pedro II e um volume que traz o relacionamento entre Dom Pedro I e Domitila; o autor traz a história num formato mais aproximado de uma compilação de dados do que um romance histórico, o que torna a leitura mais fluida, mas pessoalmente prefiro as biografias que pendem para o formato romanceado.

Gostei de conhecer melhor a primeira Imperatriz do Brasil e descobrir mais uma figura feminina histórica que era muito mais do que a imagem oficial passada através dos livros didáticos; era gente como a gente com qualidades e defeitos que procurou viver da melhor maneira possível diante das circunstâncias e que aprendeu a amar o Brasil e o seu povo, sendo por ele correspondido em reconhecimento, respeito e carinho até os dias de hoje. Convido todos vocês a conhecerem um pouco mais a história nacional, principalmente a dos seus protagonistas para desfazer um pouco os mitos criados ao longo do tempo. Boas leituras!

Este artigo foi originalmente publicado na Revista Conhece-te, no âmbito da parceria com OBarrete. Este texto foi também publicado em formato físico na edição 250 da Revista

Lorena Coimbra

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