“Drive” (2011) conta a história de um motorista (Ryan Gosling) que trabalha como mecânico e ainda como duplo em filmes de Hollywood, enquanto que à noite presta serviços menos convencionais. Ele começa a passar algum tempo com a sua vizinha Irene (Carey Mulligan) e com o filho dela, mas acaba por ver a sua “nova família” ser abalada com o regresso do marido de Irene, que estava preso. O filme é realizado por Nicolas Winding Refn e o argumento ficou ao encargo de Hossein Amini, sendo a longa-metragem baseada na obra literária homónima de James Sallis.
O nosso protagonista tem uma habilidade inigualável enquanto motorista, tratando os carros por tu. Além disso, demonstra uma frieza, uma calma, uma ponderação, que aliadas à sua personalidade algo reservada e ponderada, o ajuda em momentos de profundo conflito (físico ou não). Numa altura pouco objetiva da sua vida, acaba por desenvolver esta relação com Irene, criando desde logo uma conexão simultânea e, também ela, genuína.
Com toda a situação familiar de Irene, ele acaba por ser um escape a toda a sua realidade, criando um conforto e preenchendo o vazio que o seu marido havia criado com a sua ida para a prisão. No entanto, a personagem interpretada por Ryan Gosling nunca tem intenção de interferir na dinâmica familiar, nem de tão-pouco substituir e assumir o papel deixado pelo marido da sua “namorada”. Ele vai sendo muito respeitador, inclusive quando recebe a notícia – repentina – do regresso do marido de Irene.

Contudo, o seu regresso não trouxe coisas boas, como seria de esperar, pondo a descoberto algumas contas por ajustar, aquando da sua ida para a prisão. Neste ponto, o “Drive – Risco Duplo” (título em português) consegue já atingir uma atmosfera muito própria e autêntica, quer através da sua fotografia muito emblemática, quer através da sua banda-sonora muito sui generis e forte em matéria de ambiente.
No que toca ao motivo narrativo, temos aqui um estudo de personagem muito subtil, mas que ainda assim é bastante profundo, criando bastante empatia para com o espectador. Porque, de facto, o código de conduta que envolve o nosso protagonista é o que cria a grande metáfora deste filme: “Drive” no sentido de impulso, motivação, aquilo que nos guia. Nesse aspeto, o nosso motorista apresenta uma consistência sublime, muito por culpa da excelente interpretação de Ryan Gosling.
“Drive” trata-se de uma obra “silenciosa”, uma vez que são poucos os diálogos, em especial do protagonista, mas que, por outro lado, faz questão de fazer barulho nas nossas mentes e corações – e é, porventura, isso que tão bem o distingue e o diferencia. Além disso, os planos fechados e os close-ups aproximam o público do misterioso protagonista, criando uma relação muito próxima com a sua personalidade, humanidade e missão. Ryan Gosling apresenta um atuação minimalista, fria e inexpressiva (no bom sentido), uma vez que é um personagem de certa forma imponente, mas que é, também, violento em determinadas situações, misterioso, fechado, mas altamente altruísta e com uma certa vulnerabilidade – sobretudo com Irene.

Quanto às críticas mais apreciáveis e possíveis no que toca a este filme como um todo, é justo afirmar que falta alguma substância emocional a esta película para, efetivamente, dar o salto. Ainda que dramaticamente consiga ter a substância certa, faltou objetivamente um clímax sentimental à obra em matéria de memorabilidade. O estudo de personagem é de tal forma centrado, que acaba por descorar um pouco a profundidade do argumento. Contudo, mantém imaculado um tom e estilo super convidativos, com mensagens fortes e pertinentes e uma história de superação, de força, de princípios e do nosso propósito.
Numa direção por vezes estranha e não linear, a verdade é que “Drive” nos guia rumo a uma experiência humanamente profunda e que nos ensina a valorizar aquilo que nos dá um rumo, nomeadamente, os nossos instintos e as nossas motivações mais intrínsecas.
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