viva o rock brasileiro #13
1987 vê nascer o 3.º álbum do grupo Kid Abelha e os Abóboras Selvagens. Formado por Paula Toller (voz), Bruno Fortunato (guitarra, violão e teclados), George Israel (saxofone, teclados e voz) e Claudinho Infante (bateria), trata-se do primeiro disco sem a presença do compositor e baixista Leoni, que após discordar com os demais membros saiu para formar o Heróis da Resistência. O reportório de “Tomate” apresenta oito canções:
Me Deixa Falar
Eu Preciso
No Meio da Rua
Dança
Tomate
Leão
Mais Louco
Amanhã é 23
Uma sonoridade pop rock, com ótimas tiradas de saxofone e um ritmo dançante gostoso para se apreciar nos concertos. Criticada por um certo desafino na voz, Paulinha Toller dá o seu recado com muito carisma e, certamente, por ser a beldade que é, encanta fãs que parecem desconsiderar este pormenor. A canção que abre o álbum é quase um desabafo de uma mulher no competitivo mundo masculino do rock. Um dos trechos apresenta:
“O que foi que aconteceu
Nesse mundo masculino
Ora é moda o latin lover
Disfarçado de bom menino
Brasileiros, marcianos
Fazem tanto pra agradar
Mas querem muito, querem tudo
Só não querem me escutar
Me deixa falar, me empresta um ouvido
Me deixa falar, me presta atenção
Se não me escutar, cuidado comigo
Eu perco a razão
Atiro tudo o que eu tenho na mão“

A terceira faixa foi a que primeiro emplacou nas rádios. No Meio da Rua é quase uma chiclete que cola nos ouvidos e a letra é esmerada, com um instrumental afinado e dançante. É uma das que mais gosto na história do conjunto. Vai assim:
“Como é que a moça passa por aqui
Fazendo cara de santa
Ela já tem a vida ganha, não pode reclamar
A solidão é meu passatempo e o sol despertador
De vez em quando ela dorme no chão
Achando a cama muito mole
Eu moro mesmo no meio da rua
Pra mim a vida é dura
Mas meu teto tem estrelas
E no alto um disco voador
Voando sobre o mar
Mudando de lugar
Querendo me levar pra outro mundo
Eu atrapalho seu caminho noturno
Notando seus defeitos um por um
Prendeu seu salto dentro de um bueiro
Perdeu todo o respeito
Vou matando assim meu tempo
Esperando um disco voador
Voando sobre o mar
Mudando de lugar
Querendo me levar pra outro mundo
Mar, mudando de lugar
Voando sobre o mar
Querendo me levar
Pra outro mundo“
“Tomate” tem a ver com um crítico de arte que de tanto observar a fruta viu-a apodrecer e tem uma temática cult divertida. Se o disco arrasta em canções que não pegam muito, não poderia fechar melhor com a excelente Amanhã é 23, e após ouvir este disco fiquei a par de hits dos dois primeiros álbuns e passei a acompanhar a trajetória do grupo.
Este foi o último disco com o pomposo e divertido nome composto. A partir do quarto álbum, passaram a ser conhecidos apenas como Kid Abelha, e até há pouco tempo o grupo manteve-se com o trio Paula-Bruno-George até a vocalista tentar uma carreira a solo. Fim do grupo, com sólidos álbuns e uma carreira com mais de três décadas.
Ao longo da minha vida, fui premiado certa vez com um concerto dos Kid Abelha na minha cidade, no dia do meu aniversário. Marcante demais poder comemorar saltando, dançando e cantando. Um dos grupos de rock mais incríveis da década de 1980.
Se queres que OBarrete continue ao mais alto nível e evolua para algo ainda maior, é a tua vez de poder participar com o pouco que seja. Clica aqui e junta-te à família!
One thought on ““Tomate”, Kid Abelha e os Abóboras Selvagens: Um bom disco”