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O filme “War Machine”, em português “Máquina de Guerra“, tem tudo a ver com a tumultuada situação no Afeganistão atualmente, onde os norte-americanos saíram com o rabo entre as pernas, no episódio que fez lembrar Saigon, no Vietnam. Vamos à película? Lançada em 2017, o drama misturado com humor ácido de 2h02min com a realização de David Michôd (argumento e produção) traz no elenco Brad Pitt (um capítulo à parte), Topher Grace, RJ Cyler, Scoot McNairy, Lakeith Stanfield, Alan Ruck, Ben Kingsley, entre outros.

O ano é 2009 e o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, resolve trocar o general todo poderoso que comanda as tropas do país no Afeganistão. A missão é dada a Glen McMahon (interpretado por Brad Pitt com um indefetível cabelo prateado). O general é austero, mais para si próprio na medida em que é condescendente para com os seus subordinados. Recusa o quarto amplo, ventilado e com TV, pois viera ao Afeganistão para comandar uma guerra, e não para mordomias.

Os seus subordinados técnicos auxiliam-no em tudo, ao ponto de um jovem entendido em Tecnologia da Informação cuidar da sua máquina de barbear. Corre 15 quilómetros por dia numa rotina estafante. A missão é clara: o exército norte-americano deve treinar e formar afegãos para cuidarem do seu próprio país, pois a intenção num futuro próximo é a retirada das tropas.

Brad Pitt (Glen McMahon) e Ben Kingsley (President Karzai)

Mas as suas convicções ficam frouxas quando se depara com os soldados norte-americanos enviados para a área de conflito: imberbes e despreparados, perdidos no meio do nada e numa guerra que não é a deles. Um soldado ousa levantar a voz para narrar o imbróglio. Estão lutando uma guerra absurda, pois para cada rosto que observam no país o sentimento é de revolta e repulsa. O ‘papo’ é reto: que merda os Estados Unidos pretendem ou pretendiam aquando da invasão, uma vez que um povo invadido nunca será um povo recetivo? Destemido o soldado que tem coragem para desabafar.

Engana-se quem pensa que as duas horas passadas na película serão de tensão. Longe disso! Por mais disparatadas que sejam as ações (e elas são muitas), quase sempre a performance austera e canastrona de Brad Pitt nos proporcioná excelentes gargalhadas. Explicando melhor, o canastrão é qualidade do general, pois o ator parece divertir-se nos muitos filmes em que atua. O nosso intrépido general vai em busca de relações diplomáticas e claro, encontra-se com o presidente civil do país invadido, o Sr. Karzai (interpretado por Kingsley).

Logo de caras, parece que a única preocupação dele no palácio governamental é conectar os cabos da sua televisão, o seu blu-ray e claro, assistir ao conteúdo. Quando é convidado para visitar o país de forma a conhecê-lo (nisso o general é bem in loco) afirma que já conhece o país no conforto do seu palácio.

A missão está complicada para o general, às voltas com o comando da Força Maior nos Estados Unidos e os desentendimentos logísticos inerentes. Vê negado o seu pedido para o envio de mais 40 mil soldados e terá que compor alianças, sendo que no final, com a ajuda da OTAN, consegue o contingente. Hilária a cena em que numa missão à Europa, consegue agendar um encontro com o presidente Obama para desfazer algumas rusgas e críticas e lá vem o ator dando nas vistas feito Obama, informando o militar que teria tempo apenas para uma fotografia, pedindo para este sorrir. Mais canastrão do que eu a sorrir.

Brad Pitt (Glen McMahon)

O foco da narrativa desta saga é proposto por um escritor da revista Rolling Stone, Sean Cullen que, para fazer uma pesquisa de campo, acompanha a missão dos militares na Europa e vê de perto o fora de serviço dos rapazes, que bebem desbragadamente e tudo sob o comando frouxo do general. Lembremos: a rigidez que ele exigia de si mesmo. Muito boa a conversa entre o escritor e o general, que o sonda a saber se ele seria a capa da revista, ao que é esclarecido que estão para definir entre ele e a Lady Gaga. A publicação desgosta bastante o comando da tropa e logicamente, McMahon é demitido.

Se a arte imita a vida e se a vida imita a arte, parece que os Estados Unidos não aprenderam com a derrota no Vietnam e, caso tivessem levado a sério um filme de ação estrelado por Sylvester Stallone, “Rambo III“, aprenderiam que John, o Rambo, ganha o apoio dos Talibãs para combater os soviéticos, e a oração professada na película faz entender que não é inteligente suscitar o ódio de um afegão. Lições que ficam para a posteridade: como travar uma guerra num solo inóspito e cheio de cavernas, com guerrilheiros prontos a explodir a qualquer momento? Um sítio cheio de cavernas, onde apenas as cabras sobrevivem e, reforçando, conquistar o quê no meio do nada?

Retornando a “War Machine”, trata-se de um filme que aborda a guerra e os seus desdobramentos de maneira irónica, atribuindo ao presidente Obama a pecha de ser um excelente orador, mas um presidente fraco, que não tinha pulso nem peito para tomar decisões no que toca àquele inferno. Um filme absurdamente real!

Marcelo Pereira Rodrigues

Rating: 4 out of 4.

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