Olhando para os dois primeiros jogos da série “Mafia”, é possível traçar várias características comuns entre ambos. São jogos com grande ênfase narrativa, situados em cidades fictícias americanas durante o século XX. O mundo criado está construído sob a forma de um mundo aberto, onde os jogadores são livres de explorar cidades altamente detalhadas e recriadas a partir da época que tentam retratar. Apesar disso, ambos os jogos são curtos e extremamente lineares, além de praticamente privados de atividades secundárias.
Em termos narrativos, focam-se em protagonistas que, de uma forma ou de outra, encontram-se inseridos em famílias da máfia italiana, onde vão trabalhando de forma a subir a escada social. A jogabilidade é muito baseada no combate (tiro e corpo-a-corpo) e na condução de veículos, seja para a deslocação entre os pontos A e B ou para efetuar perseguições frenéticas e fugas.
Talvez por se destacar dos dois predecessores, “Mafia III” foi desde o seu lançamento recebido com uma atmosfera de desconfiança pelos fãs da série. O jogo avança quase duas décadas após o fim de “Mafia II“, iniciando-se no ano de 1968 em New Bordeaux (cidade fictícia baseada em Nova Orleães). O protagonista é Lincoln Clay, um veterano regressado da Guerra do Vietname ligado indiretamente ao mundo do crime pelo seu pai adotivo Sammy Robinson, líder da Black Mob, a máfia inserida na comunidade negra de New Bordeaux.

O primeiro segmento “Mafia III” retrata os tempos iniciais de Lincoln após o seu regresso da guerra e a sua tentativa em ajudar Sammy com os problemas que surgiram com gangues rivais durante a sua ausência. Após um par de missões que ficam na memória pela sua qualidade, o verdadeiro acontecimento impulsionador da narrativa acontece quando Lincoln é traído pelo líder da máfia italiana que domina a cidade: Sal Marcano, líder da família Marcano.
É após esta primeira reviravolta que o jogo se distancia narrativamente do resto da série. Lincoln Clay decide que, para se vingar da família Marcano, terá que não só assassinar o seu líder, como desmantelar completamente o domínio da máfia italiana em New Bordeaux. Para concluir esse objetivo, o jogo divide-se em três tipos de missões.
Para cada um dos 10 distritos da cidade, o jogador primeiro terá que atacar vários negócios desse mesmo distrito (exemplo: apostas ilegais ou roubos de mercadorias) para fazer com que os subchefes de Marcano (inicialmente em localizações desconhecidas) tenham que dar sinais de vida. O segundo tipo de missão passa por, após localizar estes subchefes, atacar o local onde estes se escondem para os recrutar ou assassinar (com vantagens para cada uma das opções). O terceiro tipo de missões passa por, após controlar completamente o distrito, ir atrás do seu chefe, um dos vários braços direitos de Sal Marcano.

Precisamente pela necessidade de repetir, vezes e vezes sem conta o mesmo tipo de pequenas missões (em localizações por vezes demasiado semelhantes para apresentarem qualquer tipo de variedade), “Mafia III” é uma experiência extenuante, mesmo tendo em conta que os distritos podem ser “limpos” em qualquer ordem. Essa obstinada repetição de jogabilidade é um fator de grande entristecimento, sobretudo quando o combate é extremamente satisfatório e completo. Embora todos os jogos de “Mafia” possuam possibilidades de usar stealth, “Mafia III” é o único onde essa é realmente uma opção viável e aconselhável. Contudo, não há combate que valha quando, das cerca de 40 horas que o jogo demora a ser completamente concluído, três quartos são tarefas repetitivas.
Colocando este grande defeito do jogo de parte, há, ainda assim, adições muito curiosas e bem-vindas. Uma das melhores características do jogo é a necessidade de gerir os próprios underbosses de Lincoln, atribuindo-lhes distritos, que trazem diferentes tipos de benefícios (como a capacidade para cortar linhas telefónicas ou novas armas). A outra adição que acaba por salvar a monotonia do jogo são os três DLCs presentes na “Definitive Edition”, que, embora com uma duração de uma ou duas horas cada um, permitem desenvolver várias personagens e adicionar novas mecânicas ao jogo (como uma vertente de investigação de cenas do crime ou missões em localizações mais exóticas).

Outra razão para muitos jogadores não gostarem de “Mafia III” é a completa descaracterização da condução quando comparada com os outros jogos da saga. Os veículos da época mantêm-se, mas o seu peso e dificuldade de condução é quase nulo (mesmo na maior dificuldade), onde até é possível acionar slow motion para facilitar as curvas, o que aproxima a condução de “Mafia III” dos típicos jogos AAA.
Ainda assim, a banda sonora diegética do jogo, presente sobretudo durante os longos momentos de condução e baseada em hits da época, está melhor que nunca, com um conjunto de canções extremamente reconhecíveis. Na banda sonora incluem-se artistas como The Animals, Jimi Hendrix, The Rolling Stones, Johnny Cash, Janis Joplin, Aretha Franklin ou Steppenwolf, que ajudam a atenuar a condução algo vulgar.
Para finalizar uma crítica onde é fácil identificar vários traços de uma típica relação de amor/ódio, argumenta-se que “Mafia III” é um jogo com muitos altos, mas também muitos baixos e onde o fator de subjetividade acaba por ser de maior importância que noutros jogos já aqui retratados. É uma experiência que resulta bem sobretudo quando o jogador sabe de antemão para aquilo que vai e não está à espera de uma cópia dos dois jogos anteriores da saga. Pode dizer-se, por isso, que “Mafia III” é um jogo sólido no geral, mas um jogo medíocre dentro da série “Mafia”.
Disponível em: macOS, PS4, Xbox One, Windows
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