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Mafia II” é hoje um videojogo difícil de analisar imparcialmente. Se, por um lado, quando foi lançado em 2010 o jogo assinalou a aguardada sequela de “Mafia” (2002), hoje é muito provável que seja jogado após o remakeMafia: Definitive Edition“, saído há menos de um ano. Por esta mesma razão, as expectativas, quer num caso quer no outro, vão ser evidentemente distintas. Enquanto que para quem jogou o chamado “Mafia” clássico, “Mafia II” é, pelo menos nos aspetos técnicos, muito superior (algo natural quando ambos os jogos são espaçados em cerca de oito anos), e quem foi introduzido na saga através de “Mafia: Definitive Edition” irá provavelmente estranhar o downgrade gráfico e sonoro da sequela.

Independentemente de qual a versão jogada anteriormente, “Mafia II” dá continuação à necessidade de contar histórias sobre o mundo do crime americano no século XX. Este segundo jogo da série inicia-se no final da Segunda Guerra Mundial (após um curto prelúdio), contando a história de Vito Scaletta, filho de emigrantes sicilianos, que passou a sua infância em Empire Bay (cidade fictícia do jogo). Motivado por uma juventude de pobreza, Vito entra no mundo do crime ainda adolescente, um ato que culmina com a sua prisão e alistamento nas forças armadas americanas para escapar à pena.

Vito Scaletta (à direita): protagonista de “Mafia II”

Depois de dois anos a combater em Sicília e após ter experienciado o poder da Máfia na cidade italiana onde guerreava, Vito regressa a casa, ansioso por recomeçar e endireitar a sua vida. Quando se reúne com o seu amigo de infância Joe Barbaro, vai percebendo gradualmente que ser um trabalhador honesto não traz benefícios e acaba por juntar-se a uma das três grandes famílias do crime de Empire Bay: a família Clemente.

Várias distinções poderão ser traçadas entre as narrativas dos dois primeiros jogos da saga “Mafia”. Enquanto que no primeiro jogo, a inserção do protagonista Tommy Angelo no mundo do crime acontece abruptamente e por puro acidente, em “Mafia II” Vito Scaletta sempre esteve, de uma forma ou de outra, ligado ao mundo do crime e, portanto, a sua associação às famílias da Máfia sente-se como consequência natural do seu background.

Do mesmo modo, o jogo original narra uma história com uma estrutura mais tradicional e fechada, ao passo que o segundo se aproxima mais de um naturalismo slice of life. Outra das distinções é o aumento do número de personagens com quem o protagonista interage, estando as três famílias do crime de Empire Bay (os gangues Clemente, Falcone e Vinci) representadas com vários intervenientes na narrativa. Tal como no seu antecessor, a história é absorvente e de alta qualidade, não havendo grandes críticas a tecer.

Uma das diferenças de Mafia II” em relação ao antecessor é o elevado aumento do número de personagens secundárias

Narrativa à parte, é no capítulo técnico que as opiniões mais tenderão a dispersar. Sendo inegável que “Mafia II” apresentou um nível de detalhe acima da média considerando a altura em que foi lançado, o recente remaster (denominado de “Mafia II: Definitive Edition”, que serviu de base para o presente texto) não conseguiu transportar os gráficos para o contexto moderno.

Como se já não bastasse, pequenos bugs que não existiam na versão original (agora chamada de “clássica”), estão presentes nesta nova versão. Juntando isso a uma qualidade sonora bastante fraca (apenas desculpada pela fantástica trilha sonora que anima as inúmeras viagens de carro por Empire Bay), o jogador ficará certamente a perguntar por que razão a Hangar 13 não avançou também com um remake do jogo, tal como fez com o “Mafia” clássico.

“Mafia II: Definitive Edition” além do suave polimento visual, nada mexeu nas mecânicas do jogo. O combate mantém-se fiel ao que era na edição clássica, com a vertente corpo a corpo complexa quanto baste (mas ainda assim mais do que em “Mafia”) e a categoria de tiro suficientemente eficaz, embora continue bastante punitiva em termos de dificuldade. Uma nota negativa para o combate de tiro: a falta de personalização nas consolas, onde não só não é possível alterar a assistência da mira (esta fica sempre ativada) como também não existe a opção de mexer na sua sensibilidade (impensável para qualquer fã de shooters).

No novo remaster, o sistema de tiro não foi alterado, sendo que peca por falta de definições de personalização

Para terminar, pode argumentar-se que “Mafia II”, quer seja jogado na sua versão clássica ou definitiva, ajuda a provar que os videojogos, talvez mais do que outros artefactos artísticos, são produtos do seu tempo e da tecnologia contemporânea. Não que isso represente um ponto contra, mas tivesse o jogo sido lançado pela primeira vez em anos recentes e seria considerado algo “injogável” pelos jogadores modernos.

Como o contexto temporal é não raras vezes um fator importantíssimo na avaliação e apreciação de uma obra de arte, deixa-se o incentivo a que “Mafia II” seja experienciado sem esquecer a perspetiva de quem o viveu pela primeira vez há mais de uma década, no cada vez mais longínquo ano de 2010.

“Mafia II” clássico disponível em: MacOs, PS3, XBox 360, Windows

“Mafia II: Definitive Edition” disponível em: PS4, XBox One, Windows

Luís Ferreira

Rating: 2.5 out of 4.

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One thought on “Jogo: “Mafia II: Definitive Edition” – Quanto maior a expectativa, maior a desilusão

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