Recentemente, assisti na televisão a concertos no Reino Unido com jovens e adultos aglomerando-se, bebendo e dançando, retomando a vida há pouco conspurcada por este vírus maldito. Um concerto deixa-nos marcas indeléveis e resolvi, nas restrições atuais no meu país, mergulhar na memória e, ato contínuo, após um fecho de sexta-feira exaustiva no acúmulo das atividades da semana, abrir o vinho chileno, colocar o concerto dos Duran Duran no registo que fizeram na mítica Arena de Wembley e ver-me ali, rememorando o dia em que fui presencialmente ao concerto deles em Belo Horizonte, no quintal de minha casa.
Lembro-me que o acontecimento foi a uma segunda-feira, após a apresentação dos “garotos de Birmingham” num festival em São Paulo, o Lollapalooza. Assisti pela TV à performance dos artistas e foi um aperitivo para a minha ida a BH. Concertos em festivais costumam ser reduzidos, mas uma apresentação a solo proporciona-nos um repertório mais extenso, e aí podemos nos deliciar mais com a atuação. Dispensei o crachá de imprensa na casa de concertos e fui para o meio do público, e ali senti o excelente clima dos músicos.
Já é quase cliché referirmo-nos à banda pelo vocalista, mas o baixista John Taylor parece agigantar-se mais no palco e, ao mesmo tempo discreto, parece ser a alma dos Duran. Lendo a posteriori, fico a saber que foi um dos criadores do conjunto, e inclusive estou atrás de uma biografia escrita por ele e que, tenho certeza, irei gostar muito. Simon Le Bon, o vocalista, é um excelente performer. Voz afinada, segura bem o público cantando os hits e as novidades. Outro fundador do grupo, Nick Rhodes, com a sua engenhosa maquinaria e computadores, teclados e afins, mantém-se sisudo e compenetrado no ofício e Roger Taylor passeia com suas baquetas entre os dedos.
Do concerto em Wembley, mas infelizmente não o de BH, assisto ao guitarrista Andy Taylor no complemento desta icónica banda da década de 1980, responsável por muitos e excelentes clips musicais, verdadeiras obras de arte que chamavam aos álbuns, aos “bolachões” dos LPs e fitas K7. Triste época a nossa que rotula de “brega” aquele período. Avaliando hoje, nos mais de 40 anos de existência dos Duran Duran, sinto integridade e excelência musical, relevância artística e inovação.
Lembro-me agora que à época nas vésperas do concerto, conversei comigo mesmo: “Vá que eu não tenha uma outra oportunidade para assistir ao vivo a este concerto!”. Venci o cansaço e perdi-me ali nas duas horas de abstração. Tenho um amigo que se arrepende até hoje de não ter ido a um concerto dos Queen. Escrevendo o óbvio, com Freddie Mercury, ele não terá nunca essa oportunidade.
Do icónico concerto em Wembley, fácil de encontrar no YouTube, mas sem a qualidade de áudio e imagens (sugiro adquirirem o DVD) consta na setlist:
(Reach Up for the) Sunrise
Hungry Like the Wolf
Planet Earth
New Moon on Monday
Come Undone
A View to a Kill
What Happens Tomorrow
New Religion
Is There Something I Should Know?
I Don’t Want Your Love
Tiger Tiger
The Chauffeur
Beautiful Colours
Ordinary World
Save a Prayer
Notorious
The Reflex
Careless Memories
The Wild Boys
White Lines (Don’t Don’t Do It) (Grandmaster Melle Mel cover)
Girls on Film
Rio
Um pop rock da melhor qualidade. No que pese a saída de Andy do concerto em BH, ao menos fui brindado com uma pegada mais dançante e atual do conjunto, com atualizações, mas sem perder a essência de quem me fez viajar, vibrar e desejar. Assistindo novamente ao DVD, já o fiz algumas vezes, fiquei feliz e orgulhoso de afirmar: “Sim, eu vi estes caras ao vivo!” E desejar retornar em breve a outro, afinal, no fim senti a esperança de que a arte a tudo vence, até a este momento difícil pelo qual estamos a passar e que o futuro breve permita a todos nós, de espírito jovem, independentemente da idade, cantar, dançar, pular e descerebrar. Acredito nisso.
Ah, coisa rara, escrevi o texto tendo como música de fundo… Duran Duran!
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