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Porque A Arte Somos Nós

Com as suas 277 páginas, o livro “Era Uma Vez Lisboa”, do jornalista Luís Ribeiro, publicado pela A Esfera dos Livros, é intrigante. Com o subtítulo “Vidas. Lugares. Paixões. Tragédias. Confrontos. Conspirações. Heróis. Vilões. A Extraordinária Epopeia de Uma Cidade Única Ao Longo dos Tempos“, a capa já chama bastante a atenção. Como brasileiro, é mais provável conhecer Lisboa pelos roteiros turísticos, mas penso que quando passamos a gostar de um país, tentamo-nos aprofundar mais e, além de conhecer pessoas de carne e osso, através da literatura tentamos captar novas impressões e conhecer verdadeiramente algumas marcas indeléveis do lugar.

Assim, o livro de Luís Ribeiro, através de reportagens muito bem explanadas, faz-nos viajar pelas páginas como se estivéssemos numa máquina do tempo.

Um dos subtítulos mais intrigantes é a explanação de como era Lisboa antes de ser Lisboa. Alude à colina de onde se ergueria o imponente Castelo de São Jorge. Conta da cidade que é portuguesa há quase nove séculos, teve uma fase de incorporação romana, manteve a sua independência mesmo no reinado de Castela e chegou a ser ocupada, brevemente, por ingleses e franceses, num acontecimento que para nós, brasileiros, mudaria e inauguraria a nossa Independência.

Acerca dos confrontos, ficamos a saber que a capital de Portugal foi banhada com bastante sangue, tendo o Tejo como testemunha. À época dominada pelos mouros, sofreu investida dos vikings. Por disputas familiares entre pai e filho, quase que um levante ocorreu entre Afonso IV e Pedro.

O escritor português Luís Ribeiro / Visão

Acerca das tragédias, a Peste Negra que dizimou um terço da população europeia atacou a cidade. O Massacre dos Judeus em 1506 levou à selvageria indiscriminada dos novos cristãos, chegando a mais de mil. Acerca do catastrófico terramoto de 1755, já é sabido e registrado até o torpor e reflexão do cínico e frio Voltaire, o iconoclasta filósofo francês. Luís Ribeiro é meticuloso ao descrever os acidentes aéreos e a citar o ciclone de 1941 que varreu a capital.

Acerca das personalidades, deixo a dica para investigarem acerca do Nostradamus português; o icónico Marquês de Pombal; Calouste Gulbenkian (o milionário que a cidade adotou, e que hoje é uma importante instituição humanitária e cultural) e outras figuras.

Sobre lugares, o maravilhoso Castelo de São Jorge, a igreja da Sé e o Convento do Carmo, a Torre de Belém e o Aqueduto das Águas Livres. Tudo com bastidores bastante interessantes de se conhecer.

No capítulo “Conspirações”, todas as descrições sórdidas das intrigas palacianas e jogos de interesses – aqui fiquei a saber que o visionário e grandiloquente Marquês de Pombal “lavou suas mãos” sendo sabedor de uma injustiça contra a família Távora. Quando a monarquia cai e aparece a República, mais tramoias e trapaças, tudo pelo desejo de aspirar ao poder. O roteiro é sempre o mesmo. Luís explica o atentado a Salazar e a derrocada do regime autoritário, para o cenário que temos hoje.

O escritor Marcelo Pereira Rodrigues em Lisboa

Sobre heróis, cita os santos mártires, aventureiros, Martim Moniz (mito desfeito pelo autor Alexandre Herculano) e os Mártires da Pátria. Acerca dos vilões, apresenta-nos o maior assassino português, Diogo Alves, com as suas 70 mortes nas costas (um Rambo aportuguesado, com a explicação de que John Rambo estava numa guerra); o finório Luís Augusto Pereira (uma espécie de DiCaprio no filme “Apanha-me Se Puderes“) e temos até um Estripador na década de 1990.

Sobre paixões, este sentimento tão aflorado no povo português, temos as habituais aventuras dos monarcas e amantes; aventa à história do conde toureiro e a prostituta fadista, com o livro a findar de curiosidades, deixando-nos ao final com aquele gosto e sensação de que a obra não se acaba. Após lido, certamente permanecerá na mesinha de cabeceira ou mesmo no sagrado altar que são as casas de banho para meditarmos enquanto fazemos as nossas necessidades fisiológicas, entremeando a tarefa com a releitura de certos trechos. Esclareço que a casa de banho é um dos meus santuários prediletos.

Deixo-lhes pistas a título de chamariz para que leiam o livro. A experiência do jovem escritor jornalista leva-nos pela mão de forma a nos apresentar uma cidade que a muitos pode ser muito bem denominada “LisÓtima”!

Marcelo Pereira Rodrigues

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