OBarrete

Porque A Arte Somos Nós

Os jogos de plataformas (também chamados de platformers) incluem-se num grupo que acompanha os videojogos desde a sua génese e que se afigurou como um dos primeiros grandes géneros do meio. Se há algo que justifique a sua popularidade, esse algo talvez seja a sua simplicidade. Na sua essência, os jogos de plataformas tipicamente requerem apenas que uma personagem seja movida do ponto A para o ponto B, usando diferentes habilidades (por exemplo: saltar, correr ou escalar). O principal desafio dos platformers encontra-se comummente no próprio ambiente, através de terrenos irregulares ou de elementos móveis.

Grandes clássicos como os jogos das séries “Super Mario Bros.“, “Sonic the Edgehog” ou “Metroid” marcaram e continuam a marcar várias gerações de gamers em todo o mundo. Nos dias de hoje, na indústria indie os jogos de plataformas mantêm uma grande presença no mercado, dada a sua simplicidade e a ubiquidade do género. Olhando para os últimos anos, poucos platformers têm sido tão bem recebidos quanto “Celeste”, trabalho da pequena equipa do estúdio Matt Makes Games (renomeado posteriormente para Extremely OK Games), lançado no início de 2018 para as principais plataformas.

“Celeste” é um jogo de plataformas em 2D em estilo retro

“Celeste” é um platformer em 2D que procura imitar o estilo retro e onde o jogador controla Madeleine, uma jovem que tem como objetivo escalar e chegar ao cume da Montanha Celeste. A subida torna-se cedo uma missão árdua, quando Madeleine percebe que uma estranha entidade lhe causará mais desafios do que aqueles que já são motivados pelos obstáculos mortíferos da própria montanha.

Para fazer face aos desafios de plataformas, o jogador pode fazer uso das três principais habilidades de Madeleine: a capacidade de saltar, escalar paredes e de usar o movimento de dash, cada uma com as suas vantagens e desvantagens. O salto, embora sendo o movimento mais simples e sem limites de utilização, pode tornar-se limitado, dada a curta impulsão da protagonista. O movimento de escalada é útil para movimentos completamente verticais, contudo, Madeleine possui uma resistência limitada e irá cair caso a mesma se esgote. Por último, o grande aspeto diferenciador do jogo é a forma de utilização do dash.

Este poderoso movimento permite ao jogador percorrer grandes distâncias num curto espaço de tempo premindo o respetivo botão, seja numa posição estacionária ou a meio de um salto. Talvez por ser a habilidade mais poderosa, é também a que acarreta mais dificuldades. Não só este é um movimento explosivo e difícil de controlar (pois até ser completada a animação, o jogador não pode controlar a personagem), como também só pode ser efetuado uma vez até que Madeleine volte a tocar no chão ou obtenha certos itens durante o movimento. Deixa-se a nota de que esta mecânica é brilhantemente animada e identificada, onde o cabelo de Madeleine muda de cor para representar o estado de (im)possibilidade de uso do dash.

O movimento de dash permite ao jogador usar momentos de grande impulsão, embora este acarrete dificuldades

Em qualquer videojogo de plataformas, sobretudo nos de duas dimensões, grande parte do sucesso do jogo está diretamente relacionado com a sua capacidade de tornar a personagem principal satisfatória de ser usada. Um sistema de física descuidada, controlos não responsivos ou movimentos imprecisos são elementos nocivos no design de qualquer jogo deste tipo. Logo, mesmo ignorando outros fatores, é essencial que estes detalhes estejam parametrizados corretamente.

É por isso um elogio obrigatório a “Celeste” o de que os controlos são extremamente rigorosos, precisos e responsivos. Jogadores com alguma prática conseguem colocar Madeleine exatamente onde querem, saltar de plataforma em plataforma com fluidez e precisão. Estando estes elementos presentes num jogo que apresenta desafios intensos e complicados, é uma lufada de ar fresco perceber que a única barreira para o sucesso é a skill do jogador em vez dos erros mecânicos ou físicos.

Ainda que “Celeste” seja efetivamente um jogo criado para ter uma dificuldade elevada, os criadores tornam alguns aspetos mais permissivos para possibilitar qualquer pessoa jogar e completar o jogo. A história principal do jogo apresenta desafios de uma dificuldade moderada, podendo o jogador posteriormente desbloquear versões alternativas dos vários capítulos (as chamadas B-Sides e as ainda mais infernais C-Sides), bem como usar o Assist Mode, que permite alterar fundamentalmente o jogo e permitir a Madeleine ter dashes infinitos ou desacelerar a velocidade do jogo.

“Celeste” apresenta desafios para todos os níveis de skill

Num sentido estritamente focado na jogabilidade, “Celeste” é, por si só, um platformer fantástico, acessível para jogadores de diversos níveis de maturidade e com opções de personalização para pessoas menos versadas em videojogos. Contudo, não podem ficar sem referência outros aspetos do jogo que o complementam e que o elevam para um patamar que vai além do simples jogo de género.

Ao longo do mesmo, sobretudo nos interlúdios entre capítulos ou níveis, uma narrativa focada na jornada de Madeleine vai destacando traços da sua personalidade e vai-lhe permitindo lidar com a sua depressão através de diálogos com as personagens que vai encontrando e com a sua própria sombra. É uma história que discretamente vai ganhando empatia por parte do jogador e que acaba por ser um dos fatores que também ficam na memória depois de terminar a campanha principal do jogo.

A sua banda sonora é omnipresente e serve como fundo para os tensos momentos de jogabilidade em que o jogador tem que enfrentar desafios mortíferos. Embora possa passar algo despercebida, a banda sonora de “Celeste” é das melhores dos últimos anos, com um leque de variadas melodias que encaixam na perfeição com a temática a ser apresentada pelo capítulo em que podem ser escutadas. Todos estes fatores contribuem para a curiosa dualidade de “Celeste”: a de que embora seja um videojogo de elevada intensidade, não deixa de ser uma experiência relaxante e edificante.

Disponível em: Linux, MacOS, Nintendo Switch, PS4, XBox One, Windows

Luís Ferreira

Rating: 4 out of 4.

Se queres que OBarrete continue ao mais alto nível e evolua para algo ainda maior, é a tua vez de poder participar com o pouco que seja. Clica aqui e junta-te à família!

Leave a Reply

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

%d bloggers like this: