“Quando estiver no início, não fique obcecado com o meio do caminho, porque ele será diferente quando você lá chegar. Procure um ponto de partida sólido e um destino sólido e ponha-se a caminho”
“A Guinada”
Estimado leitor, certamente você já se deparou com esta pergunta, tanto na sua vida pessoal quanto profissional: porque é tão difícil mudar os hábitos comportamentais? A minha última aquisição numa livraria foi o livro “A Guinada”, com o subtítulo “Maneiras simples de operar grandes transformações” (Best Business, 2010, 293 p.), dos irmãos Chip e Dan Heath. Chip é doutor em Psicologia, palestrante e já prestou consultoria para empresas como a Nike ou a Microsoft. Dan é membro do conselho da Duke University’s Center for the Advancement of Social Entrepreneurship (CASE) e foi consultor para a Aspen Institute. O livro foi um bestseller do New York Times.
A premissa básica do livro é a metáfora do condutor, do elefante e do caminho a ser percorrido. É necessário ter uma vontade férrea para manter as decisões atinentes à mudança. Não basta eu desejar uma coisa hoje, outra coisa amanhã, etc. É necessário firmeza nesses propósitos. E o que é mais importante: comemorar os pequenos passos e confiar piamente que “caminhar é que faz o caminho”.
O elefante é o animal teimoso que insiste em empancar e, se não tiver um pulso firme do seu condutor, certamente irá empancar. É necessário pulso firme de forma a mantê-lo na direção desejada. Acerca do caminho, isso me remeteu ao filósofo Gato no livro “Alice no País das Maravilhas” (se não sabe para onde deseja ir, todo o caminho não o levará a nenhum lugar).
Todos sabemos o quão somos resistentes às mudanças, mas, com as primeiras conquistas e se conseguirmos dessa forma formar novos hábitos, mesmo que seja pequena essa mudança, fará uma grande diferença. O livro é recheado de exemplos de pessoas e instituições que arriscaram em mudanças e obtiveram êxitos, sempre ressaltando os pequenos passos que pavimentaram a estrada. Dividido em 11 capítulos, com acréscimos de leituras recomendadas e notas explicativas, foi com deleite que li em média um capítulo por dia.

Exemplos dos mais simples são narrados: mudança de comportamento de alunos do Ensino Médio desordeiros; tornar uma cidadezinha dos Estados Unidos mais aprazível e fazer os seus moradores terem orgulho de morarem nela; dieta saudável (porque é bastante simples fazerem as pessoas consumirem o leite desnatado ao invés do leite gorduroso: simples: no supermercado, nunca trazer para casa o produto a ser evitado, nem salgadinhos ou guloseimas);
Alterar a mentalidade dos médicos e enfermeiros que incorriam em risco para os seus pacientes; consciencializar a população de modo a preservar o papagaio nativo na ilha de Santa Lúcia; advertir para os senhores “benfeitores” que na Tanzânia espalhavam a AIDS por transarem com adolescentes sem preservativos; fazer o cônjuge mudar as rotinas irritantes e mais uma série de coisas que nos apontam para a observação de pequenos atos.
Um dos exemplos mais brilhantes que li no livro foi acerca da prospeção de poços de petróleo. Na década de 1980, as principais empresas do ramo admitiam a prospeção e claro, muitas delas davam em nada. Mas era um departamento fortíssimo e o departamento sempre poderia aventar o trabalho, afirmar que haviam insistido naquela etapa e que no final, infelizmente, detetaram o poço sem petróleo. Até que uma companhia decidiu que não haveria mais tolerância para as prospeções em poços secos, e a partir desta norma “absurda”, os ganhos foram sentidos e as tarefas tornaram-se mais assertivas.
Fiz uma analogia e percebi na minha função de agente literário (trabalho prospetando e intermediando contatos entre autores e editores) que não perderia mais o meu sagrado tempo escavando poços secos. Resumindo: não perder o meu tempo à toa. Também aprendi e estou tentando mudar aos poucos uma prática infrutífera: a de elaborar relatórios para mim mesmo, e ter percebido que nunca os leio. Assim sendo, a pergunta básica é: Porquê escrevê-los?
Enfim, a partir da leitura de um livro podemos dialogar, aprender e ter assim um sentido prático e pragmático para as nossas tarefas. Recomendo a leitura e reforço a tese para que se atentem à equação condutor-elefante-caminho a ser percorrido. A lição que fica é que não basta ter vontade, é necessário discipliná-la e ter um mapa acerca da estrada a ser percorrida. Boa viagem!
“Se o condutor não souber exatamente que direção seguir, tende a fazer o Elefante andar em círculos. Como veremos, essa tendência explica a terceira e última surpresa sobre a mudança: o que parece ser oposição, em geral, é falta de clareza“
– Trecho do livro