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Porque A Arte Somos Nós

O filme “Niños Somos Todos” é um documentário de 95 minutos dirigido por Sergi Cameron, de 2019, e que participou no Porto/Post/Doc, o Festival de Cinema da Cidade do Porto. Um artista da cidade de Elche, Espanha, Iván Leopardo, viaja para a Bolívia em busca de musicalidades e troca de experiências com o flamenco, e já no início somos convidados a viajarmos juntos. Primeiro, pelas características geográficas do sítio, em cidades encravadas aos pés da Cordilheira dos Andes, com paisagens deslumbrantes. A genuidade de um povo e a sua rica cultura, daí a troca e experiências que somam bastante ao espírito inquieto do Niño de Elche.

No percurso, o artista encontra um músico eletrónico e troca experiências; encontra Puga, um músico que produz um som de música clássica com o auxílio de folhas e da boca. Apenas isso. Sublime! Todo o cerne do filme é a musicalidade, entremeada apenas com os bons diálogos e cenários encantadores, apesar de por vezes serem rudes e secos. Quando se encontra com uma família de amish, que não conhece rádio nem televisão, e criam os seus filhos longe dos ruídos da civilização, consegue ouvir sons que se transformam em músicas, como na granja com as suas centenas de pintos e, mesmo a observar as estrelas, no silêncio da noite, produz esta musicalidade.

“Niños Somos Todos”

Nos restaurantes sórdidos bolivianos, comensais dividem o espaço com os músicos que se apresentam entre as mesas, em busca de um trocado. Tipos bastante peculiares, esbanjando alegrias e bebendo do copo dos frequentadores. O artista espanhol vai entrevistar um deles, e fazem um som que só empresta a troca Espanha – Bolívia. Tal como é referido na sinopse da obra “o documentário acaba por ser uma libertadora performance alusiva a El Niño, com a vontade de escapar de uma sociedade condicionada por cânones e ortodoxia“.

Na região árida, com as suas lhamas e alpacas, e à medida que vamos conhecendo as características de um povo, muito rico também no seu artesanato, vamo-nos desprendendo de luxos e imergimos na película de tal forma que nos custa retornar. O encontro com os mineiros, que relatam as duras condições de trabalho nas cooperativas, a passagem de um gravíssimo acidente na estrada, quando frangos engaiolados foram arremessados para a via rodoviária, a sopa de peixe e a visita a uma orquestra na igreja, com um esforçado e talentoso professor ensinando às crianças, enfim, tudo isso são cenas marcantes e pueris que nos vão cativando ao longo da narrativa.

“Niños Somos Todos”

Da lição que fica, é acerca da tradição e da cultura de um povo, que se mantêm mesmo sendo colonizados e por vezes forçados a aderirem ao gosto comum de quem se acha no direito de subjugá-los. O povo andino tem essa característica de forte preservação cultural, e a sua música, que permite até fazer apresentações em cemitérios, para saudar ao ente querido que partiu, é um traço marcante.

De tudo o que apreendi, e que nos pode servir de lição, é para que possamos despojar-nos dos nossos preconceitos e que possamos entender que a nossa cultura é apenas uma das várias que existem por aí, mesmo que, num primeiro momento, nos possa parecer tribal e estranha, existe e as danças e roupas típicas atestam isso mesmo.

Um filme excelente e reflexivo!

Este filme foi exibido no Porto/Post/Doc no dia 27 de Novembro (sexta-feira), às 20:15 horas, no Passos Manuel.

Marcelo Pereira Rodrigues

Rating: 4 out of 4.

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