OBarrete

Porque A Arte Somos Nós

Com uma visão artística muito própria e prolífera quer nos conteúdos que produz como na forma como os apresenta, Patrícia de Sousa é uma artista qualificada de técnicas mistas. A sua experiência deriva da pintura e desenho mais tradicional até ao digital, passando pela ilustração, banda desenhada, pintura de murais, animação, edição de vídeo e imagem, tal como character design e concept art.

Depois de completar o ensino médio no curso de Artes Visuais na Escola Secundária Eça de Queirós, em 2015, a jovem criativa aprofundou a sua arte no curso de Artes Plásticas na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, em 2020. A pintura e a multimédia tornaram-se assim as suas habilidades mais vincadas.

Ao longo do seu trajeto académico participou em vários projetos, exposições, e foi publicada em sites e revistas. A título de exemplo, levou a sua curta-metragem de animação – “Coisas que brilham no escuro” – ao Festival de Cinema M Film Festival, em 2018, e criou, ilustrou e programou o jogo “The Chronicles of Skull“, em 2019. A propósito de uma entrevista, foi publicada no site “Vacant Museum“, em 2020.

OBarrete foi ao encontro da artista com o objetivo de conhecer melhor quem é Patrícia de Sousa, assim como as atividades pelas quais se expressa.

Ilustração digital disponível em
https://cargocollective.com/apatica/Illustration

As Artes Visuais fazem parte da tua vida desde pequena? O que é que espoletou o interesse?

R: Desenho desde que me lembro de saber segurar num lápis. Não sei se foi por ser filha única, ou por ter poucos amigos enquanto crescia, mas sempre me refugiei muito nos cadernos e nos rabiscos. Sinto que fui criando um universo paralelo na minha cabeça para onde podia fugir sempre que o mundo real fosse aborrecido demais. O meu tio e a minha mãe quando eram novos também gostavam de desenhar apesar de não terem explorado esse sonho, e, de certa forma, ver esses desenhos antigos também me pode ter influenciado a tentar.

Quais foram as tuas maiores influências artísticas no período da adolescência e quais é que são os criativos que atualmente te deixam de queixo caído?

R: Pelo que referi acima, ao mesmo tempo que desenhava sempre me fui refugiando também na música, em livros e no cinema, por isso sinto que esses também são pilares de fundação na minha prática. Portanto quando penso em artistas que vi enquanto crescia, que me fizeram querer desenhar, não me ocorre nenhum. Mas sei o que senti quando vi Kubrick ou Lynch pela primeira vez, ou o que senti quando ouvi Bowie ou Iggy Pop, e sempre foram mais essas personalidades “larger than life” que me fizeram acreditar que eu também podia ser eu mesma enquanto criadora de algo.

Atualmente, faz-se muita coisa boa e louca, quanto mais caótico melhor para mim. Artistas como Never Brush My Teeth, Mags Munroe, na vertente mais divertida, Alex Ross ou Nick Derington a nível de composição e ideias dentro do mundo dos comics, Karl Kopinski enquanto amante do desenho. Na música, a importância e urgência dos Idles, que tem levado o meu processo criativo ao colo, ultimamente. E no cinema, uma saturação dos mesmos loops de material do Lynch, Tarantino, Lars Von Trier, Ari Aster, Kubrick, ou qualquer outro storyteller que provoque alguma coisa em mim.

Página da Banda Desenhada – Desolation Dirtbags
Capa da Banda Desenhada – Desolation Dirtbags

O teu trabalho, seja em formato manual ou digital, transparece muito a tua marca. É fácil olhar para um desenho ou uma curta-metragem e identificar que pertence à Patrícia de Sousa. Tendo isto em conta, como é que descreves o teu processo criativo?

R: O meu processo criativo vai variando de projeto para projeto, mas na maior parte do tempo é bastante aleatório. As ideias às vezes surgem na minha cabeça de forma muito clara e final, outras vezes vão surgindo aos pedaços e eu vou tentando apanhar o melhor que consigo e fazer alguma coisa acontecer. No outro dia adormeci no sofá, e quando acordei tinha o título, conceito, e estilo geral do meu segundo livro na cabeça, por razão nenhuma. Enquanto que o primeiro, no qual ainda estou a trabalhar, tem sido um processo lento e doloroso, e num ano já mudou vezes sem conta.

Quanto a transparecer a minha marca, sinto que não há o mínimo esforço da minha parte para isso acontecer, simplesmente faço o que faço, como sei fazer e como gosto de ver feito. Nunca existiu a pretensão de encontrar uma “linguagem específica”, e talvez por isso mesmo ela tenha surgido mais naturalmente.

Quando pintas, ilustras ou concebes, há alguns sentimentos específicos que procuras evocar no observador?

R: Gosto da ideia de alguém olhar para o meu trabalho e dizer “uau que fixe”, mas sinto que sempre foi mais importante fazer as coisas que EU gosto e que EU acho que são fixes. Sempre fui apologista da ideia de que se fizermos aquilo que gostamos e se continuarmos fiéis à nossa voz, eventualmente alguém se vai identificar e gostar. E se pelas minhas palavras ou trabalho conseguir passar um bocado esta ideia, fico feliz. Resumidamente, penso que trabalho primeiramente para mim, porque simplesmente preciso de o fazer, e se as pessoas gostarem é um bónus, mas a reação delas não é a primeira coisa em que penso.

Sentes que és uma artista que pende mais da inspiração ou do método?

R: Ambos fazem parte. Há uma tendência de romantizar a inspiração na vida artística, que me tem vindo a incomodar. Percebo-a perfeitamente, e também dependo dessa mesma inspiração, mas a partir do momento que desisti da faculdade, vi-me obrigada a criar e insistir num tipo de método disciplinado. A verdade é que não preciso de saber o que desenhar, para desenhar, e quanto mais o fizer mais depressa será estimular tudo para que a inspiração apareça. É fácil procrastinar e ficar à espera de ideias divinas, mas é igualmente fácil decidir que o que fazemos é um músculo que se trabalha.

Patrícia de Sousa

Tendo em conta a diversidade de artes pelais quais te expressas, se tivesses de praticar apenas uma para o resto da tua vida, qual seria? Porquê?

R: Penso que desenhava para sempre, independentemente do fim que fosse. Foi o início de tudo, é a base de tudo o que sei e faço, e remete-me sempre à inocência inicial de rabiscar em guardanapos ou cadernos de linhas. E é a coisa mais básica e bonita que me acompanhou sempre, e que abrange possibilidades tão vastas.

O que é que te mantém acordada à noite?

R: Demasiadas ideias ao mesmo tempo, demasiada vontade de as concretizar todas “para ontem”, e um medo incontornável de que me aconteça alguma coisa às mãos ou aos olhos e que me incapacite de trabalhar.

Se o dinheiro e o tempo não fossem impedimento, qual seria o teu projeto de sonho?

R: Acho que concretizava todas essas ideias que me mantêm acordada à noite. Realizava filmes muito estranhos de certeza. Outro projeto de sonho que se torna impossível por esses fatores externos é a criação de um espaço físico que promova exposição, trabalho, e diálogo entre artistas emergentes de uma forma dinâmica, num sentido de ajuda e colaboração. Sei o que é querer ter uma voz, e por isso mesmo acho importante a criação de projetos deste género.

Contactos disponíveis

E-mail: apatapatica.com

Site: cargocollective.com/apatica

IG: @a_patica

Bernardo Freire

Leave a Reply

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Discover more from OBarrete

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading