O filme “O Cântico dos Nomes” (“The Song of Names”), do realizador François Girard, traz no seu elenco Clive Owen, Tim Roth, Catherine McCormack, Eddie Izzard, Jonah Hauer-King, Julian Wadham, Richard Bremmer e Saul Rubinek. Drama com duração de uma hora e 53 minutos, o filme canadense e inglês conta a história de um violinista jovem que desapareceu às vésperas da sua grande apresentação para a sociedade inglesa. A película é baseada no romance de Norman Lebrecht. Vamos esmiuçar a temporalidade do filme? Pois é isso que perfaz a sua beleza nas suas passagens históricas.
No início dos anos 1940, uma família polaca deixa o seu filho com uma família inglesa, uma vez que o garoto Dovidl Rapoport é um virtuoso no violino, ao mesmo tempo em que se entende como um génio, simples assim, e claro, Inglaterra ofereceria muito mais oportunidades do que o país do Leste Europeu. Martin é o filho da família inglesa que vê da noite para o dia o seu quarto dividido e apesar da implicância mútua, acaba por ganhar mais que um amigo, um irmão.

A Inglaterra está em guerra com a Alemanha nazi e as cenas do pós-bombardeio são muito bem feitas. Dovidl perde o contato com a sua família, apesar do esforço do seu padrinho, pai de Martin, que vai até à Polónia averiguar. O filme inicia-se com o auditório do teatro lotado, faltando apenas o jovem Dovidl, 21 anos, que simplesmente não dá a cara. Ingressos devolvidos, constrangimentos e as dúvidas acerca se o artista havia sido vitimado por uma ocorrência, uma vez que já demonstrava um certo ressentimento e revolta com a vida.
O corte vai para 35 anos depois e apresenta-nos um Martin (Tim Roth) casado com a fria e racionalista Helen (Catherine McCormack) que ainda investiga o paradeiro do amigo. Até que encontra uma pista relacionada com um garoto numa apresentação que pode ter alguma ligação com Dovidl. Esta aproxima-se dele e da sua mãe, o menino dá a dica para procurarem um músico de metro que lhe dá as coordenadas.
Embarca então para Varsóvia e o cenário da cidade socialista na década de 1980 é um deleite para os olhos, com a sua tonalidade cinza e fria, com os seus automóveis padronizados e os prédios construídos em blocos. Martin chega a uma mulher que afirma, sim, ter Dovidl vivido com ela por um tempo, mas que deu no pé e sugere que ele empreenda uma busca por Nova Iorque.
As reminiscências são o ponto chave da película. Transitando em três épocas, sendo uma delas a atual, claro, é preciso atenção redobrada para irmos ligando os pontos.

Até que pela metade do filme aparece o outro protagonista peso pesado, Clive Owen. No emocionante encontro entre amigos, Martin observa a conversão dele ao judaísmo, e este mesmo esclarece acerca dessa transformação: não ligar para a aparência (barba grande), não se preocupar muito com o corpo a ponto de não tomar banho frequentemente e abdicar de toda a individualidade, ofertando a sua vida a Deus.
Um dos pontos chaves do filme é o esclarecimento do que ocorreu no dia da apresentação frustrado. Dovidl saiu com a sugestão de Martin para que fosse trepar (brincadeira) como forma de amainar o nervosismo da véspera. Ele empreende um passeio e perde-se numa Londres chuvosa. Encontra dois judeus polacos e sempre imbuído da procura dos pais, estes levam-no a uma sinagoga e segredam o livro dos cânticos, que busca memorizar os nomes das vítimas do Holocausto. Dovidl tem enfim a confirmação de que toda a sua família fora exterminada e ali mesmo se converte, abdicando de toda a sua individualidade em nome de Deus.
Feito o acerto de contas, é dada a hora de uma última apresentação, com 35 anos de atraso, num teatro lotado. O canto do cisne de um artista outrora arrogante que entregou a sua vida sem pretensões artísticas nenhumas. Dá tempo ainda de Martin ter a revelação, por parte da sua esposa, de que na véspera da sua primeira apresentação, o amigo não ter sido tão amigo assim e tê-la procurado para um encontro.
Um filme sublime, as atuações dos meninos são impecáveis e a trilha sonora, fotografia e figurino são exemplares. Uma boa trama com uma excelente aula de História, conhecimento de outras culturas e tradições, sem soar piegas e falso.