Perdido no oceano dos filmes que não chegaram a estrear nos cinemas por causa da pandemia do COVID-19, “Missão Greyhound” encontrou o seu bote salva-vidas nos serviços de streaming, nomeadamente, na Apple TV+. Tom Hanks, que além de protagonista escreveu o argumento baseado no livro náutico “The Good Shepherd“, de C.S. Forester, declarou que a transição do grande para o pequeno ecrã foi um “desgosto absoluto”. Para acalmar as águas, esclareceu que estava entusiasmado pelo facto de o filme poder ser visto pelo maior número de pessoas possível durante a pandemia – uma estratégia naval sábia.
Inspirado em eventos reais, o thriller do realizador Aaron Schneider (que não ocupava o lugar desde 2009, pelo filme “Get Low – A Lenda de Felix Bush“) tem como pano de fundo a Batalha do Atlântico, em 1942, meados da Segunda Grande Guerra. Greyhound é o nome de um dos navios encarregues de defender uma frota que transporta mantimentos dos Estados Unidos para a Inglaterra. Tom Hanks interpreta o inexperiente Capitão Krause, que num trecho em particular do Atlântico, chamado “O Fosso Negro”, vê o seu apoio aéreo sumir e submarinos nazis emergir.

Depois de ver o filme é fácil de partilhar o descontentamento do ator. “Missão Greyhound” é um filme de guerra de 80 minutos (excluindo créditos), de ritmo rápido, cujo foco está na precisão das táticas náuticas e em sequências de grande escala. O propósito é criar uma atmosfera de aflição e acção constante, onde as personagens não têm tempo para respirar. Quando chega um alívio, este é rapidamente interrompido por outra ameaça ou um pedido de socorro.
A narrativa é tão direta quanto isto e nota-se que a escrita foi acompanhada por um detalhado livro histórico. A procurar elevar o filme está a banda sonora composta por Blake Neely, que combina sons ritmados com guinchos semelhantes aos produzidos por baleias em dor. Quando a tensão existe, é a música que faz o trabalho pesado e isso faz dela a melhor parte desta curta experiência.

Quanto à caracterização do protagonista, já senti na pele folhas de papel mais robustas. Um interesse romântico totalmente irrelevante é exposto no início, vários versículos e rezas tomam-no como um bom homem católico e a comida que insiste em não ingerir procura salientar o nervosismo que raramente apresenta ao comando do navio. Em parte é devido à persona de Tom Hanks, confiante na sua interpretação em “Capitão Phillips” (2013), heróico na frente da biografia “Milagre no Rio Hudson” (2016). A tipologia de casting repete-se e embora não exista nenhum problema com a sua performance, esta não transparece nada mais do que o típico estoicismo face à adversidade.
Repetitivo, inerte dramaticamente e com um subtexto quase nulo, este é um filme de guerra exclusivo para os aficionados de batalhas navais. Aqueles que podem romantizar cada ordem e admirar os pormenores analógicos da maquinaria da época. Tem a benesse de ser compacto e admite-se que os confrontos têm o seu quê de entusiasmo, mas falha redondamente enquanto história e torna-se aborrecido cedo demais. Não fosse o nome à frente do poster, Greyhound afundava mais rápido que um clip metálico.
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