“Burnt”, em português “À Procura de Uma Estrela” (2015), aborda o “renascimento” e ressurgimento a Londres de um emblemático chef com duas estrelas Michelin, que envergou pelo caminho das drogas e de comportamentos desviantes, estragando quase que completamente a sua reputação e todo o seu sucesso.
Falamos de Adam Jones – interpretado por Bradley Cooper, conhecido por papéis como em “Assim Nasce Uma Estrela” (2018) –, que está determinado a começar de novo e a voltar onde foi feliz, para conseguir reescrever a sua história. Para fazer as pazes com o seu passado, vai de encontro com as pessoas que desiludiu, mostrando que está sóbrio há mais de dois anos e que está pronto para ir em busca do seu sucesso: ganhar a sua terceira estrela Michelin.
Este filme, além de abordar obviamente toda uma relíquia de pratos bem preparados, diversificados, demonstrando, portanto, o que é o clima, a dificuldade e a emergência da perfeição necessária para se singrar num meio como este, também mostra um chef (Adam Jones) muito irreverente, a roçar a genialidade, com uma atitude muito própria, muito senhor de si e das suas ideias, não deixando que ninguém o desviasse do seu grande objectivo.
Algo que serve para imortalizar, precisamente, esta ideia, teve que ver com o diálogo que Adam teceu a um dos seus futuros pupilos da equipa, onde ele diz: “se queres fazer parte da minha equipa, tens de ser arrogante; por isso, faz acima de tudo impor a tua vontade“.

Claro que este regresso fez nascer muito ódio e desconfiança por parte daqueles que se sentiram ameaçados pelo seu carisma e por toda a sua história, nomeadamente o de outro chef, Montgomery Reece – interpretação de Matthew Rhys, conhecido por papéis como em “Um Amigo Extraordinário” (2019) –, que na verdade cresceu junto com Adam e pelo qual sentia um grande carinho.
Num momento particular do filme em que Adam se vem a baixo, Reece demonstra uma empatia para com ele muito grande, o que demonstra que aquele “ódio”, aquando do seu regresso, era na verdade a sua rivalidade a dar de sua parte – porque, de facto, segundo Reece, Adam fazia-o ser melhor e a sua existência só permitia que ele o obrigasse a reinventar-se a si mesmo.
Para que tudo isto seja possível, a propósito do seu regresso e do seu grande objectivo de voltar à ribalta, Adam também encontra, por mero acaso, uma cozinheira que o agradou quase instantaneamente, Helene (Sienna Miller). Algo que não é completamente consumado concretamente ao longo do filme, mas há uma magia e uma química entre eles muito grande, algo que vem espoletar a grande – e a verdadeira – revolução/mensagem desta película.

Como já referido anteriormente, Adam era muito individualista, comia à parte da equipa, era muito egocêntrico e foi com Helene que ele aprendeu a ver todo o processo como um colectivo, que só assim ia, de facto, conseguir a terceira estrela: quando deixasse de olhar só para dentro de si e passasse a olhar para o que fazia como um todo maior que a soma das partes, no qual todos dependem de todos. E é essa a grande mensagem do filme.
Há que deixar uma menção honrosa à realização de John Wells, que conseguiu transpor uma vertente também ela contemplativa, mas acima de tudo com cenas de bastante profundidade visual, diálogos com uma substância fundamental para enquadrar poeticamente a obra na sua mensagem primordial, o que está, portanto, relacionado com o guião/argumento sui generis e bastante elucidativo de Steven Knight, que se inspirou numa obra de Michael Kalesniko.
Se efectivamente Adam consegue a terceira estrela, isso fica para quem tiver a ousadia de ver a película. Agora uma coisa é certa: “À Procura de Uma Estrela” não se trata de apenas um filme sobre o mundo da cozinha, mas sim sobre o mundo das relações humanas, da empatia e da superação de deixar para trás um passado negro e ir à luta, em busca dos nossos sonhos.
Por um cinema feliz.