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“Unleashed In The East” é o primeiro álbum ao vivo editado pelos britânicos Judas Priest, gravado na digressão da obra “Killing Machine”, “Hell Bent for Leather Tour”. Por esta altura, o conceito de heavy metal era algo bastante abstracto ou inexistente, mas a verdade é que em 1979 os Judas Priest eram dos grupos “mais pesados” a nível mundial. E prova disso mesmo é este trabalho.

Para trás estavam álbuns como “Sin After Sin”, “Sad Wings Of Destiny” ou “Stained Class”, sendo bastante clara a evolução do som da banda, que se caracterizava por um rock mais agressivo. Comparativamente a bandas como os Black Sabbath, onde se destacam riffs com uma sonoridade mais doom, os Judas Priest caracterizam-se pela velocidade das suas músicas e pela voz estridente de Rob Halford. Contudo, isso era mais evidente ao vivo do que em estúdio, imprimindo uma energia fora de série.

A verdade é que “British Steel” só viria a ser editado no ano seguinte, marcando para sempre a história do heavy metal, mas este “Unleashed In The East”, gravado no Japão, deixa bem patente o porquê dos Judas Priest serem considerados a primeira banda a fazer heavy metal “a sério”. A primeira faixa é arrebatadora, Exciter, do álbum “Stained Class”, que ganha uma força extra comparativamente à sua versão de estúdio, e assinala umas das melhores entradas de sempre ao vivo alguma vez gravadas dentro deste estilo.

Com uma pausa quase inexistente, passamos para Running Wild, esta já do último trabalho “Killing Machine”. Também num ritmo acelerado, esta faixa não é das que mais se destacam no álbum, mas isto deve-se ao simples facto das outras estarem acima da média.

Uma delas é Sinner, do álbum “Sin After Sin”, que se estende para além dos sete minutos e chega aos ouvidos dos fãs como uma frente de combate em forma de guitarras, liderada por K. K. Downing e Glenn Tipton. Se uma guitarra falasse, aqui estariam a declamar Shakespeare. A voz de Rob Halford é irrepreensível em toda a obra, e Sinner é só mais uma prova do porquê de este ser considerado um dos melhores cantores no universo heavy metal.

The Ripper é uma música de 1976, que aborda o ponto de vista do assassino Jack The Ripper, e único single do álbum “Sad Wings Of Destiny”. Ao vivo atinge outra dimensão, assim como a primeira das duas covers em “Unleashed In The East”: The Green Manalishi (With the Two Prong Crown). Esta versão da música dos Fleetwood Mac faz-nos esquecer durante alguns minutos a qualidade de Peter Green. Os blues são substituídos momentaneamente pela distorção dos riffs de Downing e Tipton, que assentam que nem uma luva ao conteúdo místico da letra.

A segunda cover é Diamonds And Rust, de Joan Baez. Uma espécie de power ballad, que vem oferecer mais dramatismo à canção original. Sem grandes devaneios, seria um excelente single, quer pela sua performance, quer pela sua duração (menos de quatro minutos). Chegamos a um dos pontos altos do álbum, a clássica Victim Of Changes. Com mudanças de ritmo, solos de guitarra, e uma prestação vocal arrebatadora de Halford, esta versão é claramente superior à de estúdio. Atinge outro patamar, para além de provar a química da banda entre si.

“Unleashed In The East”

O que se segue é outro pequeno épico, mas desta vez mais linear. Genocide, também de “Sad Wings Of Destiny”, é uma mistura de rock, punk e thrash. Velocidade, algumas improvisações e de novo… velocidade. É praticamente impossível passar por esta faixa com o volume baixo. Força bruta de uma banda no auge das suas capacidades. Tyrant acalma um pouco os ânimos, mas só no título, pois esta é mais um excelente exemplo do que viria a ser o thrash metal. O solo de guitarra a meio da canção, em duo, é simplesmente fantástico.

Na sua versão original, o álbum teria chegado ao fim, contudo, com as faixas extra adicionadas em 2001, seguem-se Rock Forever, Delivering Of The Goods, Hell Bent For Leather e Starbreaker. A primeira é uma faixa de “Killing Machine”, tal como Delivering Of The Goods, que mostram uma identidade já muito própria do grupo britânico.

Hell Bent For Leather, uma música indispensável na setlist da banda, é uma espécie de homenagem à moda em voga na altura, com muito cabedal e couro. E como essa era uma marca da masculinidade, não podia faltar a mota. E havia, tornando-se noutra imagem de marca dos Judas Priest – ainda hoje indispensável a certas alturas dos concertos. Fechamos com Starbreaker, uma música mais rara no que toca a exibições ao vivo. A voz de Rob Halford é claramente o destaque da canção.

De uma forma bastante pujante, “Unleashed In The East” revela todas as qualidades e virtuosismos de uma banda que viria a servir de inspiração para tantas outras, e para o surgimento de vários novos estilos ligados ao rock. Muito bem produzido pela própria banda e por Tom Allom, esta obra transporta-nos para a frente do palco e não nos deixa simplesmente “fazer uma pausa”. O melhor trabalho ao vivo por parte dos Judas Priest, e sem dúvida no Top 20 dos melhores álbuns ao vivo de sempre.

Rating: 3.5 out of 4.

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