“Creed: O Legado de Rocky” (2015) traz-nos uma história de superação, amor, dedicação e obstinação: obstinação perante a vida, perante os nossos objectivos e perante a herança que o destino nos deixou.
História essa de Adonis Johnson (interpretado por Michael B. Jordan), que após a morte do seu pai, Apollo Creed — o maior lutador de boxe de todos os tempos, a par de Rocky Balboa (Sylvester Stallone) —, mesmo antes de nascer, passou a sua infância numa instituição e ia-se revelando um rapaz conflituoso, com tendência para lutas e para resolver os seus problemas com violência.
O seu pai foi capaz de revolucionar o mundo do boxe. No entanto, teve um final trágico: morreu em combate frente a Rocky Balboa. Antes de morrer, teve um caso extra-conjugal e foi daí que resultou Adonis. Passados uns anos, a esposa de Apollo, Mary Anne (Phylicia Rashad), foi procurar o rapaz e, para lhe dar condições de dar um novo rumo à sua vida, adoptou-o. E foi a partir daí que foi construindo, finalmente, uma vida estável, mas a paixão nas suas veias pelo boxe, herança do pai, nunca deixou de o acompanhar.

Com o passar do tempo, Adonis toma uma decisão: dedicar-se inteiramente ao boxe e tentar fazer uma carreira, mas dispersa do nome do pai, isto é, tentando construir o seu próprio legado. Mas para o seu sonho se concretizar, precisava de um treinador a sério. Quem mais indicado do que o próprio Rocky Balboa? Esta história consegue emocionar o espectador com a sua gradação de empatia, humildade, espírito de sacrifício, todos os valores que fazem de um ser humano um autêntico vencedor, “dentro e fora do campo”.
Outro dos grandes aspectos do filme tem que ver com a relação que Adonis vai construindo com Bianca (Tessa Thompson), a sua vizinha cantora, que o encantou desde o primeiro dia da sua mudança de Los Angeles para Philadelphia. Bianca cativa pela sua beleza e pelo apoio e amparo que transmite a Adonis durante esta sua transição.
Entretanto, depois de Adonis ter ganho o seu primeiro combate, Rocky revela ter um problema de saúde, e é, também, nesse preciso momento, que o filme toma uma proporção bem conseguida: todo o elo de ligação que Adonis e Rocky vão construindo, a força, o apoio mútuo e a amizade que, para lá do profissional, encontra um apanágio cinematograficamente digno, que encanta o espectador com a sua dinâmica emocional.
É preciso enfatizar a realização e argumento de Ryan Coogler, que construiu uma narrativa bastante digna, que veio acrescentar algo ao reportório cinematográfico e que, por isso, se revelou audaz. Um trabalho bem conseguido e com uma essência (conteúdo) muito pouco usual em obras análogas.

Enquanto espectador, senti que este filme foi uma lufada de ar fresco, fechando “a cortina” de uma maneira bastante interessante, com um combate bastante renhido entre Adonis e Ricky Conlan (Tony Bellew). E, de facto, uma das mensagens mais fortes e extraordinárias do filme é, precisamente, que por vezes o mais importante não é ganhar, mas dar luta até ao fim, obrigando o adversário a dar tudo o que tem, a superar-se e a, desta forma, elevar o desporto que tanto amam a outro nível.
Eis um filme com bastante conteúdo, que soube ter paciência e calma nos momentos mais profundos e soube pôr o pé no acelerador, dramaticamente, quando o próprio filme assim o exigiu.
Por um cinema feliz.