Se há coisa/aspecto que as séries gostam de explorar, e tentam a todo o custo transpor para uma realidade de forma séria, mas ciente da dificuldade que acarreta, é o amor. A sétima arte vive e sobrevive da harmonia com essa força, com essa condição de paixão, inerente a todos nós mas, claramente, nem todas vão muito longe.
Não é o caso de “How I Met Your Mother” (2005-2014) (título em português: “Foi Assim que Aconteceu“), que conseguiu, desde cedo, e com uma história, no meu entender, sem grandes falhas, imortalizar precisamente essa catarse entre viver, aceitar a nossa condição, a nossa individualidade e conseguirmos projectar no outro, finalmente, e encontrar alguém que nos mereça e que cresça connosco; isso sim deve, ou devia, ser o Amor.
Esta é a história do protagonista Ted Mosby, um arquitecto narcisista, apaixonado, melancólico mas com um enorme coração, que vive e respira amor, e tem como objectivo principal encontrar “a tal”, construir uma família e imortalizar a sua vida terrena ao lado de alguém fantástico. A sua vida gira em volta dessa procura que o consome, mas Ted tem uma visão magnífica e pura desse futuro ao lado de alguém; muitos poderão dizer que a sua “febre” poderá ser uma obsessão que o conduzirá a uma mera ilusão, mas este consegue, sempre, cativar quem está à sua volta com a sua esperança e coração gigantescos.

Toda a história rege-se, precisamente, com Ted (Josh Radnor) a contar aos seus dois filhos a história de como conheceu a mãe deles, todas as peripécias ao mais detalhado pormenor, de forma por vezes doentia, mas sempre criativa, mas é exactamente essa característica que a transforma numa sitcom sui generis. E isto porquê? Porque apesar da “ressaca” do sucesso de “Friends“, a série de comédia mais prestigiante e paradigmática de sempre, HIMYM tem, e consegue dar, algo mais à narrativa de tal forma que gosto de a distinguir – porque as comparações são inevitáveis – como um drama cómico, ao invés que “Friends” merece mais, no meu entender, o rótulo de sitcom pura.
É importante realçar que a trama fundamental engloba, além de Ted, quatro amigos, companheiros para a vida: Lily (Alyson Hannigan) e Marshall (Jason Segel), o casal “perfeito”, onde a harmonia e união entre eles é quase imaculada; Barney (Neil Patrick Harris), o playboy de Nova Iorque; e, por fim, Robin (Cobie Smulders), uma das paixões de Ted. Tudo isto como ponto de partida para um argumento fantástico, cheio de alma, rigor, ensinamentos, peripécias, devaneios e vicissitudes pertinentes e realistas, com todo o crédito a ir para os criadores da série Carter Bays e Craig Thomas, que construíram um romance com um sentido de humor deveras difícil de igualar.
Assim, a verdade é que, durante essa busca de Ted pelo amor ideal, ele vai descobrindo que a vida é uma passagem, e todos temos de passar por todos os estágios para sobrevivermos como deve ser, para crescermos fortes, emocionalmente lúcidos, e para, no final, entendermos que o que realmente importa é termos ao nosso lado quem nos queria bem, irracional e incondicionalmente.