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Porque A Arte Somos Nós

Vivemos uma fase distinta nas nossas vidas, em que uma epidemia confinou muitos de nós às nossas casas, e em que diversas actividades como filmes, música, leitura, escrita, entre outras, acabam por ver o nosso relevo devidamente incrementado.

No que à sétima arte diz respeito, apresento uma lista pessoal cuja ordem não se coaduna necessariamente com a qualidade das obras, mas com o impacto e relevo que estas tiveram na minha experiência, enquanto mero observador.

Antes de partir para as minhas cinco sugestões propriamente ditas, deixo duas menções honrosas. A primeira à saga Harry Potter (2001- 2011) que merecia, ela própria uma lista individual, e a segunda ao filme Rei Leão (1994), por serem obras de valor inquestionável, e que impactaram a infância/adolescência de milhões de pessoas, em todo o mundo, incluindo, obviamente a minha. De seguida apresento a lista:

1.º “Pulp Fiction”, Quentin Tarantino (1994) – Crime, Drama

Começamos com a película mais antiga desta lista, e uma das mais marcantes, destes últimos 25 anos de cinema. Falamos de “Pulp Fiction”, segundo filme de Quentin Tarantino, que como a própria definição que nos é dada, antes do seu início, é inspirado no género de revistas Pulp, nomeadamente, as que se centravam em histórias sobre crimes, o que combinado com o género inovador e irreverente característico do realizador, sem qualquer receio de chocar o espectador, nos dá uma obra de elevado relevo, com várias histórias.

Estas não seguem uma linha contínua tradicional, e envolvem dois assassinos da máfia, um lutador de boxe, um gangster, a sua mulher e um casal de ladrões. Destaque para a presença de Maria de Medeiros, filha mais velha do maestro António Victorino de Almeida, que interpretou a personagem Fabienne, o interesse amoroso do pugilista. Esta longa-metragem presenteia-nos com um elenco de destaque, e, do qual já fez parte a “sua” musa, Uma Thurman que viria a desempenhar o papel principal em “Kill Bill – A Vingança“, outra grande obra de Tarantino.

“Pulp Fiction” é para mim o filme mais impressionante de Tarantino, e que o catapultou para o estrelato, mas podemos caracterizar qualquer um dos seus filmes como uma verdadeira pérola cinematográfica, com variadas referências à cultura pop, cenas de diálogo espetaculares e violência gráfica, não sendo obras aconselhadas aos mais facilmente impressionáveis.

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2.º “Foge” (“Get Out”), Jordan Peele (2017) – Horror, Mistério, Thriller

Em linha com que podemos verificar também no seu projecto mais recente, “Nós” (2019), Jordan Peele mostra ser um especialista na conjugação das componentes de horror e mistério, incorporando também pelo meio a quantidade certa de comédia, de forma a tornar qualquer das suas obras numa verdadeira obra de arte.

Inicialmente é nos apresentado um casal cujo namorado afro-americano, Chris Washington (Daniel Kaluuya), vai conhecer pela primeira vez os pais da sua namorada Rose Armitage (Allison Williams). Uma situação aparentemente normal, transforma-se numa situação tensa e bizarra, seguindo-se um conjunto de situações peculiares que fazem Chris questionar-se se será verdadeiramente bem-vindo a esta família.

Um filme que aborda questões bastante sérias, nomeadamente a questão racial, mas de uma forma inovadora, e com uma componente algo satírica/irónica, tornando-se numa experiência distinta, e na qual, os seus espectadores acabam completamente submergidos. A qualidade desta história permitiu a Jordan Peele ganhar em 2018 o Óscar de Melhor Argumento Original na sua estreia enquanto realizador.

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3.º “Million Dollar Baby – Sonhos Vencidos” (“Million Dollar Baby”), Clint Eastwood (2004) – Drama, Desporto

“Million Dollar Baby” do realizador e co-produtor, Clint Eastwood, arrecadou o Óscar de Melhor Filme em 2005, derrotando entre outros, “O Aviador” de Martin Scorsese, que tinha Leonardo DiCaprio no papel principal.

Um dos destaques do filme prende-se na prestação verdadeiramente incrível de Hilary Swank, que ganhou ela própria o Óscar de Melhor Atriz, com clara justiça. Swank interpretou Maggie Fitzgerald, uma obstinada empregada de mesa que se deslocou ao ginásio de Frankie Dunn (Clint Eastwood), um antigo treinador de boxe, com o intuito de o ter como treinador. E, se no início Frankie recusou, a personalidade bastante aguerrida e determinada de Maggie acabaria por eventualmente vencer a teimosia do veterano.

Com o auxílio do seu treinador, Maggie acabaria por ser bem-sucedida, ganhando muitas lutas, e a relação inicialmente distante entre os dois acabaria por se alterar drasticamente. Na parte final desta longa-metragem é-nos apresentada uma situação extremamente complicada para os seus protagonistas, com Frankie a ser confrontado com uma difícil decisão.

Uma obra bastante emotiva e que nos mostra, não só o poder dos sonhos, mas que nos faz reflectir acerca de questões bem mais importantes do que um simples combate de boxe.

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4.º “Knives Out: Todos São Suspeitos” (“Knives Out”), Rian Johnson (2019) – Comédia, Crime, Drama

O filme mais recente dos aqui mencionados, “Knives Out” centra a sua narrativa no mistério acerca de quem assassinou o patriarca de uma família bastante excêntrica e peculiar, com a investigação a cargo do detetive particular Benoit Blanc (Daniel Craig). Com um elenco de luxo, que junta ao actual protagonista da saga James Bond, nomes como: Christopher Plummer, Jamie Lee Curtis, Michael Shannon, Chris Evans, entre outros.

Um filme cheio de entretenimento, e onde as suas duas horas e 11 de duração nunca se tornam fastidiosas, sendo que o próprio realizador pediu aos espectadores para não revelarem detalhes acerca da resolução do mistério, já que esta era a premissa essencial do mesmo, o que estragaria claramente a experiência aos novos espectadores.

O filme foi bem-sucedido mundialmente, arrecadando mais de 300 milhões de dólares em receitas, o que levou a ultrapassar claramente o seu orçamento. A obra foi nomeada para o Óscar de Melhor Argumento Original, acabando por ser derrotado por “Parasitas“, de Bong Joon Ho.

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5.º “O Amor É um Lugar Estranho” (“Lost in Translation”), Sofia Coppola (2003) – Drama, Romance

Neste seu segundo filme enquanto realizadora, Sofia Coppola apresenta-nos um enredo onde duas personagens completamente distintas e num ambiente que lhes é algo estranho, acabam por estabelecer uma conexão entre elas.

Coppola é a filha de Francis Ford Coppola, conhecido por ter sido o realizador da épica trilogia de filmes “O Padrinho“, e demonstra ter herdado a excelência na realização do seu pai, tendo recebido o Óscar de Melhor Argumento Original com esta película, em 2004.

Começa por nos ser apresentado Bob Harris (Bill Murray), um actor americano no oásis da sua carreira que se deslocou a Tóquio para filmar um anúncio para uma marca de uísque, e Charlotte (Scarlett Johansson), uma jovem recém-licenciada que se mostra algo desconectada do ambiente em que se encontra, estava a acompanhar o seu marido John (Giovanni Ribisi) em trabalho.

Conseguimos perceber a decepção de Charlotte, não só com o actual estado da sua vida mas também com a fase da sua relação, e quando esta conhece Bob, ele próprio a passar por uma fase conturbada no seu casamento de 25 anos, os dois acabam por estabelecer uma boa amizade.

Um filme que apesar de ter apenas quatro milhões de dólares de orçamento, não deixa de ser uma obra bastante apelativa, com duas performances bastante sólidas de Murray e de Johansson, e que nos faz pensar acerca de diferentes problemas da sociedade, como a solidão ou a insónia, comum às duas personagens. Foi esta cumplicidade que lhes permitiu ajudarem-se um ao outro, demonstrando como o embate cultural que uma sociedade completamente diferente como a japonesa, teve sobre estes indivíduos.

Existe uma cena em particular que permite destacar esta última parte, que é quando Bob está a filmar o anúncio do uísque, e o realizador que falava apenas em japonês, fazia grandes descrições daquilo que queria que ele fizesse, mas a tradutora só lhe dizia: “Ele quer que te vires, e olhes para a câmara. Ok?” – o que fez Bob ficar confuso, e questionar se não estaria a ser-lhe sonegada alguma informação. E esta pode, por sua vez, ser uma boa demonstração do próprio título desta obra “perdido na tradução”.

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Pedro Maia

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