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Porque A Arte Somos Nós

Em 1981 formava-se na cidade do Porto uma banda de inspiração new wave, tão na moda por aqueles tempos, formada por João Loureiro (sim esse, o filho de Valentim Loureiro) na voz e teclados, João Ferraz na guitarra, Paulo Faro na bateria e Francisco Monteiro no baixo: a que deram o nome de Bananas. Nos anos que se seguiram, antes de “Surrealizar”, a banda editou alguns trabalhos em formato single e mini LP com bastante sucesso junto dos críticos, o que os levou a atuar por exemplo no saudoso Rock Rendez-Vous. Entretanto decidem também encurtar o nome da banda para BAN.

Por volta do ano 1986, a banda decide enveredar por um um som marcadamente pop, não abandonando ainda assim na totalidade outras influências que vinham marcando o seu som, como o pop-rock e o ska. Nesta linha editam o ‘maxi-singleSanta, que conta com a colaboração de diversos músicos da primeira linha do que melhor se fazia em terras lusas por essa altura. Este trabalho é novamente muito bem aceite pela crítica especializada da época, que vê nele algo de realmente novo e criativo, com sons altamente contagiantes.

É então em 1986, com a entrada de Ana Deus na banda, que os BAN decidem o seu rumo em definitivo, optando por um som claramente pop com influências soul e dance music, oferecendo-nos uma trilogia de LP’s iniciada em 1988 com “Surrealizar”, no ano seguinte “Música Concreta” e finalmente, em 1991, “Mundo de Aventuras”. Hoje vamos falar do primeiro: “Surrealizar”.

Este trabalho é composto por nove temas que nos transportam desde a pista de dança até ao aconchego do nosso sofá. A qualidade da sonoridade de “Surrealizar” é elevadíssima e revela uma banda bastante madura que sabia bem o que fazer com as técnicas de som que tinha a seu dispor. Não é possível falar “destes” BAN sem evidenciar o valor acrescentado de Ana Deus, que trouxe à banda potência na secção de vozes e suportando sobremaneira João Loureiro que, como todos concordamos, não era um prodígio vocal, embora se enquadrasse muito bem no som da banda.

É obrigatório também evidenciar a qualidade das letras dos temas deste trabalho, pois traziam algo de novo pela pertinência relativamente à temática social e da integração do indivíduo nesse (neste) admirável mundo novo (Irreal Social ou Função são um bom exemplo disso). De destacar também a qualidade da secção de percussão que marca claramente o ritmo dos temas, muito bem apoiada pelos sintetizadores e pela introdução do saxofone em alguns temas, dando um toque distinto ao produto final.

Os Ban na década de 1980

Num filme Sempre Pop, Irreal Social, Ritualizar, Um Encontro com Mr. Hyde e Brouhaha (Um Caso de Confusão Mental) são os temas (mais) dançáveis, com ritmos marcados e uma muito boa onda que ainda hoje faz corar de inveja alguma da musica que vai sendo passada nas discotecas e bares deste nosso Portugal! Função é uma faixa muito pertinente pelo conteúdo da letra, que ainda hoje nos faz pensar: “Eu queria saber a função dos pobres/a função dos livros/dos corpos/dos bichos/da alma/das drogas/do álcool/do ritmo/mas…qual é a função, a função diz lá/qual é a função, a função diz lá…“.

Respostas procuram-se. Um Espelho Riu, Era uma Vez e Doce Fazer Nada são os temas de conforto deste álbum, todos eles com uma sonoridade muito agradável e conteúdos interessantes. Excelentes para ouvir num fim de tarde descontraído e que nos transportam para outras reflexões. Permitam-me destacar Doce Fazer Nada, com um desempenho sublime de Ana Deus. Musica linda, mesmo. “Eu nem sou daqui…nem vou ficar!

Em suma, trata-se de um trabalho de muito elevada qualidade e que é o reflexo dos excelentes músicos da época. Sons novos e impactantes. Para mim, marca um movimento de inovação de que os BAN fizeram parte, com distinção e em particular com este álbum. Para além do mais, é um trabalho pleno de atualidade. Quem não o houve há muito, que o volte a ouvir. Quem nunca o ouviu, faça o favor de ouvir pois não se vai arrepender. Independentemente do estilo, é música feita com (muita) qualidade.

Bons sons.

Jorge Gameiro

Rating: 4 out of 4.

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