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Porque A Arte Somos Nós

Um drama muito intenso, na vivacidade com que é abraçado, mas sobretudo a partir dos jogos humanos desconstruídos (porque neste enredo, como no nosso universo, impera a inveja e os escrúpulos escasseiam). No fundo, tudo começa com Carroll Shelby (Matt Damon) a ser um dos grandes pilotos a correr no Le Mans 24h – e a vencer, mas a ser projectado para uma condição que não lhe permitirá fazer provas nunca mais, pois sofre um acidente nesse circuito vitorioso; foi uma sorte ter sobrevivido, disse quem o socorreu e tratou.

Acontece que passa algum tempo e a Ferrari foi ganhando continuamente a competição. No entretanto, Carroll “descobre” Ken Miles (Christian Bale), um simples mecânico, mas que conduz como ninguém e que domina as especificidades dos carros; posto isto, Carroll propõe levar, de novo, a Ford a Le Mans com a máquina mais rápida de sempre, com Ken à cabeça.

De realçar a simplicidade de Ken, uma interpretação sublime de Christian Bale, a mostrar, efectivamente, que é um actor soberbo e versátil, que se consegue adaptar não só a papéis intelectualmente ferozes, mas também humanamente impactantes. É uma desilusão vê-lo, ao actor, de fora da corrida aos Óscares. Durante todo o filme, há sempre jogos de interesses, e nunca toda a gente fica satisfeito com o sucesso de outra pessoa (há sempre os julgadores, os que tratam as pessoas com os números na retina). Nesse aspecto, este filme é muito elucidativo.

Muito interessante e importante é a relação que Ken tem com a sua mulher e filho, filho que é o maior fã do pai e da sua “carreira” de piloto. A sua mulher, por outro lado, sempre apelou mais ao lado humano de Ken, para ele se tornar uma pessoa mais calma, tranquila e que aceita as vicissitudes da vida, respeitando o outro. Ken é temperamental, mas vai-se moldando ao longo da narrativa.

Desde cedo, Carroll sempre viu em Ken tudo para a Ford vencer, até mesmo em momentos em que ninguém acreditava nele. Neste aspecto fica patente que a maioria das pessoas julga o “livro pela capa”, negligenciando Ken pela sua aparência, sem dar uma oportunidade e reconhecimento ao seu valor intrínseco. Outra temática fundamental neste filme é o facto de, na verdade, ganhar não ser o mais importante, mas sim ser um autêntico vencedor dentro e fora da pista. Se todos à sua volta estão bem, e fazes aquilo que gostas, serás eternamente feliz. É uma grande lição para a vida. Muito bem esteve James Mangold, conhecido por realizar “Walk The Line” (2005) e mais recentemente “Logan” (2017), que abriu as portas a um universo a alta velocidade literária, com uma mensagem digna.

Uma obra que surpreende em alguns pontos, mas que é previsível em outros. O que é certo é que, no frente a frente entre a Ford e a Ferrari, quem sai verdadeiramente vencedor somos nós, que tivemos a feliz oportunidade de desfrutar de mais uma bela película.

Tiago Ferreira

Rating: 3 out of 4.

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