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Porque A Arte Somos Nós

“Engolimos de um sorvo a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga.”


Denis Diderot

Tão fácil que está à mão, os sites de busca, notadamente o Google, oferece-nos tudo imediatamente num clique. Podemos saber acerca dos anéis de Saturno; da capital da Tanzânia e mesmo da composição química do sal de cozinha. E o portal se abre ao mundo. Nos meus dinossáuricos anos de estudante, quando precisava de realizar trabalhos dirigia-me à biblioteca pública de modo a consultar a Enciclopédia. Lia, escrevia, consultava, estudava. Como todos sabemos, a Enciclopédia é o livro que pretende abarcar tudo.

Escrevo este preâmbulo para discutir o pensamento de Denis Diderot (1713-1784), ex-jesuíta, escritor, filósofo e iluminista francês que ao lado de D’Alembert foi um dos principais produtores de conteúdo de um livro que pretendia universalizar verbetes, contribuindo para o esclarecimento das pessoas, que elas tivessem subsídios concretos e reais de forma a auxiliar os seus pensamentos. Nascia aí a Enciclopédia, livro generoso e exaustivo que guiou e guia as pessoas pelos ditames da razão, da ciência, da argumentação séria e tudo isso como contraponto ao obscurantismo religioso e maléfico. Isso mesmo! Diderot largou o estudo jesuítico e certamente não deve ter gostado da doutrinação escravizadora.

Retrato de Denis Diderot, por Dimitri Gregoriovitch Levitzky (1773-1774) / Wikipédia

Entusiasta da ciência e da observação do mundo à sua volta, por intermédio da razão, foi um dos artífices do Iluminismo, tendo ao lado o iconoclasta Voltaire (1694-1778). Chegou a estar três meses na prisão após a publicação da obra “Carta sobre os cegos“, muito interessante por associar empirismo com razão, observação do mundo e investigação filosófica. Lembremos que o autor viveu antes da Revolução Francesa, e daí o entendimento tácito de que o Enviado de Deus na Terra mandava, ou seja, o Rei.

O Absolutismo imperava e os iluministas já desconfiavam de que as crenças cegas e o vínculo religioso era um verdadeiro atraso de vida. Muitos artistas, escritores, filósofos e intelectuais tentavam viver debaixo das asas dos soberanos, até por proteção. Com boa dose de cinismo e lucidez de pensamentos, com sentenças desconcertantes, os iluministas tentavam convencer o povo o tempo inteiro de que 2 + 2 são 4. Por mais que a Igreja insista que é 5, por força e obra de Deus.

Nesse trabalho exaustivo de formiguinha, Diderot, além de ter escrito o romance “A Religiosa“, fez jornalismo editando os verbetes e ajudando a compor este livro do saber, que é a Enciclopédia. Se a população francesa raivosa perdeu a paciência com a monarquia francesa e decapitou o rei e a rainha, muito desse fomento se deu pelas ideias iluministas que estes filósofos pregavam. Digamos assim, a contribuição ideológica da Revolução.

Angariando sucesso na sua época, Diderot chegou a assessorar a Rainha Catarina em São Petersburgo e a quem o acusasse de ser contraditório no seu comportamento, uma explicação. Orientando e instruindo aos reis, preparou o terreno para a vindoura democracia. Se era um sonho distante (e era), ao menos preparou e mitigou esse poder todo. Quando ouvirem a expressão “déspota esclarecido” trata-se do seguinte: de um monarca, o Todo Poderoso, submetido às leis da razão e esclarecimento e duvidando realmente que o seu reinado era um desejo dos deuses.

Estátua de Diderot em Langres, França, sua terra natal / Wikipédia

Fazendo uma ponte para os nossos dias: que falta faz um verdadeiro filósofo aconselhando o Todo Poderoso Vladimir Putin que ele não é o dono do mundo…

Findo com alguns pensamentos deste iluminista e prometo, quando retornar a Paris, procurar a estátua do estudioso, posar ao lado dela e agradecer o facho de luz que trouxe ao mundo, para debelar as trevas da ignorância, obscurantismo, tirania, tudo isso pregado sob a égide da religião.

Aquele que contigo fala dos defeitos dos demais, com os demais fala dos teus.

É tão arriscado acreditar em tudo como não acreditar em nada.

Nenhum homem recebeu da natureza o direito de mandar nos outros.

Em qualquer país em que o talento e a virtude não produzam progresso, o dinheiro será a divindade nacional.

Do fanatismo à barbárie não há mais do que um passo.

A cólera prejudica o sossego da vida e a saúde do corpo, ofusca o julgamento e cega a razão.

Ter escravos não é nada, mas o que se torna intolerável é ter escravos chamando-lhes cidadãos.

Marcelo Pereira Rodrigues

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