Brokeback Mountain (2005) – “O Segredo de Brokeback Mountain“, em português – conta a história de Jack Twist (Jake Gyllenhaal) e de Ennis Del Mar (Heath Ledger), dois pastores que se conheceram em Wyoming, no verão de 1963, quando foram trabalhar para um rancheiro que criava ovelhas. O filme é realizado por Ang Lee e escrito por Larry McMurtry e Diana Ossana, que se basearam no livro homónimo de Annie Proulx, publicado em 1997.
“Brokeback Mountain”, apesar de tudo, é uma obra sobre a solidão que, a partir de inúmeras subtilezas, tais como a sua fotografia (dirigida por Rodrigo Pietro) – através do retrato de uma montanha exuberante e colorida como epicentro da ação – enfatiza a ideia de que, de facto, estamos perante um realizador profundamente sensível. Sensibilidade, essa, que, nesta produção, consegue imortalizar a ideia de que o amor não tem sexo, cor, idade ou raça; ou seja, é simplesmente uma força da natureza: algo quase primitivo e maior que o ser humano – apesar de ainda ser, infelizmente, altamente padronizado nos dias de hoje.
Com efeito, as dificuldades espoletadas na relação entre os dois pastores são representadas de uma forma muito pura e dinâmica, transpondo, também, uma profunda melancolia: através de um retrovisor, observamos o distanciamento entre os personagens, como se eles estivessem cientes de que, mesmo perante tudo aquilo que os acerca interiormente, aquele sentimento dificilmente poderia ser consumado, sobretudo pelos preconceitos à época.

Época, essa, que através de uma montagem (inicialmente, sob o comando de Geraldine Peroni e, posteriormente, de Dylan Tichenor) e direção de arte (por Marit Allen) simplesmente exímias, consegue ser reconstruída de uma forma profundamente realista, algo que enriquece bastante toda a fruição do ambiente cinematográfico que “Brokeback Mountain” cria.
Além disso, a banda sonora ficou ao encargo de Gustavo Santaolalla, que faz um belíssimo trabalho ao ser capaz de, cinematograficamente, construir um ambiente muito rico, passível de transmitir mensagens altamente relevantes, como forma de fortalecimento da essência narrativa. Essência, essa, que através de uma diegese fílmica bastante atrativa e segura, é espoletada por uma música que cresce nos momentos de possível ascensão do amor per si e que, por outro lado, é bruscamente vetada em cenas nas quais a agressão física serve para imortalizar os problemas de preconceito e intolerância – como palavras-chave da narrativa – que os nossos protagonistas vivem ao longo da história.
Deste modo, no que diz respeito a character development, o argumento do filme é extremamente bem estruturado e coerente. Por exemplo, Ennis Del Mar possui um pensamento culturalmente masculino e tendencialmente agressivo, inclusive não se emocionando com facilidade, de tal forma que, quando os vestígios do seu sentimentalismo vêm ao de cima, manifestam-se através de uma brutal violência: algo que põe a descoberto uma certa construção da personagem sob os parâmetros da heterossexualidade compulsiva – residindo, aqui também, uma das várias críticas interventivas de “Brokeback Mountain”.

Por outro lado, o personagem de Jake Gyllenhaal, Jack Twist, é bastante forte, emocionalmente falando, apesar de não ter problemas em deixar fluir toda a sua fragilidade sincera, sendo, também, bastante desprendido de padrões sociais.
Em suma, é importante referir que a representação dos cowboys acontece de forma, essencialmente, metafórica, num eufemismo hiperbólico e, também ele, caricatural que visa construir um paradoxo ao apresentar, a partir dos nossos protagonistas, sentimentos simplesmente antagónicos, de forma a que depois tudo se alinhe e permita que toda esta antítese narrativa dê, na verdade, lugar a uma belíssima simbiose amorosa.
Assim, num mundo profundamente assolado pelo vírus da homofobia, um filme como “Brokeback Mountain” serve para tentar incitar a alguma reflexão sobre esta questão, que, mesmo 16 anos após o lançamento da obra, é um tabu que continua a crescer de forma incompreensível e vertiginosa. Esta é uma obra que luta contra o preconceito, sob a epígrafe de que o amor é, acima de tudo, uma força da natureza.
Por um cinema feliz.
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