“Lightyear” (2022) conta a história de Buzz Lightyear, um dos brinquedos da coleção de personagens do quarto de Andy, no universo “Toy Story“. Buzz Lightyear é o protagonista, deste que é, precisamente, o filme preferido de Andy. O filme é escrito e realizado por Angus MacLane, dividindo, também, os créditos do argumento com Jason Headley e Matthew Aldrich.
O mais recente spin-off da Pixar consegue ter uma abordagem bastante aventureira e, além disso, como é costume, construir uma ponte dramática com profundidade, desenvolvendo temas como o egoísmo, a obsessão e também a cooperação. O início da narrativa dá-se de uma forma bastante frenética, focando uma missão dos patrulheiros espaciais, comandada por Buzz (voz de Chris Evans) e a sua parceira Alisha Hawthorne (voz de Uzo Aduba). Neste contexto, Buzz acaba por cometer um erro durante a missão que se transforma no gatilho narrativo da história.
A partir daqui, mesmo a narrativa prosseguindo a uma velocidade algo abrupta, a verdade é que consegue ir estabelecendo um senso de imersão bastante atrativo e convidativo. Neste sentido, “Lightyear” conta-nos a história de um herói em busca da sua própria redenção, através de uma linguagem com alto teor fotorrealista, aproximando-se de uma experiência live-action. Ainda que, globalmente, a trajetória da aventura se vá dando entre o ponto A e o ponto B com relativa previsibilidade, a verdade é que os momentos de ação carregam em si toda a mágoa e inquietude necessárias para nos aproximarmos dos motivos e sentimentos do nosso protagonista.

Posteriormente, a longa-metragem entra num ligeiro território genérico nos interlúdios da sua história que tentam explorar a dinâmica de trabalho em equipa das nossas personagens. Contudo, toda a atmosfera que a obra cria, desde perseguições a robots até aos elementos melodramáticos mais banais, consegue transformar “Lightyear” numa amálgama de boas decisões criativas.
Mesmo podendo parecer ser parca em ambição, o que é facto é que o filme assume todos os seus riscos ao nos conseguir abraçar a personagem de Buzz, sobretudo, explorando muito bem as suas personagens secundárias, que eram capazes de retirar em toda a sua profundidade a personalidade de Buzz. Nesse prisma, destaca-se a personagem de SOX (voz de Peter Sohn), um gato inteligente, que se torna o maior companheiro de Buzz nesta sua viagem contínua de superação.
Todo o lema de Buzz assenta na sua famosa expressão “para o infinito e mais além” e, por isso mesmo, esta história tenta levar-nos rumo ao infinito do universo que tenta construir, ainda que (principalmente) através de vertentes emocionais. De facto, toda a animação é extremamente detalhista e todas as viagens a alta velocidade que Buzz nos proporciona são visualmente deslumbrantes e fazem-nos compreender a dimensão do sacrifício que o seu ofício exige. Para tal contribui também a trilha sonora de Michael Giacchino, que presenteia o espectador com toda uma atmosfera auditiva bombástica, a par e passo com a vertente de ação mais propriamente dita.

Apesar dos défices que apresenta, “Lightyear” é um filme bastante carismático, com algumas referências visuais e narrativas do género de ficção científica. Além disso, e apesar de tudo, a essência de toda a história da obra apresenta uma potência emocional bastante forte e intensa, conseguindo fazer-nos viajar, com nostalgia, pela herança que a personagem de Buzz Lightyear nos deixou em Toy Story, justificando em pleno a concretização deste spin-off.
Assim, ainda que “Lightyear” não seja o filme mais memorável de todo o reportório da Pixar, decerto é que tem a audácia de, não repetindo uma fórmula, conseguir reinventar a sua própria receita, dentro de um universo com a forte herança de Toy Story. Nesse sentido, e além disso, é uma viagem repleta de entretenimento, mensagens inspiradoras e de uma animação deslumbrante, imortalizada nesta luta interior com a qual Buzz se depara, rumo ao infinito das suas próprias convicções.
Por um cinema feliz.
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