“Turning Red” (2022) conta a história de uma pré-adolescente, Meilin (Rosalie Chiang), que aos treze anos percebe que carrega consigo uma herança familiar poderosa: sempre que exteriorizar emoções mais fortes e intensas, transforma-se num panda vermelho gigante. O filme é realizado e escrito por Domee Shi, juntamente com Julia Cho e Sarah Streicher.
De facto, Meilin sempre foi uma rapariga obediente, cujo principal valor e objetivo passam por conseguir, futuramente, orgulhar os seus pais. Dessa forma, sempre teve notas muito boas na escola e é vista como alguém bastante diferente, em termos de mentalidade, o que espoleta também algum preconceito por parte dos seus colegas. Contudo, atravessa uma idade peculiar, num período da sua vida em que se está, obviamente, a descobrir interiormente. Neste sentido, ao perceber que os seus antepassados têm uma ligação espiritual desta essência e que também ela está “condenada” a isso, a sua vida começa a sofrer alguns ajustes e alterações.

Efetivamente, este filme de animação tem uma magia muito própria, na forma como é capaz de juntar a vertente mais “fantástica” da obra, sem nunca com isso descorar a sua maior força – nomeadamente, a sua vertente emotiva. Além disso, transmite variadíssimas mensagens de índole humana, muito importantes para o espectador levar consigo: concretamente, a importância de nos conhecermos a nós mesmos e de não nos sabotarmos em detrimento de quem quer que seja, só para agradar; e, ainda, a inteligência de fazermos as pazes para com o nosso passado, fazendo um esforço para resolver o que ficou pendente, sem termos medo das consequências.
Decerto, Meilin, após descobrir que carrega consigo esta particularidade, reage mal e pensa que isso pode ser o impedimento de toda a prosperidade do seu futuro. Para manter o panda sem expressão, é necessário que ela tenha a capacidade de guardar os seus sentimentos de maior profundidade e não os expressar. Todavia, existe um antídoto, que passa por fazer um ritual com a sua família quando a lua estiver sob determinadas condições, ritual, esse, feito com sucesso por parte dos seus antepassados, incluindo pela sua mãe super protetora, Ming (Sandra Oh).
No entanto, aquilo que aparentava ser uma condição e uma herança terríveis, acaba por, aos poucos, se tornar em algo apreciado por todos. Desta forma, Meilin torna-se, contra todas as expectativas, numa pessoa popular sob a pele do tal panda gigante. Desta maneira, ela tem a oportunidade de se sentir importante e valorizada pelos outros, algo que até então não acontecia. Por outro lado, quanto mais ela deixa o panda se exprimir, mais difícil fica a tarefa de, através do ritual, o eliminar – mesmo tendo isso em consciência, acaba por se desleixar.

Por todas estas pequenas questões em que toca e valoriza, “Turning Red” tem a capacidade de capturar na perfeição uma fase complexa e complicada como é a da puberdade, na qual todas as emoções e sensações estranhas aparecem do nada e com as quais temos de lidar, muitas vezes, sem uma preparação prévia. Consegue, portanto, passar uma mensagem de profunda auto-aceitação e, mesmo tendo um argumento que assenta num público-alvo naturalmente mais objetivo, é capaz de ser universal em diversos temas e situações que a sua história oferece.
Assim, este filme imortaliza, novamente, a importante ideia de que não devemos/podemos deixar de ser quem somos, nem tão pouco procurarmos uma constante validação de quem, na verdade, não valoriza a nossa essência. Segundo a magia de “Turning Red”, torna-se, sem dúvida, crucial saber dar valor às amizades verdadeiras e, acima de tudo, ter a capacidade e a confiança de abraçar a mudança sem vergonha. Esta faz parte daquilo que é a nossa evolução e é, muitas vezes, a partir da transformação que algo mais belo nasce – tal como a essência narrativa deste filme.
Por um cinema feliz.
Se queres que OBarrete continue ao mais alto nível e evolua para algo ainda maior, é a tua vez de poder participar com o pouco que seja. Clica aqui e junta-te à família!