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Para quem não sabe, Dita von Teese é amplamente conhecida como uma bailarina e modelo burlesca, alcançando o estatuto de celebridade por volta de 2004, principalmente devido à sua curta relação com o famoso rockstar Marilyn Manson (casada em 2005 e divorciada em 2008). Relação essa que mediatizou ambos os artistas devido ao exuberante estilo de vida que os dois praticavam.

Desde então, Dita revelou-se uma empreendedora de sucesso e, nos últimos anos, tem andado em digressão, a fazer espetáculos burlescos por todo o mundo. De forma a alargar a sua marca de moda e beleza, Dita tentou tornar-se numa cantora adequada, e fez até uma cover da canção dos Culture Club, Do You Really Want to Hurt Me, em 2016. Esta faixa antecipa o som presente no seu álbum de estreia, “Dita Von Teese”.

Escrito e co-produzido pelo compositor e multi-instrumentista francês Sébastien Tellier, este álbum, inspirado nas danças eróticas de Von Teese, tem uma sensação de mistério e diversão em todas as dez canções originais. Considerando esta a sua primeira tentativa séria como cantora, a sua voz é bonita, mas no geral, a própria Dita admite: “Não sou uma cantora profissional, na verdade, estou bastante desconfortável em gravar a minha voz.

Ao longo do álbum, Dita canta em alguns momentos, mas de resto sussurra, geme, ou até fala, ou, mais surpreendentemente, faz voz – mais notavelmente na última faixa. Além disso, a sua voz é frequentemente enterrada na mistura. Infelizmente, para um álbum centrado nas habilidades vocais de Dita, certamente não corresponde sequer a esta pequena promessa.

Quanto à parte instrumental do álbum, Sébastien Tellier certamente tentou capturar esse humor burlesco, apresentando uma mistura de pop com um eletrónico frio. Não há muita variedade nas dez canções, pois Tellier mantém um ritmo calmo e as suas canções são firmes e suaves. Por vezes, existe uma atmosfera sonhadora ou uma sensualidade tropical, o que é bom, mas acaba por estar repetidamente presente com o mesmo arranjo e morre rapidamente à medida que a batida começa, transformando o que poderia ter sido uma visão interessante do som retro de Charlotte Gainsbourg, numa fórmula pop muito generalizada.

Dita Von Teese é responsável pela reinvenção da estética pin-up dos anos 40 e 50 e do termo “burlesco” associado à arte ancestral do strip-tease, protagonista de espetáculos que incluem banho num copo de Martini gigante. Em 2005, chegou mesmo a participar na curta-metragem “The Death of Salvador Dali”, que lhe valeu o Prémio de Melhor Atriz no Beverly Hills Film Festival.

Dito isto, Tellier fez o que pôde, tendo em mente as limitações vocais de von Teese e a necessidade de criar um novo fluxo de receitas, o que é uma pena pois este trabalho poderia ter sido muito mais interessante.

Em suma, o álbum de estreia de Dita von Teese procura uma imagem de sofisticação, sedução e sensualidade, mas musicalmente é bastante brando e monótono. O canto da artista não contém qualquer sensação, e sente-se essa fraqueza ao longo de todo o disco. Claro que não tem experiência e as canções não exigem muito, mas depois, quando questionada sobre o álbum, nunca afirmou ser uma boa cantora, deixando alguém a pensar se Dita era a melhor escolha para encarnar a visão musical de Tellier.

Para além disso, existem alguns momentos agradáveis, mas, infelizmente, são muito subtis e bastante curtos. Dito isto, o álbum não é assim tão bom, e felizmente para Dita von Teese, ela não precisa de se gravar novamente a cantar.

João Filipe

Rating: 1.5 out of 4.

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