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Conhecido como sendo uma das maiores figuras do jazz, principalmente do jazz espiritual, Pharoah Sanders tem um legado impressionante que consta de discos fenomenais como “Karma” (1969) e “Black Unity” (1971). Sendo o seu primeiro álbum passados mais de dez anos, “Promises”, lançado em março de 2021, é uma colaboração de Sanders com o jovem músico Sam Shepherd, mais conhecido por Floating Points. O facto de 40 anos separarem estes dois músicos é, só por si, notável. Mas mais do que isso, é bom ver Sanders envolvido num projeto tão fresco, que, de certo modo, revitalizou a sua longa carreira. Para além dos dois músicos, ainda temos a participação da incontornável London Symphony Orchestra.

O álbum consiste numa única composição com estrutura de nove movimentos e uma duração de cerca de 46 minutos da autoria de Shepherd, que toma conta de uma quantidade impensável de instrumentos. O tema central, cujas notas são tocadas em uníssono por sintetizador, piano e cravo, é repetido durante toda a peça do início ao fim, incorporando algumas variações com o decorrer do tempo. Pouco depois, o saxofone tenor de Sanders preenche a tela com passagens atmosféricas que elevam o efeito onírico.

É de louvar a forma tão precisa com que Sanders toca, pois nada é tocado ao acaso como uma improvisação feita em cima do joelho, funcionando o saxofone como um pincel que pinta de forma perfeita a visão do artista. No quarto movimento, Sanders pousa temporariamente o seu instrumento e usa a sua voz para vocalizar passagens sem palavras.

Os músicos Pharoah Sanders e Sam Shepherd

Os arranjos de cordas, executados pela London Symphony Orchestra pela mão do maestro Sally Herbert, surgem nesta tela instrumental entre Shepherd e Sanders como um cenário de fundo, mas sem nunca cair no ignorável. As cordas vão emergindo em dominantes crescendos até atingirem o seu clímax no sexto movimento. O tema principal finalmente se desvanece durante o oitavo movimento, entrando num mundo psicadélico por altura do nono e último movimento.

Em suma, “Promises” é uma obra-prima que une dois músicos de gerações distintas. Com nuances do clássico, jazz e eletrónica, o disco é essencialmente ambiental, com qualidades abstratas e minimalistas. Uma autêntica celebração da justaposição de som e silêncio com uma sofisticada musicalidade que faz transcender cada audição como uma viagem pelos arquétipos do inconsciente, como diria Carl Jung. Com isto dito,” Promises” é, para mim, o álbum do ano.

João Filipe

Rating: 4 out of 4.

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