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O último jogo criado pela Team Silent é uma lufada de ar fresco na série, apesar de inicialmente se idealizar uma entrada independente da série. Contudo, este marca o fim da era de ouro de um dos mais marcantes franchises da indústria. Esta equipa seria finalizada em 2005 pela própria Konami após a conclusão deste jogo, pois a empresa queria produtores ocidentais a trabalhar na série. A decisão tornar-se-ia numa péssima mudança de direção. Todos os jogos posteriores a “Silent Hill 4: The Room”, lançado em 2004, não foram tão bem recebidos pela crítica nem pelos próprios fãs.

Embora o cenário do jogo não se passe na cidade homónima com o seu mítico nevoeiro, a verdade é que toda a assustadora atmosfera se mantém e em nada condiciona a sua qualidade. O jogo passa-se essencialmente dentro do apartamento de Henry Townshend, o nosso protagonista, e num mundo surreal que é acedido por uma misteriosa passagem na casa-de-banho. Uma característica semelhante ao exemplo de literatura ergódica “House of Leaves“, de Mark Z. Danielewski, cuja casa por fora é mais pequena do que por dentro.

A narrativa abre com Henry preso no seu próprio apartamento, sem qualquer tipo de comunicação. Ao investigar pelas divisões, isto na perspetiva em primeira pessoa, algo de sobrenatural se esconde por entre as paredes. Harry encontra uma estranha passagem, quase como um túnel, na casa de banho, e ao entrar depara-se com um submundo bizarro (aqui, o jogo muda para a perspetiva em terceira pessoa).

“Silent Hill 4: The Room”

Henry acorda numa estação de metro abandonada, onde conhece Cynthia Velasquez, uma mulher convencida de que está dentro de um sonho e que logo é morta por um homem desconhecido. Ao acordar no seu apartamento, Henry ouve a confirmação no seu rádio de que ela está realmente morta no mundo real. Estes eventos repetem-se com as próximas personagens que Henry encontra. Todas as mortes têm semelhanças com o modus operandi do assassino Walter Sullivan, o antagonista do jogo.

Ao coscuvilhar diversos papéis, Henry encontra fragmentos de alguns diários pertencentes ao jornalista Joseph Schreiber, um ex-residente do apartamento de Henry que estava a investigar a onda de assassinatos de Walter. Henry descobre que Walter é um órfão que foi levado a acreditar que a sua mãe biológica estava no apartamento de Henry, onde foi encontrado após o nascimento. Para purificar o apartamento, Walter intenciona realizar um macabro ritual, que requer vinte e um assassinatos a serem cometidos.

Enquanto este último se prepara para matar a sua vigésima vítima, Eileen Galvin, vizinha de Henry, o mesmo é impedido. Eileen concorda em se juntar a Henry na localização que Joseph indicara nos seus diários. Ao mesmo tempo, as ocorrências sobrenaturais começam a manifestar-se no apartamento de Henry. Finalmente, os dois encontram o fantasma de Joseph, que lhes diz que a única maneira de escapar é matar Walter, revelando ainda que Henry é a pretendida vigésima primeira vítima. Como habitual, existem vários cenários possíveis no final.

O gameplay é semelhante aos jogos antecessores, contudo algumas mecânicas são diferentes (por exemplo, não há rádio nem lanterna). Achei curioso a forma como o sentimento de isolamento é provocado no apartamento. Como não há forma alguma de comunicação, o jogador acaba por procurar maneira de conseguir ver outras pessoas. Na porta principal do apartamento, é possível assistir às conversas dos vizinhos que passam. É incrível como este cenário reforça o sentimento de aprisionamento, principalmente porque assiste a algo que não consegue intervir.

“Silent Hill 4: The Room”

No que toca aos monstros que se encontram no ‘outro mundo’, estes são verdadeiramente assustadores. Ao contrário das entradas anteriores, não há nenhum simbolismo nas criaturas, o que torna o jogo um pouco straight forward. No entanto, um dos momentos mais perturbadores ocorre no apartamento. As manifestações sobrenaturais que acontecem em certos momentos na sala de estar elevam o medo e a tensão a patamares desconcertantes.

Desta vez, a banda sonora é talvez a mais sombria. Akira Yamaoka, que também produziu, coloca todo o seu esforço nas possibilidades do trip hop e nas texturas mais subtis. O menu inicial do jogo abre ao som de uma guitarra flamenco bizarra, o que nos dá uma ideia geral do que vamos encontrar. Uma diferença notável em relação aos outros jogos da série é que este “Silent Hill 4: The Room” apresenta faixas com mais ritmo e batida, dando uma sensação mais de trance. A guitarra elétrica e a bateria são os instrumentos proeminentes.

Em suma, “Silent Hill 4: The Room” é uma pérola que acabou por ser encarada como a ovelha negra, pois foge à fórmula e cenário comuns na série. Se o jogo for visto como uma entrada única, é, na verdade, bastante bom. Pode não ter todo o simbolismo ou narrativa imersiva dos jogos anteriores (realmente perde qualidades pela sua estrutura cíclica), mas é tão (ou mais) assustador e contém, mesmo assim, pontos fortes que fazem deste jogo algo que os fãs deveriam reconsiderar e ver com outros olhos.

Talvez no próximo Halloween faça os restantes quatro jogos da série Silent Hill. Fica a dica!

Disponível em: PlayStation 2, Xbox, Microsoft Windows

João Filipe

Rating: 3 out of 4.

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