“Cry Macho” (2021) conta a história de Mike (Clint Eastwood), um já reformado criador de cavalos que, em 1979, aceita um trabalho de um antigo patrão para trazer o seu filho, Rafo (Eduardo Minett) que vive no México, para casa. Forçados a fazer o caminho para o Texas por estradas secundárias, este duo improvável enfrenta uma viagem inesperada e desafiadora, durante a qual Mike descobre ligações inesperadas assim como o seu caminho para a redenção. O filme é escrito por Nick Schenk, cujo argumento é baseado na obra homónima de Richard Nash, editada em 1975, e é realizado por Clint Eastwood.
“Cry Macho” é uma história de superação, uma história que movimenta todo o tipo de sentimentos mais profundos no ser humano, convidando o mesmo a abraçar cinematograficamente este processo de reinvenção. O nosso protagonista é um personagem amplamente marcado por um passado dramático e, portanto, com uma visão muito prática da realidade, mas algo distante, por vezes fria e quase sempre pouco expressiva, guardando praticamente todas as suas mágoas para dentro de si. No entanto, através desta missão que lhe é incumbida, como favor e retribuição para com o pai do miúdo, alguém que lhe estendeu a mão no momento mais trágico da sua vida, ele consegue abrir-se e desenvolver uma relação com este rapaz verdadeiramente inolvidável.

A forma como eles se vão conectando, com Rafo a guardar dentro de si bastantes problemas de confiança e com uma mãe que não lhe consegue dar o amor que ele necessita, é algo muito bonito de se ver, e de constatar o quão rico em subtexto a realização de Clint Eastwood consegue ser. Além disso, os diálogos são bastante profundos, mesmo não sendo extraordinariamente elaborados, dando uma enorme força e vivacidade à mensagem chave desta obra. Importa realçar ainda que Macho é o nome do galo de estimação de Garfo, um animal que era usado por ele em lutas e que vencia com bastante regularidade, tendo este nome por ser, precisamente, um símbolo de força e superação.
Num primeiro momento, Rafo decide embarcar nesta viagem porque acredita que o pai, até então bastante ausente na sua vida, o queria de volta e que tinha mudado. O próprio Mike também acredita nisso quando aceita este “trabalho”, como retribuição para com o pai de Rafo, Howard (Dwight Yoakam), que o ajudou numa altura bastante complicada da sua vida, após perder a esposa e o filho num acidente de viação. Mas, a verdade é que Mike e Rafo acabam por desenvolver uma relação muito especial, conhecendo novos lugares e, acima de tudo, fugindo aos capangas da mãe de Rafo, Leta (Fernanda Urrejola), que não se conforma ao ver o seu filho partir.
Este filme, além de explorar uma amizade improvável, demonstra também que as coisas mais importantes da nossa vida estão, de facto, nas coisas mais simples e que temos de estar atentos e predispostos a elas para as conseguirmos encontrar e apreciar. Além disso, a obra imortaliza também a ideia de que o amor, na sua forma mais pura, autêntica e genuína, pode nascer – e ainda bem – em qualquer lugar, a qualquer altura; basta estarmos abertos a isso. Nesse sentido, emocionalmente falando, “Cry Macho” é fortíssimo, do início ao fim, levando o espectador a tocar pedaços intrínsecos de si e a fazer sobressair cá para fora lágrimas sinceras de emoção, em momentos realmente inesquecíveis desse ponto de vista da narrativa.

Sobre o título do filme, de facto, a mensagem principal tem que ver com, muitas vezes, a verdadeira bravura não estar em atos de demonstração física, mas sim humana, em estar disponível para seguir com as suas promessas e compromissos e sempre em busca de nos superarmos a cada momento, com respeito, espírito crítico, tranquilidade e maturidade emocional. Além disso, põe a descoberto a mensagem de que acima de qualquer coisa na nossa vida deve estar a nossa palavra, tal como demonstrou Mike, do início ao fim da sua jornada.
Assim, “Cry Macho”, em português “Cry Macho – A Redenção“, demostra que não é preciso um plot muito elaborado para fazer a sétima arte brilhar mais alto: através de uma mensagem coesa, alicerçada numa trilha sonora envolvente e numa fotografia que embeleza, ainda mais, o subtexto maravilhoso deste filme verdadeiramente elucidativo do início ao fim. Este permite-nos uma viagem emotiva e de superação, numa história sobre sentir-se perdido e reencontrar-se, imortalizando a ideia de que, efetivamente, o amor não tem fronteiras.
Por um cinema feliz.
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