viva o rock brasileiro #7
Lado A
Revoluções por Minuto
Alvorada Voraz
A cruz e a espada
Naja (instrumental)
Olhar 43
Lado B
Estação no inferno
London London
Flores astrais
Rádio Pirata
O ano é 1986 e o estrondoso sucesso nas tabelas, a banda de rock por excelência do Brasil é os RPM (corruptela de Revoluções por Minuto). Esta é formada por Paulo Ricardo (voz e baixo), Fernando Deluqui (guitarra), Luiz Schiavon (teclados) e P. A. Pagni (bateria). Uma das bandas meteóricas da segunda metade daquela década a percorrer uma extensa tournée, aparecer em programas de televisão (das poucas opções que tínhamos) e solapar as rádios de todo o país. Paulo Ricardo era tido como um sex symbol e as meninas ficavam atiçadas com o galã roqueiro.
Contudo, a efemeridade desta banda no seu ápice, coisa de quatro anos, pode não revelar os verdadeiros talentos e este disco que vendeu mais de dois milhões de cópias (algumas fontes falam em três) era merecedora. As letras intelectuais e os arranjos sofisticados com a levada do teclado originava um som mais pop, mas o conjunto era harmonioso como um todo. O hit rebolante e adolescente é a fantástica Olhar 43 e vai assim:
“Seu corpo é fruto proibido
É a chave de todo pecado e da libido
E pra um garoto introvertido como eu
É a pura perdição
É um lago negro o seu olhar
É água turva de beber, se envenenar
Nas suas curvas derrapar, sair da estrada
E morrer no mar, no mar
É perigoso o seu sorriso
É um sorriso, assim, jocoso, impreciso
Diria misterioso, indecifrável
Riso de mulher
Não sei se é caça ou caçadora
Se é Diana ou Afrodite ou se é Brigitte
Stephanie de Mónaco, aqui estou
Inteiro ao seu dispor (princesa)
Princesa
Pobre de mim
Invento rimas assim pra você
E um outro vem em cima
E você nem pra me escutar
Pois acabou, não vou rimar coisa nenhuma
Agora vai como sair
Que eu já não quero nem saber
Se vai caber ou vão me censurar (será?)
E pra você eu deixo apenas
Meu olhar 43
Aquele assim, meio de lado
Já saindo, indo embora
Louco por vocês (pequena)
Que desperdício
(Tesão)“

Se se concentraram, ouviram em alto e bom som e não se manifestaram, sinto muito escrever: você não é humano. London London é a baladinha cantada em inglês e que quebra o ritmo do agito numa levada de teclados, mais a voz aveludada do seu vocalista. Miúdo ainda, só conseguia entender a palavra London e percebia que a canção se tornava real. Simplesmente linda! Um álbum incrível com letras viscerais tal como Alvorada Voraz e vai assim:
“Na virada do século
Alvorada voraz
Nos aguardam exércitos
Que nos guardam da paz
Que paz?
A face do mal
Um grito de horror
Um facto normal
Um êxtase de dor
E medo de tudo
Medo do nada
Medo da vida
Assim engatilhada
Fardas
E força
Forjam
As armações
Farsas e jogos
Armas de fogo
Um corte exposto
Em seu rosto, amor
E eu nesse mundo assim
Vendo esse filme passar
Assistindo ao fim
Vendo o meu tempo passar
Apocalipticamente
Como num clipe de ação
Um click seco, um revólver
Aponta em meu coração
O caso Morel, o crime da mala
Coroa-brastel, o escândalo das joias
E o contrabando
Um bando de gente importante envolvida
E juram que não
Corrompem ninguém
Agem assim
Pro seu próprio bem
São tão legais
Foras da lei
Pensam que sabem de tudo
O que eu não sei
Eu sei!
Nesse mundo assim
Vendo esse filme passar
Assistindo ao fim
Vendo o meu tempo passar (hey!)“

São músicas extraordinárias e que justificam todo o sucesso, num repertório enxuto e muito bem selecionado. Como se esta obra fosse para ser um marco (e foi), no panteão dos melhores discos do género no país. Destaque ainda para as faixas Flores astrais e a pujante Rádio Pirata.
RPM são as iniciais do meu nome ao contrário. Singelo, não?
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