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“The Nightmare Before Christmas” (1993) – em português, “O Estranho Mundo de Jack” – conta a história de Jack Skellington (Danny Elfman e Chris Sarandon), “o Rei das Abóboras”, que, certo ano, se cansa de fazer o Dia das Bruxas e deixa, com um vazio enorme, os limites da cidade. Por mero acaso, acaba por atravessar o portal do Natal, onde se depara com a alegria do espírito natalício. Ao retornar à Cidade do Halloween, sem ter compreendido concretamente o que viu, ele tenta convencer os cidadãos a fazerem o seu próprio Natal, contrariando a tristeza e o lado sombrio do Halloween. Este filme de animação é realizado por Henry Selick e escrito por Tim Burton, Michael McDowell e Caroline Thompson.

A longa-metragem tem uma marca simbólica extremamente forte e universal para todo o tipo de inquietações com as quais o ser humano se depara ao longo da vida. Jack, a atração principal do Halloween, a dado momento começa a perceber que a rotina de todos os anos já não o preenche como antigamente, não se identificando mais com a essência sombria deste feriado, numa angústia imensa por uma novidade na sua vida. Desta forma, Jack é o único elemento a sentir-se a mais neste mundo, a par de Sally (Catherine O’Hara), a personagem secundária de maior importância para a narrativa.

Jack Skellington (Danny Elfman e Chris Sarandon)

Ao entrar, por acidente, no universo do Natal, Jack depara-se com coisas que nunca viu, nomeadamente, a felicidade e a alegria a transbordar pela população, num espírito em tudo antagónico ao Halloween que costuma realizar. Este percebe, portanto, que a sua verdadeira essência se identifica com a índole do Natal, uma celebração feliz, em união, em paz, harmonia e repleta de partilha. Assim sendo, regressa à sua cidade e fica entusiasmado por tentar organizar um Natal aos olhos daquilo que pôde retirar simbolicamente da sua experiência na nova cidade.

Sendo um musical, “The Nightmare Before Christmas” tem uma dinâmica muito própria, um ritmo emblemático e extremamente belo, contando com músicas extremamente bem escritas, envolventes, apaixonantes, servindo, muitas vezes, de monólogos interiores de Jack e, portanto, servem como complemento ao rico subtexto que cria. Em matéria de ambiente, funciona na forma como consegue transportar o espectador para a história através das imagens e pelo carácter sui generis de todo o argumento, imortalizado num universo extremamente dark, sombrio e assustador. O equilíbrio temático é conseguido, precisamente, através da sensibilidade de Jack, que mesmo tendo um papel frio e distante no Halloween, a verdade é que carrega consigo uma emotividade brilhante.

O que este filme nos ensina, de facto, é que nunca é tarde para darmos um novo rumo à nossa vida e para modificarmos – ou tentarmos modificar, aos poucos – aquilo que já não está a funcionar connosco, e isto serve não só de símbolo para a nossa jornada individual, mas também para as relações que estabelecemos com os outros. E mesmo com toda a gente à sua volta a não sentir o mesmo, nem a conseguir compreender o sentimento de desencontro que Jack carrega consigo, ele é capaz de aceitar isso para si mesmo e lutar por um novo rumo.

Por seu turno, Sally, escrava do seu criador e totalmente subserviente, começa a perceber que Jack tem a mesma inquietação e aproxima-se dele, no sentido de procurar uma solução. É aqui que o filme começa a explorar um certo território romântico à sua história – e muito bem.

Sally (Catherine O’Hara) e Jack (Danny Elfman e Chris Sarandon)

A verdade é que a boa intenção com que Jack quis fazer o seu próprio Natal, adaptado à cidade de Halloween, trouxe consequências nefastas para o mundo, uma vez que o seu objetivo seria substituir o verdadeiro Pai Natal. Para isso, rapta-o e o caos instala-se pelas restantes populações.

A mensagem que se retira daqui é que, por vezes, para recuperarmos verdadeiramente a nossa essência, não precisamos de virar totalmente as costas ao nosso passado e à nossa rotina; por vezes, a solução está em tentarmos todos os dias com que aquilo que fazemos seja o mais identificado com aquilo que realmente somos, sem necessitarmos de ser radicais. Por melhores que sejam as nossas intenções, nem sempre as coisas correm bem aos olhos dos outros.

Neste sentido, “The Nightmare Before Christmas” afigura-se como um filme fantástico, repleto de emoção, mensagem, paixão e obstinação, na medida em que nos ensina a seguir os nossos sonhos, mas sempre respeitando a nossa essência e sempre com um olhar respeitoso para com o nosso passado e para quem está à nossa volta. Por vezes, as coisas realmente importantes, e que fazem a diferença dentro de nós, estão nos mais pequenos e belos detalhes.

Por um cinema feliz.

Tiago Ferreira

Rating: 4 out of 4.

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One thought on ““The Nightmare Before Christmas”: Um pesadelo etéreo

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