Desde tempos imemoriais um ser maligno caminha sobre a terra através da noite. Um ser de porte elegante, educação refinada, inteligente, mas que demonstra no seu olhar uma maldade infinita. Ele não pertence mais ao mundo dos vivos, e a despeito disso também não adentra o dos mortos. Atravessa os séculos alimentando-se de seres de sangue quente; a sua força e habilidades especiais são conhecidas e temidas por onde passa. Uns dizem tratar-se de um vampiro, outros o tomam pelo próprio diabo.
Neste livro, somos apresentados a um dos representantes dessas criaturas, o conde Drácula. No ponto em que a história começa, acompanhamos Jonathan Harker até uma região próxima da Transilvânia, uma terra ainda pouco conhecida pelo mundo, envolta em mistérios e superstições. Está a caminho do castelo do conde, levando documentos da compra de uma casa na Inglaterra para que o mesmo assine. Logo Harker descobre que o seu cliente não é um homem comum. Quando Drácula chega à Inglaterra e começa a espalhar o terror, um grupo de pessoas se une numa corrida contra o tempo para o impedir de deixar o seu rastro de sangue e criaturas nefastas que ameaçam toda a humanidade.
A figura do vampiro existe em muitos folclores, mas foi no livro de John Polidori, publicado em 1819 chamado “O Vampiro“, que o personagem ganhou ares sedutores na forma de um cavalheiro, dono de uma sensualidade irresistível, que nos hipnotiza e atrai com a promessa de grande volúpia. O personagem representaria então aquilo que as pessoas desejam. Tem um corpo escultural, é belo, possui riquezas, vida eterna, atrai olhares por onde passa. Então se cedemos e aceitamos o “beijo” do vampiro, tornamo-nos seu igual marcados por toda a eternidade. E o que melhor para impedir que esse mal, tão abominado pelas pessoas de bem, do que símbolos religiosos?! Símbolos de pureza, castidade e penitência.

Outra interpretação possível, seria o preconceito com povos de lugares distantes e pouco conhecidos pelos ingleses; o medo de que imigrantes pudessem entrar no seu território e porventura prejudicar o seu domínio vigente. Daí a criatura maligna vinda de terras distantes e desconhecidas, sedenta de poder, pronta a espalhar a sua semente por onde quer que passe. Na época da sua publicação, 1897, Drácula trouxe assuntos que eram um grande tabu na sociedade; e como no fundo as pessoas não mudaram assim tanto, o romance continua um sucesso, mexendo com o imaginário popular até aos dias de hoje.
Demorei muito para finalmente ler o livro na íntegra e esperava um pouco mais dele, talvez influenciada pelo que já conhecia por alto em tantas adaptações. Achei a conclusão rápida e fácil demais para uma ameaça tão grande, como é considerada por todos os personagens. Apesar disso, o autor consegue dar um tom de suspense à trama, prendendo a curiosidade do leitor até o fim. O facto de o romance ser escrito através de diários, cartas e recortes de jornais que contam a história de pontos de vista distintos, torna tudo mais interessante.
Com a publicação de “Drácula”, o imaginário popular sobre vampiros concentrou-se no modelo criado por Bram Stoker, servindo como base até hoje para inúmeras adaptações para o cinema, séries de televisão, livros, quadrinhos, animações, etc. Entre tantas, duas das mais famosas e que se aproximam mais da história original são: “Nosferatu” (1922), por F.W. Murnau e “Drácula de Bram Stoker” (1992), por Francis Ford Coppola. Não assisti a nenhuma das duas produções ainda, mas pretendo corrigir isso em breve.
Recomendo a vocês todos a leitura de mais este clássico! Assim como ocorreu com “O Médico e o Monstro” (1886) e “Frankenstein” (1818), foi muito interessante conhecer a obra original. Desta vez, a experiência literária foi através do audiolivro. Gostei bastante, mas ao início, quem está mais acostumado a ler pode ficar um pouco perdido. É uma boa opção para quem não gosta muito de ler, conhecer obras literárias. Agora não tem desculpa! Boas leituras! Boas audições!
Este artigo foi originalmente publicado na Revista Conhece-te, no âmbito da parceria com OBarrete. Este texto foi também publicado em formato físico na edição 242 da Revista
Se queres que OBarrete continue ao mais alto nível e evolua para algo ainda maior, é a tua vez de poder participar com o pouco que seja. Clica aqui e junta-te à família!