“The Night Of” (2016) conta a história de Nasir ‘Naz’ Khan (Riz Ahmed), que numa noite em que decide roubar o táxi do seu pai, acaba a por se envolver romanticamente com uma desconhecida, Andrea Cornish (Sofia Black-D’Elia). Na manhã seguinte, Naz, após ter acordado na cozinha, encontra Andrea esfaqueada até à morte. Como é de esperar, o rapaz é acusado de homicídio e mantido preso até julgamento. Nesse interlúdio, surge John Stone (John Turturro), um modesto advogado, que se depara com Naz e vê nele uma humanidade muito rara para um criminoso. Oferece-se, portanto, para construir a sua defesa e repor a verdade.
Esta minissérie de oito episódios, criada por Richard Price e Steven Zaillian, tem um tom narrativo muito característico e brilhantemente subtil; investe muito no subtexto, naquilo que é transmitido sem palavras, algo verdadeiramente especial que eleva esta produção a outro nível cinematográfico, sobretudo pelo seu cariz de thriller e suspense mais apreciável. Mas, esta série é muito mais do que isso: além de aprofundar temáticas muito pertinentes, como o de muitas vezes a justiça ser cruel, circunstancial e demasiado fechada a contextos, mas também como a vida de um jovem muda radicalmente – e a da sua família –, quando este se deixa levar pela emoção do momento, não pensando nas consequências.
Andrea é uma rapariga com um charme muito especial, o que leva Naz a ficar muito interessado num envolvimento romântico. Numa noite em que até tinha intenções de ir até a uma festa com amigos, a sua boleia cancela à última da hora. Numa decisão impulsiva, decide pegar no táxi do seu pai e seguir viagem. Acaba por se perder, e é aí que Andrea surge. Andrea que se revela bastante alternativa, sugerindo atividades mais “recreativas”, algo que Naz não estava muito habituado a explorar. Aqui temos o aprofundamento da ideia de que é preciso escolher muito bem com quem nos envolvemos, pois as pessoas podem levar-nos ao nosso abismo, ainda que com sentimentos à mistura.
Outra personagem muito importante nesta história toda é o inspetor principal, Dennis Box (Bill Camp), que prestes a imortalizar a sua reforma, tem neste caso bastante mediático a sua chance de fechar em beleza a sua carreira. Contudo, a verdade é que Dennis vai sempre tendo bastantes dúvidas quanto à culpabilidade de Naz, reconhecendo nele a mesma essência que o advogado John outrora identificou. Com isto, enaltece-se a importância de, nestes casos, haver uma procura mais concreta pela dita “dúvida razoável”, sobretudo em matéria de provas circunstanciais.
Naz enfrenta dentro da prisão um contexto verdadeiramente aterrador, onde os jogos de poder têm uma importância chave para sobreviver. Neste sentido, conseguires rodear-te das pessoas certas é fundamental para conseguir cumprir a pena, porque, como se pode prever, o ambiente numa prisão é de tal forma degradante que, se não te reinventares, a tua verdadeira sentença será fora do julgamento.
Por outro lado, a importância do advogado John na a narrativa é deveras especial e brilhante. Com a sua forma pouco tradicional de resolver os problemas, aos olhos exteriores soa a um profissional oportunista e desleixado. Mas a verdade é que John acredita profundamente em Naz e é isso que o faz lutar pela sua liberdade até ao fim. Aqui deixa-se também uma mensagem muito importante: por vezes o elemento-chave para uma boa defesa é acreditarem genuinamente em nós.
Do ponto de vista mais técnico, esta produção não tem falhas que se destaquem, algo profundamente real de acordo com a sua cinematografia requintada e ponderada, além de uma interpretação global bastante prolífica por parte dos intervenientes, sobretudo Riz Ahmed, um dos atores mais promissores do nosso tempo. Algo que se juntarmos a um argumento que, do início ao fim, tem uma coesão bastante diferenciadora, faz de “The Night Of” uma das melhores minisséries de sempre.
O título desta obra faz como que uma metáfora sobre o que, de facto, se passou naquela noite, algo que o protagonista não consegue recordar, mas que, paradoxalmente, nós espectadores, nesta jornada pela interioridade de Naz, dificilmente nos esqueceremos da magia dramática de “The Night Of”.
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