Podem ler o primeiro capítulo do livro “A Máquina da Verdade” aqui!
A primeira fotografia
O telefone tocou, e a mulher que limpava um sofá atendeu.
— Alô, dona Carmem? É o Gabriel. A Sandrinha tá aí?
— Tá sim, Gabriel. Eu vou chamar…
A viúva de meia-idade era a empregada da casa. Ela deixou a limpeza de lado e foi até o quarto da menina. Anunciou que o menino estava ao telefone e Sandra correu para atender.
— Oi, Biel! Que bom que você ligou…
— Sandrinha, adivinha quem vai ser a primeira pessoa que eu vou fotografar com a minha câmara nova: você, é claro!
Um sorriso tímido se abriu no rosto da menina. O garoto havia prometido que ela seria a primeira pessoa a ser fotografada com sua máquina nova.
— Por que você não leva ela pra escola, Biel? Vai ser legal tirar foto com a turma. Você já sabe como mexer nesse “bicho”?
— Passei a noite sem dormir pra descobrir. Eu vou levá-la na escola, mas quero estreá-la com você.
À tarde, na hora do recreio, as crianças da Escola Estadual Geraldo Bittencourt se amontoaram em volta de Gabriel e sua câmara fotográfica. “Eu vi na internet que ela custa o mesmo que um carro novo”, revelava um. “Agora o Gabriel vai esquecer a Sandrinha de vez”, profetizava outro. Todos pediam ao fotógrafo mirim para tirar uma foto e faziam pose. A confusão só foi aumentando, e a diretora da escola, dona Suzana Elvirela, teve que intervir para controlar os alunos.
— Tira uma foto minha também, Biel — pediu Cadu, com um tom de cobrança na voz.
Gabriel apontou a máquina para o menino. Era o seu melhor amigo, mas acabara esquecendo-o devido àquela algazarra toda. Quando ia disparar a câmara, o irmão de Cadu entrou na frente da máquina para provocá-lo como sempre costumava fazer.
— Espera, Biel! — exclamou o menino de olhos claros e cabelos lisos, magro como ele só. — Deixa o Cadu pentear o cabelo primeiro, senão vai estragar a foto.
Todos caíram na gargalhada. Kelvin, apesar de ser o irmão mais novo de Cadu, não perdia uma oportunidade de ridicularizá-lo por causa de seus cabelos sempre desgrenhados que realçavam ainda mais seus olhos.
— Se você não sair da frente agora, vou quebrar seu videogame, Kelvin!
Cadu sabia que o irmão adorava o brinquedo, e mesmo com a ameaça, iniciou uma perseguição ao seu irmão, que acabou sendo salvo pela sirene do recreio e pelo professor Vítor, que aparecera para ajudar o zelador a recolher as crianças de volta às salas de aula. Vítor era o professor mais querido pelos alunos, e a diretora sabia usar essa vantagem quando perdia o controle da criançada.
— Carlos Eduardo, depois da aula o Gabriel vai continuar a tirar sua foto. Agora é hora de ir para a sala de aula.
O pequeno fotógrafo assentiu e voltou para a sua sala. Cadu foi atrás e Sandrinha também. O professor, apesar de sua aparência jovem, já tinha muita experiência e sabia como lidar com aqueles meninos. Achava um pouco fora do normal uma criança de apenas doze anos, como era o caso de Gabriel, ter um hobby tão diferente do das outras crianças da mesma idade.
Como no dia anterior, Gabriel contava no relógio os minutos para a sirene tocar anunciando o fim de mais um dia de aula. Queria chegar logo em casa para descobrir os outros segredos de sua máquina. Contudo, seus planos de passar o resto do dia namorando sua câmara fotográfica foram por água abaixo quando Sandrinha lembrou-lhe de que tinham um trabalho de ciências para entregar no dia seguinte.
— Por que a gente não pode fazer isso amanhã cedo, Sandrinha? A aula e só à tarde.
— Eu tenho que ir ao médico amanhã de manhã, Biel. E você sabe muito bem como é difícil acordar o Cadu de manhã. A gente só tem hoje à tarde pra fazer o trabalho.
Gabriel concordou, relutante, com a namorada e disse que só iria passar em casa para guardar sua máquina. Teria que deixar sua diversão para o outro dia.
Wandson DeSilva
“A Máquina da Verdade” é um romance lançado em 2020, sendo o 1.º livro do escritor brasileiro Wandson DeSilva enquanto profissional da escrita. A história é repleta de aventura, suspense e mistério, tendo já conquistado inúmeros leitores. O livro foi lançado na cidade de Bela Horizonte e já atravessou o atlântico, tendo chegando a Portugal.
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