Num período onde os jogos de tiro em primeira pessoa (First Person Shooters ou FPSs) tendem a ser relativamente parecidos (muitas vezes só se distinguindo na vertente gráfica ou nas armas utilizadas), “Superhot” reinventou o género fazendo uso de uma simples gimmick à volta da qual todo o jogo é construído. Esta engenhoca, apresentada em letras gigantescas logo no primeiro nível do jogo e, portanto, impossível de passar ao lado, é a seguinte: “o tempo só se move quando te moves”. Quer isto dizer que estando o jogador parado, o jogo praticamente ‘congela’, mas basta dar um passo e o tempo regressa ao seu fluxo normal, com todos os perigos que isso acarreta.
Embora se esteja aqui a defender “Superhot” como um jogo inovador, o seu lançamento já completou cinco anos. Desenvolvido e distribuído pela Superhot Team, o jogo foi feito em primeiro lugar para PC em 2016, com sucessivos lançamentos para consola nos anos seguintes. Desde 2016, “Superhot” tem recebido novo conteúdo e melhoramentos, onde se inclui o lançamento da versão em Realidade Virtual, bem como da expansão “Superhot: Mind Control Delete“, lançada em meados de 2020.

Em “Superhot”, a capacidade para ‘parar o tempo’ permite aos jogadores ter tempo para pensarem no que irão fazer a seguir, bem como para se desviarem de balas inimigas. Existindo esta habilidade, é possível criar cenários como um dos níveis em que o jogador está desarmado contra três inimigos armados dentro de um elevador. O resultado é um conjunto de sequências enérgicas de ação, possíveis de serem vistas pelas repetições em tempo real no final de cada nível.
Possivelmente, uma das primeiras impressões dos gamers que estejam a ler este texto poderá ser a de que a gimmick de poder parar o tempo só serve para tornar o jogo mais fácil, dado que o jogador tem praticamente tempo ilimitado para agir. Esta impressão, a existir, não poderia estar mais errada por diversas razões.
Primeiro, contrariando o que foi dito até agora, o tempo não para completamente, mas decresce até um estado quase estático, uma decisão tomada para que o jogador não se acomode. Segundo, todas as armas do jogo têm uma capacidade de munição muito limitada (cerca de três ou quatro balas), havendo a necessidade de volta e meia ter que ir apanhando novas armas. Por último, em todos os níveis existe a regra de one hit kill, ou seja, basta o protagonista ser alvejado uma vez e perde o nível instantaneamente.

Foi já dito que “Superhot” constrói o jogo à volta do seu conceito inovador. Esta afirmação revela-se também no aspeto gráfico do jogo, que se apresenta sob um design minimalista e sem grande detalhe de cores ou texturas. Esta decisão é justificada em várias entrevistas pelos designers do jogo, que pretenderam remover todos os elementos que não comunicavam da melhor maneira a ideia central do jogo, como a necessidade de exploração ou detalhes realistas.
A nível estrutural, o jogo inclui uma série de níveis (cerca de 30) encapsulados numa história à partida simples que vai ganhando um nível meta narrativo. Não é propriamente pela história que “Superhot” se destaca, sobretudo quando se tem em conta que os vários níveis do jogo conseguem ser completados em cerca de três horas. Novos modos são desbloqueados após o término do jogo principal, algo que permite manter o jogador entretido mais algum tempo: os modos desafio (em que o jogador tem que completar os níveis cumprindo certos requisitos) e o modo endless (onde novas vagas de inimigos vão aparecendo até o jogador morrer).
Embora um jogo curto, “Superhot” deixa o argumento vincado de que ainda é possível ser criativo no género dos jogos de tiro e cimenta-se, de longe, como um dos mais inovadores shooters dos últimos anos.
Disponível em: Google Stadia, Linux, MacOs, Nintendo Switch, PS4, Windows, Xbox One
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