“Your Honor” (2020-2021) conta a história de um juiz, Michael Desiato (Bryan Cranston), que vê o seu filho, Adam Desiato (Hunter Doohan), envolvido num acidente de carro que levou à morte de Rocco Baxter (Benjamin Wadsworth), filho de um famoso líder de crime organizado, Jimmy Baxter (Michael Stuhlbarg). Michael, enquanto juiz, vê-se numa situação em que a sua índole profissional e os seus valores se confrontam com a necessidade intrínseca de salvar o seu filho de uma – mais que óbvia – retaliação por parte dos Baxter.
Antes de mais, dizer que a escrita desta minissérie de 10 episódios é verdadeiramente brilhante, conseguindo abranger uma amálgama de géneros que funciona em pleno. Peter Moffat, o criador, adaptou o argumento de uma série israelita, “Kvodo” (2017- ).
A beleza contemplativa desta produção é altamente dignificante, contribuindo para um reportório restrito de séries profundamente intelectuais, coesas, que acompanham os ritmos necessários e que é bastante complexa no aproveitamento que dá às suas personagens. Daqui, extraímos muitas mensagens, desde questões como “se eu estivesse na situação de Michael, faria o mesmo?”; “até onde ias para salvar o teu filho?”; “em situações destas, devemos pôr o coração totalmente de lado e guiarmo-nos por inteiro pela razão?”. Os aspetos filosóficos aqui em causa são deveras dignos, gratificantes e reconfortantes. Aliar isso a uma narrativa com uma fluidez fora do normal traz não só uma experiência cinematograficamente inesquecível, como um motivo narrativo que é objetivamente acertado.

Antes de aprofundar mais a vertente dramática de “Your Honor”, há que deixar uma palavra forte para as suas interpretações. Comecemos por, obviamente, Bryan Cranston, um ator extraordinário, que tem nesta produção quase uma extensão do seu papel em “Breaking Bad” (2008-2013), no sentido em que a sua personagem, no adensar da trama, se vai deteriorando interiormente, em termos de valores e relativamente à estabilidade da pessoa que representa.
Hunter Doohan tem um papel sólido, apesar da sua personagem ter mais valia por aquilo que significa do que propriamente por aquilo que ela é, apesar de isso estar inteiramente coeso para com a sua importância no cerne da história. Para terminar, uma palavra para Michael Stuhlbarg, um ator que recentemente nos tem congratulado com papéis muito difíceis de esquecer, muito por culpa da sua extraordinária versatilidade e pelos seus maneirismos que contribuem para aprofundar a vivacidade da sua personagem.
Do ponto de vista do argumento, de um episódio para o outro, o espaço e a dúvida que são criados, e a forma como se consegue desconstruir essa dúvida sem forçar o tom narrativo-dramático, é uma característica única das grandes séries. Em “Your Honor” as coisas são exatamente como tinham de ser – tirando num pequeno sector, mas já lá vamos. Além do ponto de vista do entretenimento, esta produção consegue ser verdadeiramente prolífica seja no seu tom, mensagem, ou na sua índole introspetiva, fazendo desta série algo deveras imperdível.

Do ponto de vista mais crítico – e este aspeto é o que não me permite dar pontuação máxima a esta produção –, há apenas uma questão que não me deixa totalmente realizado para com esta história e que tem que ver com o seu final.
Se durante os nove episódios anteriores a narrativa estava a seguir o seu rumo, com alguns desvios, mas sempre formando uma melodia interessante, a verdade é que a maneira como “Your Honor” fecha a sua história mostra algumas limitações que as ditas minisséries apresentam na questão de terem de cumprir determinado tempo de ecrã, acabando por se “precipitar”, ainda que o seu ponto final faça todo o sentido; a crítica aqui vai para a forma como se espelha no ecrã o significado do último acontecimento: demasiado rápido, cru e pouco espiritual.
Ainda assim, este pequeno aspeto em nada fere a índole brilhante desta minissérie, que me presenteou com 10 episódios que tão cedo não irei esquecer e que me faz refletir sobre o peso das nossas decisões em toda a nossa vida, e como por vezes proteger quem amamos, contra todos os princípios, é adiar uma (inevitável) catástrofe.
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