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Porque A Arte Somos Nós

Desde o seu começo, “Concrete Genie” dá nas vistas por causa da sua aparente simplicidade. O jogo inicia-se com Ash, um jovem sempre acompanhado pelo seu caderno de rabiscos. Ash vagueia regularmente pela cidade costeira de Denska, onde nasceu, que se encontra deserta e abandonada devido à poluição. Pouco após o início do jogo, um grupo de jovens bullies roubam o caderno do nosso personagem, rasgando todas as páginas, que se espalham pela cidade. A narrativa principal inicia-se quando Ash, em busca das suas páginas perdidas, encontra um pincel mágico, capaz de dar vida às suas criações (a que o jogo atribui o nome de genies).

Fazendo uso do seu novo pincel e dos seus novos companheiros, Ash precisará de restaurar a cidade de Desnka à sua forma antiga, radiante e livre da poluição. A originalidade do jogo mostra-se precisamente na mecânica utilizada para “limpar” a cidade. Enquanto que muitos jogos usariam um sistema de combate relativamente complexo, com vários inimigos ou armas para criar este desafio, “Concrete Genie” requer que o jogador faça pinturas nas paredes da cidade, como forma de a voltar a iluminar (em sentido tanto figurado quanto literal).

“Concrete Genie” permite fazer uso do sensor de movimento do comando da PS4 para pintar as paredes da cidade de Denska

Na prática, o jogo apresenta-se de uma forma simples. A cidade de Denska encontra-se dividida em várias zonas, sendo que, quando Ash consegue cobrir um número suficiente de paredes de uma zona com as suas obras de arte, a zona seguinte é desbloqueada. Estas tarefas não requerem praticamente nenhuma skill por parte do jogador nem apresentam uma dificuldade maior do que a de perceber que paredes ainda faltam pintar (visto que não é avaliada a qualidade da pintura). Contudo, não deixa de ser notório o orgulho com que “Concrete Genie” apresenta na sua jogabilidade este elemento diferenciador.

Em primeiro lugar, a forma como é feita essa interação, através do sensor de movimento do comando DualShock da PlayStation 4, que se estabelece como um dos mais criativos usos deste sistema (que, ainda assim, pode ser substituído pelos controlos analógicos). Em segundo lugar, porque não deixa de ser curioso que, embora pouco seja pedido ao jogador em termos de complexidade, é quase inerente uma vontade de este se expressar artisticamente, criando desenhos bem construídos e com significado.

Em terceiro e último lugar, “Concrete Genie” vai quebrando a rotina que se possa ter estabelecido usando um sistema muito simplificado de stealth (sempre que Ash necessita de escapar aos seus bullies), pequenos quebra-cabeças que dão uso aos genies, além de um satisfatório número de colecionáveis que permitem acrescentar novos elementos às criações do personagem central.

No último ato do jogo, é introduzido um sistema de combate, alinhado a uma alteração de tom na história

Após a última parede da cidade ser pintada, dá-se o maior twist de uma narrativa até então relativamente simples. Quando tudo indicaria que o jogo estava prestes a terminar, é introduzido um último ato que transforma completamente o mesmo. Mais concretamente, esta mudança é feita mudando a finalidade do pincel mágico, com a introdução de mecânicas de combate que são usadas para derrotar a escuridão que se apoderou de Denska, sob a forma de genies maléficos, que Ash terá que derrotar.

Não deixa de ser curiosa esta inesperada alteração de tom já com mais de metade do jogo decorrido, sobretudo quando se tem em conta que o combate é bastante simplificado, contrastando com o dinâmico, complexo e divertido sistema de criação de obras de arte explorado na primeira metade do jogo.

É precisamente nessa segunda metade do jogo que é investida toda a carga emocional da história, onde os bullies são capturados pelo genies maléficos, tendo Ash a missão de salvar os malfeitores, apesar de todas as desavenças que já teve com estes. Após o término da narrativa principal, é permitido que os jogadores continuem a explorar Denska, seja para descobrir pontos da cidade que tenham escapado durante a história, para arrecadar os restantes colecionáveis ou simplesmente para continuar a melhorar os desenhos nos muros e paredes da cidade, que permitem também estender as poucas horas de duração da história principal.

Ironicamente, “Concrete Genie” não é, de todo, uma obra de arte como videojogo. Ainda que a originalidade e as mecânicas de pintura sejam as suas principais forças, o jogo possui várias falhas que dificilmente passam despercebidas, como o pouco desenvolvimento dos elementos secundários, como o combate ou os puzzles. No fim de contas, “Concrete Genie” merece crédito e menção honrosa pelo facto de que não requer quase nada por parte do jogador, mas, ainda assim, este sente-se atraído a jogá-lo e a dar azo à sua criatividade.

Luís Ferreira

Rating: 2.5 out of 4.

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